Capítulo 2 – “O Refúgio na Floresta”

A Floresta Sem Fim

Os galhos altos encobriam o céu, e a luz do sol mal conseguia atravessar o véu das folhas. Lía caminhava havia dias, os pés feridos, o estômago vazio, o corpo miúdo tremendo sob a capa suja que antes fora branca.

Ela segurava a adaga curta que havia levado da fortaleza — presente de ninguém, apenas algo que pegou por instinto. O metal frio era seu único conforto, e o peso dela em sua mão lembrava que ainda estava viva.

Seu rosto estava manchado de terra e cansaço. Os cachos vermelhos estavam embaraçados, a pele antes clara agora marcada pelo tempo, por galhos e pela ausência de cuidado. Seus olhos verdes tinham perdido o brilho, substituído por um olhar de fera acuada, como um animal fugido da caça.

Tudo doía. E, no fundo, ela começava a se perguntar: Será que valeu a pena fugir?

O Encontro

Na tarde do sexto dia, quando o frio já começava a cair entre os troncos, ela ouviu passos. Congelou. Apertou a adaga contra o peito e se encolheu atrás de uma raiz grossa, arfando em silêncio.

— Não tenha medo — disse uma voz grave, mas gentil.

Ela espiou. Um homem de cabelos grisalhos, barba longa e olhos dourados como âmbar estava parado alguns metros adiante, ao lado de uma criança — um menino com pele morena, expressão curiosa e um cajado esculpido nas mãos.

— Eu sou Alman, guardião desta floresta. Aqui, você está segura.

Lía não respondeu. Apenas encarou, olhos arregalados, corpo trêmulo. Ela parecia prestes a correr — ou atacar.

O homem então se ajoelhou e estendeu a mão.

— Não precisa lutar mais, pequena. Nem fugir. Nós cuidaremos de você. Confie.

Algo na voz dele não tinha sombra. Era como o som da chuva quando se está sob abrigo, como o cheiro do pão antes mesmo de vê-lo. E quando o menino sorriu, Lía cedeu — lentamente, abaixou a adaga. Um soluço escapou de sua garganta. E chorou.

A Casa Simples

O abrigo não era uma casa.

Era um barraco feito de tábuas, folhas trançadas, galhos curvos. Mas Lía viu algo ali que nunca vira nem no castelo: calor. Não calor de fogo — mas de presença.

Dentro havia uma cama de folhas secas coberta com tecidos ásperos, potes de barro com sopa quente, e símbolos esculpidos em cada canto: runas antigas, que brilhavam suavemente com a respiração da floresta.

— Aqui a natureza protege quem é puro de coração — disse Alman enquanto lhe servia uma tigela. — E ela te reconheceu.

Lía comeu devagar, como se não acreditasse que podia. Quando deitou naquela cama improvisada, o cheiro de terra e flores secas a envolveu. Pela primeira vez, sentiu-se protegida — não por muros, mas por almas.

Antes de dormir, o menino se aproximou e sussurrou:

— Você tem olhos de quem fugiu da escuridão… Mas também de quem carrega luz.

Ela sorriu, quase imperceptivelmente. Então fechou os olhos, e o sono veio como um abraço esquecido.

...“O Despertar dos Elementos”...

Primeira Luz, Primeira Espada

O sol mal havia nascido quando Alman chamou Lía para fora. Ela ainda sentia os músculos cansados, mas os olhos já brilhavam com algo novo: esperança.

Alman estava ao lado de uma pedra coberta de musgo. Sobre ela, repousava uma espada diferente de tudo que ela já vira: lâmina leve e alongada, tom de cinza suave, e finas runas prateadas que pareciam vivas.

— Esta espada não fere sem motivo — disse Alman, com um tom quase reverente. — Ela responde ao que existe dentro de você.

Lía se aproximou, hesitante. Tocou o cabo com os dedos finos. No instante em que envolveu a empunhadura, sentiu uma onda quente correr pelo braço, pelo peito, até o centro do peito. As runas se acenderam, brilhando em tom prateado.

