“Adrien”
Eu vinha chegando da escola e já escutava meu pai e meu irmão brigando.
Desde que me conheço por gente, eles brigam.
Ou é porque meu pai me acusa pela morte da minha mãe. Ou é porque eles não se entendem devido ao trabalho, eu fico sempre no meio da guerra dos dois.
Meu irmão não é agressivo, sempre acaba abaixando a cabeça e acatando o que meu pai fala.
Na infância, quando comecei a entender o que se passava e para não ver meu irmão sendo agredido por minha causa, entrava na frente e abraçava meu irmão e meu pai parava, mas hoje ele está gritando também, deve ter acontecido algo muito sério.
Entrei na sala e Joshua está com uma mala, para onde será que ele vai?
Meu pai está falando e está muito nervoso.
— Joshua, pare de ser infantil, nem parece que já é um adulto. Suba e guarde essa mala.
— O senhor vai aceitar minha mulher? Vai me deixar casar em paz?
— Não! Você sabe muito bem que não pode se casar.
— Por que eu não posso me casar?
— Você contou para ela sobre seu problema?
— Meu problema não vai interferir em meu casamento.
— Como não? Ela vai aceitar essa situação?
“Adrien”
Meu pai já tinha perdido a estribeira e já estava segurando meu irmão pelo colarinho e o sacudindo.
— Vou te dar uma surra, seu moleque insolente.
— Eu não sou mais uma criança, o senhor não me assusta, dessa vez eu não vou desistir dos meus sonhos, eu vou me casar, isso já é uma decisão tomada.
“Adrien”
Entrei no meio e separei ambos, sou mais novo, mas por praticar esportes, tenho físico e consigo ser mais forte que meu pai.
— Parem com isso, os empregados estão assustados. Vocês parecem dois loucos.
Meu pai virou para mim e disse:
— Adrien não se meta em meus assuntos com seu irmão. Suba para o quarto, agora.
Olhei para meu pai e depois para meu irmão.
— Vocês querem me explicar por que estão brigando?
Joshua veio, colocou a mão em meu ombro e me disse.
— Vou embora e você toma cuidado com o pai, não o deixe te agredir e, quando ficar de maior, vá embora e o deixe sozinho, é o que ele merece, a solidão.
— Ele não consegue, você sabe que ele só agride você. Comigo, são só palavras que não me atingem mais. Para onde você vai?
- Eu sei que te atingem muito mais do que as agressões físicas impostas a mim, mas me prometa que não vai ficar.
— Você fala como se não fossemos nos ver mais.
— E não vamos, o velho vai dar um jeito de que não nos encontremos mais. Mas quero que você se lembre de que foi escolha minha.
Abracei meu irmão, não pode ser a última vez que eu o vejo.
— Adeus, Adrien e se cuida.
Nosso pai voltou à sala.
— Joshua, se você sair por aquela porta, não precisa voltar mais, eu não vou te considerar mais, meu filho.
— O senhor não se esqueça de que foi escolha sua.
“Adrien”
— Isso não pode ser verdade. Pai, o senhor tem que falar para ele que está exagerando, tem que ter um jeito de se entenderem
— Desculpe Adrien, mas estou falando muito sério, se seu irmão teimar com essa loucura de casamento, eu vou deserdá-lo.
“Joshua”
— Eu não preciso do seu dinheiro, vou trabalhar e sustentar minha mulher, pode ficar com todo o seu dinheiro.
Joshua pegou a mala e se despediu de mim, e foi a última vez que vi meu irmão.
Virei para meu pai e tentei saber o motivo da briga, mas ele não me disse e ainda me falou que não era assunto meu.
Por que ele não quer que meu irmão se case?
O que tem de tão grave que impede meu irmão de se casar? Ele nunca me pareceu doente.
Entrei na cozinha e a empregada evita me encarar.
— Você escuta tudo, Maria, por que meu pai não quer que meu irmão se case?
— Senhor Adrien, por favor, eu não quero problemas, já sou bem velha e quero sair dessa casa em um caixão e não expulsa, pergunte para sua tia.
— Maria, não fale assim, você vai viver uns 100 anos.
— Fique tranquilo, meu menino, eu estou treinando a Leslie. Ela vai continuar cuidando de você.
— Ela sabe o segredo?
