capítulo 2

Olhos no Subsolo

— Antes de qualquer picareta tocar o chão, os drones descem primeiro — disse Elisa, apontando para o monitor central.

O grupo se aproximou enquanto Greg, o técnico de tecnologia, já ativava o console. Os drones compactos estavam prontos: câmeras térmicas, sensores de gás, iluminação de LED e estabilizadores para resistir a espaços estreitos e instáveis.

— A gente precisa entender a estrutura. Se for uma tumba, ou algo próximo disso, qualquer passo errado pode causar um desabamento. E a última coisa que eu quero é virar manchete como "a arqueóloga que cavou um túmulo e cavou o próprio junto" — completou Elisa, olhando para Farley. — Sem ofensa.

— Só se for um túmulo climatizado — murmurou Farley, abanando o colarinho.

— Os drones vão nos dar uma leitura térmica, estrutura básica e imagens 3D. Depois, com os dados, decidimos por onde começar. Nada de heroísmo, nada de pressa.

— E se for só um buraco natural? — perguntou Ana, a topógrafa, cética.

— Então catalogamos, registramos, e voltamos pra casa com uma bela decepção documentada. É assim que funciona ciência — respondeu Elisa. — Mas se for o que parece… então temos algo que escapou de todas as outras escavações anteriores. E isso muda tudo.

Greg acionou o primeiro drone. Um zumbido sutil encheu a sala.

— Drone 1 subindo… e... descendo — corrigiu, quando a tela mostrou a abertura estreita na terra, a entrada escavada cuidadosamente nos dias anteriores.

Todos se calaram. A câmera começou a transmitir. Paredes cobertas de poeira, mas lisas. Muito lisas. Como se tivessem sido talhadas à mão. O drone avançava, metro a metro, revelando um corredor estreito.

Mahmoud fez o sinal da cruz, depois murmurou um versículo.

— Tem algo ali — sussurrou ele.

Na tela, uma curva apareceu. Algo geométrico, claramente não natural. Uma estrutura de pedra. E símbolos… apagados pelo tempo, mas ainda visíveis.

Elisa se aproximou da tela e olhou fixamente.

— Parem o drone. Zoom nesses hieróglifos.

Greg obedeceu.

O silêncio na sala era total.

— Isso é antigo… muito antigo. Pré-dinástico, talvez… — Elisa murmurava, quase pra si mesma. — Mas essa linguagem... tem algo estranho aqui.

Farley assobiou.

— Olha só... parece que a múmia quer conversar.

— Ou quer avisar pra gente cair fora — disse Ana.

Elisa não respondeu. Ela só observava a tela. O rosto concentrado, olhos verdes fixos.

Algo estava ali embaixo. E eles estavam prestes a acordá-lo.

A Mais Amada

O drone avançava lentamente, seus rotores zumbindo baixo, como se temessem fazer barulho demais naquele corredor enterrado.

Na tela, a equipe observava em silêncio absoluto. A câmera virou uma curva e então… parou.

Todos se inclinaram ao mesmo tempo.

Ali, diante do drone, estava uma porta de pedra. Imensa. Coberta por uma camada de pó milenar, mas intacta. Simétrica. Desgastada apenas nas bordas, como se ninguém a tocasse há milhares de anos.

E no centro dela, esculpida em alto relevo com traços firmes e elegantes, uma inscrição em hieróglifos antigos. Elisa congelou.

— Para… para aí… dá zoom. Greg, captura isso.

— Já tô no máximo — respondeu Greg, a voz baixa.

Elisa aproximou-se da tela, os olhos verdes arregalados.

— Isso é… “Hemet Meret” — traduziu ela em voz quase trêmula. — “A Mais Amada.”

— Isso é um título? — perguntou Farley, mais sério agora.

— É mais que isso — respondeu Elisa. — É como uma rainha poderia ser lembrada. Não uma rainha qualquer… Alguém querida, reverenciada. Talvez alguém que dividiria o trono com o faraó.

— Nunca ouvi falar dessa tumba — disse Ana, já consultando registros no tablet. — Isso devia estar catalogado. Com esse tamanho, com essa inscrição…

— Não está — cortou Elisa. — Isso não devia estar aqui. Essa área já foi vasculhada três vezes. Isso não é só estranho. É impossível.

— Ou foi escondido — disse Mahmoud, sussurrando. — Enterrado de propósito.

Antes que alguém respondesse, a imagem no monitor estalou.

— Opa… não, não, não… — Greg começou a digitar feito louco. — Perdi o sinal. Droga, não é possível…

A tela congelou por um segundo. Depois, preto.

— Merda! — gritou Greg, batendo a mão na mesa. — O sinal tava limpo! O drone tava carregado, o ambiente tava estável, não tem porra nenhuma ali que justifique isso! Eles não caem do nada assim!

Farley se inclinou pra trás.

— Bom… parece que “a mais amada” não gostou da visita.

Mahmoud levantou da cadeira e começou a rezar em voz baixa, virado para Meca.

Elisa não disse nada por um instante. Apenas encarava a tela preta.

Depois, virou-se para todos.

— A partir de agora, ninguém entra ali sem meu sinal. E ninguém entra sozinho. Esse lugar não é comum. E se tem algo que não quer ser encontrado… vamos descobrir por quê.

O silêncio caiu de novo. Mas desta vez, era diferente.

Agora todos sabiam:

a tumba estava esperando.

E eles já haviam batido na porta.

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