— Eu… estou sentindo — disse, ofegante. — Como se ela estivesse me ouvindo.

Alman assentiu com um sorriso sereno.

— Porque ela está. Toda magia verdadeira começa com escuta.

---

A Ligação com a Natureza

Nos dias seguintes, Lía treinava diariamente sob a sombra das árvores antigas. Miri — o menino de olhos vivos e sorriso fácil — a acompanhava em silêncio, às vezes rindo quando ela tropeçava ou fazia algo inesperado.

— Vai rir ou ajudar? — perguntou ela certa vez, com as mãos sujas de terra e os cachos vermelhos cobertos de folhas.

— Rir primeiro — respondeu ele com um brilho nos olhos — depois te ensino como não pisar na raiz errada.

Alman ensinava a ela o equilíbrio:

— A natureza não responde à força, mas à presença. Fique quieta, escute, sinta.

Com o tempo, Lía aprendeu a se concentrar. A espada estava cravada no chão, ela fechava os olhos e respirava. Lentamente, começou a perceber:

Água: gotas flutuavam do solo, formando pequenos círculos ao seu redor.

Ar: o vento acariciava seu rosto e girava em espirais ao seu redor.

Terra: raízes se moviam sob seus pés, como se reconhecessem sua energia.

Fogo: as runas da espada tremeluziam como brasas vivas.

Um dia, Miri a observava enquanto ela concentrava o fogo nas pontas da espada.

— Você está mesmo diferente, sabia? — ele disse.

— Diferente como? — ela perguntou, ainda com os olhos fechados.

— Antes parecia que queria desaparecer. Agora… parece que quer existir.

Lía abriu os olhos e sorriu. Pela primeira vez, ela sentia isso.

A Cura

Durante um treino, Lía escorregou e caiu, rasgando o joelho em uma pedra. A dor foi aguda, mas ela não chorou — apenas fechou os olhos e respirou fundo.

Alman ajoelhou-se ao seu lado.

— Sabe o que precisa fazer.

Ela pousou as mãos sobre o corte, a espada repousando ao seu lado. As runas brilharam, e um calor suave irradiou por sua palma. Aos poucos, a pele se fechou. Sem dor. Sem cicatriz.

Ela ofegou.

— Eu… consegui.

Alman olhou para ela com ternura.

— O poder que destrói é simples. Mas o que cura… esse exige alma.

---

As Conversas ao Entardecer

À noite, os três se reuniam em volta do fogo. O cheiro de sopa de raízes e ervas preenchia o ar. Entre uma colherada e outra, falavam do mundo.

— Você sempre morou aqui, Alman? — perguntou Lía.

— Sim. A floresta me escolheu quando perdi tudo.

— E a espada? Como sabia que era minha?

— Porque ela não aceitou ninguém mais desde que chegou. Esperava alguém que ainda tivesse fé na luz, mesmo depois de atravessar a sombra.

Miri riu:

— Tradução: ela é teimosa, assim como você.

Lía sorriu, mas seus olhos brilharam com emoção. Ela não sabia tudo sobre seu passado, mas agora, pelo menos, sabia uma coisa sobre o presente: ela pertencia ali. Mesmo que só por agora, estava em casa.