— Não, Adrien e não vai saber.
— Mas que segredo é esse que todos têm medo de falar? Vou mesmo perguntar à minha tia e ela vai ter que me contar.
Fui procurar a tia Sultana, ela é irmã do meu pai, alguns anos mais nova. Espero que tire minhas dúvidas. Preciso saber para tentar arrumar essa confusão, não posso perder meu irmão assim sem lutar.
Cheguei na casa dela e logo veio me abraçar e me beijar, as bochechas, ela e a representação da mãe que tive.
— Meu querido, o que aconteceu? Por que você veio me procurar? Você brigou com seu pai de novo?
— Desta vez, foi Joshua quem brigou com ele e foi muito feio.
— Seu irmão nunca briga com Henry, no máximo tenta te defender, o que aconteceu?
— Tia, por esse motivo, vim falar com a senhora, acho que é a única que pode me esclarecer.
— Como assim, te esclarecer?
— Meu irmão saiu de casa, eles brigaram porque meu irmão quer se casar e ele disse que ele não pode.
Vi minha tia mudar até o jeito de olhar.
— Entendi, seu pai não deixa de ter razão.
— Como assim, tia, me explica o que está acontecendo. O que pode ser tão grave a ponto de meu pai deserdar meu irmão?
— É um assunto particular, eu não posso te contar. Você é muito novo e deixa que os dois vão acabar se entendendo.
— Eu duvido. Tia, Joshua saiu de casa e disse que não volta mais. Meu pai disse que vai deserdá-lo e que ele não é mais da família.
— Fique fora desse assunto, continue estudando e se torne um homem poderoso, eu vou esperar sua visita no Brasil.
— Tia, eu perdi meu irmão e agora vou perder a senhora também?
— Eu não vou morrer, você vai poder falar comigo sempre que quiser.
— Não, mas vai estar a quilômetros de distância.
— Meu querido, eu preciso ir, estude e seja o CEO que sei que você tem capacidade para ser.
— Esse seria o lugar do meu irmão.
— Seu irmão é um rapaz inteligente, mas seu pai sabia que ele não ia ser um bom CEO, esse lugar sempre foi seu.
— Mesmo tendo matado minha mãe?
— Você não matou sua mãe, ela morreu por complicações no parto.
— Vou tentar me lembrar disso. Quando a senhora muda?
— Amanhã à noite.
— Vai lá em casa e tenta falar com meu pai, ele não pode simplesmente tirar meu irmão de nossas vidas.
— Vou tentar, mas já te adianto que seu pai, depois que toma uma decisão, é difícil fazê-lo mudar de ideia.
— Por favor, tente assim mesmo.
Voltei para casa e agora me sinto em um velório, a casa está um silêncio e os empregados conversam baixo para não incomodar o patrão, eu me sinto sufocado.
Subi em meu quarto, coloquei minha sunga e fui me exercitar na piscina. Fazer exercício me acalma e ajuda a colocar as ideias no lugar.
Passaram três dias e meu pai ainda mantém o silêncio, sentei na mesa como todo dia de manhã para tomar o café com ele.
— Adrien, você vai para um colégio nos EUA.
Fiquei nervoso, ele vai se livrar de mim?
— O que o senhor quer? Já perdeu um filho e agora vai me afastar também?
— Vou te mandar estudar e se especializar para comandar a nossa empresa, agora eu só tenho você.
— Meu irmão não morreu, ele está vivo.
— Para mim, ele está morto e é por isso que vou te tirar daqui, não quero que você fique procurando seu irmão.
— Mas, pai, eu não tenho nada a ver com a briga de vocês.
— Tem tudo a ver, eu não quero você tomando as dores de seu irmão, sua viagem está marcada para sexta-feira, e não adianta se esconder naquele lugar que você chama de esconderijo que eu te tiro de lá, nem que seja no laço.
— Vou fugir e o senhor não vai me achar nunca mais.
— Já tem seguranças te vigiando, nem tente fazer uma besteira dessas que eu te prendo no quarto.
“Adrien”
Vi que estava sem saída, fui tirado da minha casa e levado para um colégio, onde tive que aprender a me virar e a sobreviver.
Tenho muitas saudades de Quebec, mas só vou poder voltar quando acabar meus estudos.
**Dois anos depois.
“Adrien”
Estou de férias e meu pai deu permissão para que eu viesse para casa.
