O plantão noturno no hospital estava a todo vapor. Lara, em seu estágio na residência de obstetrícia e ginecologia, sentiu a adrenalina disparar quando o chamado de emergência ecoou: "Parto em curso, sala 3, paciente em sofrimento fetal!" Ela correu, o coração batendo forte, mas a mente já processando os protocolos.
Na sala de parto, o cenário era tenso. A mãe, exausta, mal conseguia empurrar, e os batimentos cardíacos do bebê estavam diminuindo. O Dr. Santos, seu supervisor, instruía com voz firme, mas Lara percebeu a gravidade da situação em seus olhos.
— Mais uma força, senhora! Vamos lá! — A enfermeira incentivava.
Quando a cabeça do bebê coroou, um calafrio percorreu a espinha de Lara. O cordão umbilical estava enrolado firmemente no pescoço do recém-nascido. Era um risco grave, um nó que poderia sufocar a vida antes mesmo dela começar. O ar pareceu rarefeito na sala.
— Cordão nucal apertado! — Dr. Santos alertou, mas seus olhos já estavam fixos em Lara, um teste silencioso. — Dra. Lara, primeiros procedimentos de urgência!
O nervosismo era uma corrente elétrica, mas a formação de Lara, a dedicação de anos, se impôs. Em segundos, suas mãos, ágeis e treinadas, deslizaram com precisão. Com destreza, ela desfez o laço do cordão do pescoço do bebê, liberando-o da prisão. O bebê ainda não chorava, pálido, com dificuldade para respirar. Lara, sem hesitar, iniciou as manobras de reanimação, com a voz do Dr. Santos a guiando, mas a confiança de uma profissional que sabia o que fazer. Ela aspirou as vias aéreas, estimulou os pezinhos, e a cada segundo que passava, a tensão aumentava.
Então, um choro fraco, um som rouco e maravilhoso, irrompeu na sala. Em seguida, um choro mais forte e consistente. O bebê, uma menina, soluçava, rosada e viva. Um suspiro de alívio coletivo preencheu o ambiente.
A mãe, ainda ofegante, estendeu a mão para Lara, os olhos cheios de lágrimas e gratidão.
— Minha filha... muito obrigada, doutora! Muito obrigada!
Lara sentiu uma onda de emoção avassaladora, uma mistura de adrenalina, alívio e uma profunda satisfação. Seus olhos se marejaram. Era para momentos como aquele que ela havia escolhido a medicina. Salvar vidas, testemunhar o milagre, sentir o peso da responsabilidade e a leveza da vitória. Ali, no limiar entre a vida e a morte, ela era exatamente quem deveria ser: uma médica, com o coração pulsando pela humanidade.
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Mais tarde, na sala de descanso dos médicos, Lara estava imersa em seus estudos. Pilhas de livros e artigos se acumulavam ao redor dela, o café morno na xícara esquecida. Ela era incansável, buscando absorver cada conhecimento, sempre com a dedicação que a levaria ao topo de sua profissão.
— Dra. Lara, ainda por aqui? Não vai desmaiar de tanto estudar? — Brincou Benjamim, um colega de estágio, jogando-se na poltrona ao lado.
Lara ergueu o olhar dos livros, um sorriso divertido no rosto.
— E perder a chance de ser a melhor? Nem pensar, Dr. Benjamim. Além disso, a adrenalina do parto de hoje não me deixa dormir.
— Você foi brilhante lá, sério. Aquele cordão enrolado... foi tenso. Mas você segurou a barra como uma veterana. — Comentou Camila, outra colega, entrando na sala e pegando uma maçã.
— Foi o Dr. Santos que me guiou. E a prática, né. Um dia de cada vez. — Lara minimizou, embora sentisse o orgulho em seu peito.
A médica era divertida, adorava uma piada e uma boa conversa, mas quando o assunto era sua profissão, sua seriedade e profissionalismo vinham à tona.
— Mas é sério, a sensação de ver aquele bebê chorar... não tem preço.
Eles conversaram sobre os desafios do dia, sobre a complexidade da residência, mas sempre com a leveza e o humor que caracterizavam o grupo. Lara era querida por sua espontaneidade, mas também respeitada por sua competência e dedicação.
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Quando seu plantão finalmente terminou, Lara pegou o celular e discou o número de Chloe. Era hora de organizar o "encontro" que tranquilizaria seus pais.
Lara: (Com um tom animado, tentando disfarçar o cansaço) Chloe? Oi! Então, meus pais estão me cobrando horrores sobre a gente "se conhecer". Que tal sairmos hoje? Um jantar, talvez? Podemos inventar que fomos ao cinema, ou sei lá...
A voz de Chloe do outro lado da linha era contida, quase fria.
Chloe: Lara, não precisamos realmente sair. É só para os nossos pais acreditarem que sim. Podemos dizer que fomos a um restaurante famoso, ou um show. Ninguém vai conferir. Eu não tenho tempo para encontros arranjados. E com toda a honestidade, não vejo necessidade de fingir tanto assim.
O entusiasmo de Lara murchou. A frieza de Chloe, que ela já havia percebido na despedida de solteiras, na festa de Sophie, e na breve conversa que compartilharam na casa de Flávia, era ainda mais evidente agora. Esse acordo deveria ser mútuo, mas Lara era a única que se importava.
Lara: (Com um suspiro discreto, tentando manter a voz leve) Ah, entendi. Certo. Sem problemas. Então... a gente se fala para combinar o que dizer aos nossos pais?
Chloe: Isso. Eu te mando mensagem mais tarde com uma ideia.
A ligação terminou com um tchau seco de Chloe. Lara desligou o telefone, sentindo um gosto amargo na boca. O namoro falso era, de fato, muito falso para Chloe. A ex-piloto era uma muralha, fechada em si mesma, sem dar brechas para qualquer tipo de calor ou intimidade, mesmo que fosse apenas para fingir.
Lara decidiu sair sozinha. Ainda tinha que manter o disfarce para os pais. Caminhou até um bar próximo, um lugar com luz baixa e música tranquila. Pediu uma bebida e sentou-se em um canto, observando o movimento da rua. Estranhamente, não sentiu vontade de flertar com ninguém naquela noite.
Seus pais, Luís e Helena, estavam esperançosos. Nas últimas conversas, ela havia contado que estava conhecendo Chloe, que tiveram alguns encontros. Eles imaginavam um futuro lindo para as duas, sem saber que a realidade era um acordo frio e distante.
Ela deu um gole na bebida, sentindo o líquido quente descer por sua garganta. Refletia sobre Chloe. Tão linda, tão misteriosa, tão distante. Como alguém podia ser tão fechada? O acordo do namoro falso parecia uma oportunidade para que ela conhecesse mais sobre Chloe. Mas como isso seria possível se a mais velha lhe afastava o tempo inteiro.
A alma livre de Lara se sentia estranhamente cansada. Mas, no fundo, uma pequena chama de curiosidade persistia. O que havia por trás daquela muralha de seriedade? E, por um breve momento, ela se perguntou: por que, afinal, Chloe havia aceitado essa loucura toda? Se ao menos ela conseguisse uma brecha naquele coração de gelo.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
A.Maysa
pelo jeito o jogo está empatado... me ais poxa Chloe não precisava ser tão fria assim também
2025-06-19
4
Letyciia Dayana
to tao curiosa qnt Lara! mas daq a pouco o coração esquenta😏😏😏😏😏, pode até pegar fogo 😊😊😊
2025-06-20
1
Aline Carla
Será que Lara vai conseguir derreter o coração da nossa Rainha de gelo ❄️❄️❄️
2025-06-20
1