Capítulo 5 – Entre Linhas e Mentiras

A madrugada se arrastava pelas paredes do palazzo como uma sombra viva. A tempestade havia cessado, mas o silêncio que restava era ainda mais barulhento. Luna sentava-se na beira da cama, com o caderno da mãe aberto sobre as pernas e os olhos fixos nas palavras que mudariam tudo.

“A serpente não devora sozinha. Ela protege o ninho, mesmo que o ninho esteja sujo.

A corrupção que eu denunciei vai além das fronteiras. Não confie nos uniformes.

A verdade está onde ninguém olha: na família.

Se algo me acontecer, Dante saberá onde me encontrar.”

Dante.

O nome queimava em sua mente como um açoite.

Sua mãe confiava nele? Ou apenas sabia que ele estava no centro da teia?

As páginas estavam cheias de anotações, datas e locais. Algumas em português, outras em italiano. Havia nomes de políticos conhecidos, empresários brasileiros e até uma fundação social no Rio de Janeiro com o selo da Famiglia Moretti Onlus. Ironia cruel: caridade patrocinada pelo crime.

Luna não conseguiu dormir. Ao amanhecer, tomou um banho rápido, prendeu os cabelos e desceu para o salão principal. Não havia ninguém. Exceto ele.

Dante estava no jardim interno, vestindo uma camisa branca dobrada nos cotovelos e calça escura. Estava sozinho, parado diante de uma estátua de mármore que retratava uma mulher ajoelhada, com uma serpente em volta do pescoço. As mãos dele estavam fechadas nas costas, o semblante duro.

— Sua mãe costumava vir aqui — disse ele, sem olhar para trás. — Ela gostava de conversar com essa estátua. Dizia que a serpente representava o poder que sufoca, mas que também pode libertar, se soubermos como usá-lo.

Luna se aproximou devagar.

— Você conheceu mesmo minha mãe... ou está apenas manipulando a memória dela?

Dante virou-se lentamente. Seu rosto estava cansado, mas os olhos… aqueles olhos sempre estavam alerta.

— Sua mãe era inteligente. Corajosa. E, por isso, perigosa. Ela sabia demais. E tentou fazer o certo... em um lugar onde o certo é sinônimo de sentença de morte.

Luna cruzou os braços.

— E você? É só mais uma peça no tabuleiro?

— Eu sou o tabuleiro.

A resposta a surpreendeu. Não pela arrogância, mas pela sinceridade. Havia algo em Dante que a deixava desconcertada — uma mistura de poder, dor e lucidez. Ele não era apenas um mafioso. Era um sobrevivente de um mundo que ela mal começava a compreender.

— Por que ela escreveu no diário que você saberia onde encontrá-la?

Dante suspirou. Deu um passo à frente.

— Porque ela me contou que, se tudo desse errado, deixaria pistas para você. Ela acreditava que você era forte o suficiente para terminar o que ela começou.

— Eu não sou minha mãe.

— Não. — ele respondeu, com um sorriso quase imperceptível. — Você é ainda mais teimosa.

Luna cerrou os punhos.

— Eu quero a verdade. Toda. E você vai me contar. Ou eu vou arrancar de outra forma.

Ele caminhou até uma mesa de ferro sob a pérgola, pegou uma pequena caixa de madeira e abriu. Lá dentro, cigarros artesanais. Acendeu um com calma, como se fosse um ritual. Depois, estendeu a caixa a ela. Luna recusou com um olhar.

— A verdade é uma faca de dois gumes, Luna. Pode cortar o inimigo... mas também quem empunha.

— Eu quero correr esse risco.

— Então sente-se.

Ela hesitou por um segundo, depois se sentou à frente dele, mantendo a postura ereta e os olhos atentos.

— Há dez anos, meu pai foi assassinado. Disseram que foi um acerto de contas. Mas não foi. — Dante começou. — Ele tentou sair da máfia. Queria transformar tudo em algo legítimo. Criar uma fundação, ajudar os bairros mais pobres da Calábria e do Brasil. Acharam que ele estava ficando fraco.