Que saudades das minhas coisas, principalmente do meu irmão, mas por aqui nada mudou.
A Maria me disse que um dos seguranças ficou sabendo que Joshua perdeu a esposa igual à nossa mãe no parto e que nasceram duas meninas que ele está criando sozinho.
Fiquei emocionado, sou tio de duas meninas.
Na hora do jantar, meu pai estava até feliz. Conversando e parecia mais aberto ao diálogo, eu resolvi falar.
— Pai, o Joshua agora é pai de duas meninas.
Ele endureceu as feições e me disse.
— Como você ficou sabendo disso, você continua falando com aquele traidor?
— Pai, ele não te traiu e agora o senhor é avô. A mulher dele morreu no parto, Joshua deve estar precisando de nossa ajuda.
Meu pai levantou e deu um murro na mesa.
— Escute bem o que vou dizer, Aidren essas meninas não são minhas netas e nunca serão.
— E eu te proíbo de ir ajudar seu irmão, ele está colhendo o que plantou.
— Mas pai, o senhor passou por isso e sabe o quanto é difícil.
— Eu não estou aberto à discussão, e se não quiser voltar ainda hoje para os EUA, esqueça esse assunto.
Saiu da mesa e percebi que, seja lá o que for que ocasionou a briga dos dois, não vai passar.
Acabaram minhas férias, voltei para os EUA para acabar meus estudos e meu pai não me deixou voltar mais para casa. Da faculdade, já fiquei fazendo estágio na firma de um amigo dele e depois já passei a comandar a empresa por intermédio de uma filial que temos nos EUA.
Quando completei 30 anos, meu pai infartou e aí, sim, voltei para casa. Quando entrei, me senti diferente, a casa é a mesma, nada foi modificado, até meu quarto continua do mesmo jeito.
Assumi a casa e as empresas, tentei falar com Joshua, mas não atendeu minhas ligações, nem sei se ficou sabendo que nosso pai morreu.
Sou considerado bonito e tenho muito dinheiro, as mulheres caem aos meus pés, mas eu não quero relacionamento, só satisfação física e mais nada.
Na casa tem uma governanta que era da confiança do meu pai, acabei me acostumando com ela. Quando Maria se aposentou, ela assumiu a casa.
É a única que fala diretamente comigo, e mesmo assim não muito.
— Leslie hoje vou para a firma e de lá vou a um jantar, não precisa se preocupar comigo.
— Vai sair com uma daquelas super modelos de novo?
Olhei sério para Leslie, mas não disse nada. Como não consigo ficar nervoso com suas invasões à minha privacidade?
— Vou, sim, e já te disse que você não tem nada com isso.
— Senhor Adrien, desculpe, mas o senhor vai de uma cama para outra toda noite com uma mulher diferente, desse jeito vai acabar pegando uma doença, não é porque elas são bonitas que não têm doença.
— Leslie, minha querida, eu sei me cuidar, e pode ficar tranquila que não vai ficar sem patrão.
— Do jeito que a coisa anda, se você não arrumar uma mulher e se casar, não só eu, mas todos teremos que procurar outro emprego.
— Por quê? Se os funcionários estiverem certos, eu sou um vampiro e vou viver eternamente.
— Pare de brincar, seu Adrien, eu tenho medo dessas coisas e eu já te vi andando no sol, não pode ser um vampiro.
— Posso ser um vampiro diferente.
Dei um rosnado e ameacei correr atrás dela, que foi para a cozinha assustada.
Essa conversa toda começou porque tenho um lugar secreto no jardim e ninguém sabe onde fica.
Os guardas me veem entrando no jardim e não me veem mais, aí começaram a dizer que fui transformado em vampiro e que a noite vou ao Jardim e viro um morcego para sair voando sem que ninguém veja.
No começo, era engraçado ver o medo que tinham de mim, mas agora isso me irrita.
Mas tudo tem um lado bom, ninguém me questiona, eles são fiéis e confiáveis.
Leslie tem razão, vai chegar uma hora que vou ter que me casar e gerar um herdeiro, mas no momento tem uma morena lindíssima me esperando e vou viver minha liberdade.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Joelma Oliveira
que mistério é esse que as mulheres morrem n parto... e de gêmeos???
2025-06-19
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