Capítulos
1 Capítulo 1 – “A Filha da Deusa”
2 Capítulo 2 – “O Refúgio na Floresta”
3 Capítulo 3 "Irmãos de Alma"
4 Capítulo 4 - “Sombras na Floresta”
5 Capítulo 5 - Chamas e Sombras
6 Capítulo 6- Entre Faíscas e Silêncios
7 Capítulo 7 – “A Fúria que Dorme”
8 Capítulo 8 – “O Terceiro Caminho”
9 Capítulo 9– “A Jornada até a Pedra do Véu”
10 Capítulo 10 – “Entre Estrelas e Silêncios”
11 Capítulo 11 – “Laços Queimam Mais Que Fogo”
12 Capítulo 12 – “As Relíquias que Partem”
13 Capítulo 13 – A Chegada à Acadêmia
14 Capítulo 14 – Primeiros Desafios na Academia
15 Capítulo 15 – Vozes nas Sombras
16 Capítulo 16 – Ecos da Tempestade
17 Capítulo 17– Ecos do Sangue Perdido
18 Capítulo 18 – Laços e Tormentas
19 Capítulo 19 – O Peso dos Olhares
20 Capítulo 20– O Limiar Entre o Silêncio e o Grito
21 Capítulo 21 – Ecos nas Sombras
22 Capítulo 22 – O Aluno Sombrio
23 Capítulo 23 – Distância Necessária
24 Capítulo 24 – A Missão dos Quatro: Ecos Silenciosos
25 Capítulo 25– O Retorno à Academia
26 Capítulo 26 – Sob as Luzes do Baile
27 Capítulo 27– Fogo Silencioso
28 Capítulo 28 – Noite Silenciosa, Desejo Gritante
29 Capítulo 29- O caminho de volta
30 Capítulo 30 – A Última Muralha
31 Capítulo 31 – O Contra-Ataque
32 Capítulo 32 – Depois da Tempestade
33 Capítulo 33 – Tensão Silenciosa
34 Capítulo 34– A Força do Instinto
35 Capítulo 35 – O Sangue que Arde
36 Capítulo 36 – Forjando Lendas
37 Capítulo 37 – O Grito da Tempestade
38 Capítulo 38 – Depois da Tempestade, o Silêncio do Coração
39 Capítulo 39 – Silêncios que Falam
40 Capítulo 40 – Prova do Elo e Sombras ao Longe
Capítulos

Atualizado até capítulo 40

1
Capítulo 1 – “A Filha da Deusa”
2
Capítulo 2 – “O Refúgio na Floresta”
3
Capítulo 3 "Irmãos de Alma"
4
Capítulo 4 - “Sombras na Floresta”
5
Capítulo 5 - Chamas e Sombras
6
Capítulo 6- Entre Faíscas e Silêncios
7
Capítulo 7 – “A Fúria que Dorme”
8
Capítulo 8 – “O Terceiro Caminho”
9
Capítulo 9– “A Jornada até a Pedra do Véu”
10
Capítulo 10 – “Entre Estrelas e Silêncios”
11
Capítulo 11 – “Laços Queimam Mais Que Fogo”
12
Capítulo 12 – “As Relíquias que Partem”
13
Capítulo 13 – A Chegada à Acadêmia
14
Capítulo 14 – Primeiros Desafios na Academia
15
Capítulo 15 – Vozes nas Sombras
16
Capítulo 16 – Ecos da Tempestade
17
Capítulo 17– Ecos do Sangue Perdido
18
Capítulo 18 – Laços e Tormentas
19
Capítulo 19 – O Peso dos Olhares
20
Capítulo 20– O Limiar Entre o Silêncio e o Grito
21
Capítulo 21 – Ecos nas Sombras
22
Capítulo 22 – O Aluno Sombrio
23
Capítulo 23 – Distância Necessária
24
Capítulo 24 – A Missão dos Quatro: Ecos Silenciosos
25
Capítulo 25– O Retorno à Academia
26
Capítulo 26 – Sob as Luzes do Baile
27
Capítulo 27– Fogo Silencioso
28
Capítulo 28 – Noite Silenciosa, Desejo Gritante
29
Capítulo 29- O caminho de volta
30
Capítulo 30 – A Última Muralha
31
Capítulo 31 – O Contra-Ataque
32
Capítulo 32 – Depois da Tempestade
33
Capítulo 33 – Tensão Silenciosa
34
Capítulo 34– A Força do Instinto
35
Capítulo 35 – O Sangue que Arde
36
Capítulo 36 – Forjando Lendas
37
Capítulo 37 – O Grito da Tempestade
38
Capítulo 38 – Depois da Tempestade, o Silêncio do Coração
39
Capítulo 39 – Silêncios que Falam
40
Capítulo 40 – Prova do Elo e Sombras ao Longe

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