Que era uma ameaça. E o mataram. Minha mãe morreu dois meses depois. Oficialmente, de overdose. Mas eu sei que foi envenenada.

— Quem fez isso?

Dante olhou para o jardim, como se visse fantasmas.

— O próprio sangue. Meu tio Marco. E alguns aliados do governo brasileiro que usavam a máfia como intermediária para lavagem de dinheiro e tráfico de influência.

— Isso é monstruoso.

— Bem-vinda ao meu mundo.

Silêncio.

Luna engoliu seco.

— Então por que você faz parte disso?

— Porque sair vivo exige pactos com o diabo. Eu fingi lealdade. Subi na hierarquia. E agora sou herdeiro de um império que eu odeio. Mas se quero mudá-lo...preciso parecer que sou parte dele.

Luna o encarou por longos segundos.

— Então por que me trouxe aqui? Por que o casamento? O sequestro?

Dante apagou o cigarro. Sua voz soou mais baixa.

— Porque eles estavam te caçando. O nome da sua mãe voltou aos arquivos dos traidores. Você era a próxima. Eu fiz o único acordo que te manteria viva.

Tornar você uma Moretti. Nem que fosse só no papel.

— Então isso tudo é só... encenação?

— O casamento é real. Os sentimentos... não sei ainda.

Luna corou, mas disfarçou com raiva.

— Não pense que uma aliança vai me transformar em cúmplice.

— Eu não quero uma cúmplice, Luna. Quero uma aliada. Alguém que me ajude a derrubar esse império... por dentro.

Luna levantou-se devagar. A cabeça girava. A raiva, a confusão, o medo. Mas no fundo… algo nela queimava. Um senso de justiça herdado, talvez. Ou a semente de algo novo.

— Eu vou pensar.

— Pense rápido. — ele disse. — O casamento será em dez dias. E eles já desconfiam que você tem algo da sua mãe.

Ela o encarou uma última vez antes de sair.

No corredor, sentiu as pernas tremerem.

Dante Moretti não era apenas seu inimigo.

Era o único homem capaz de salvá-la.

Ou destruí-la por completo.

Capítulos
1 Capítulo 1 – A Última Porta
2 Capítulo 2 – O Herdeiro e a Prisioneira
3 Capítulo 3 – Prisioneira de Luxo
4 Capítulo 4 – A Primeira Brecha
5 Capítulo 5 – Entre Linhas e Mentiras
6 Capítulo 6 – Ecos do Passado
7 Capítulo 7 – Sob o Céu de Verona
8 Capítulo 8 – O Inimigo Entre Nós
9 Capítulo 9 – A Serpente no Jardim
10 Capítulo 10 – Beijos, Cicatrizes e Declarações Não Ditas
11 Capítulo 11 – Entre Taças e Armadilhas
12 Capítulo 12 – O Dia em Que Tudo Pegou Fogo
13 Capítulo 13 – Ou Juntos, ou Nada
14 Capítulo 14 – A Primeira Aliança
15 Capítulo 15 – Entre o fogo e o abraço
16 Capítulo 16 – Nas garras da tempestade
17 Capítulo 17 – O estranho no horizonte
18 Capítulo 18 – Segredos que queimam
19 Capítulo 19 – Olhos nas sombras
20 Capítulo 20 – Vozes no escuro
21 Capítulo 21 – Revelações e segredos
22 Capítulo 22 – As verdades que não sangram... ainda
23 Capítulo 23 – Onde a confiança se parte
24 Capítulo 24 – O fogo que separa
25 Capítulo 25 – Feridas que não se veem
26 Capítulo 26 – O jogo de sombras
27 Capítulo 27 – No limiar da traição
28 Capítulo 28 – Ecos do Passado
29 Capítulo 29 — Entre o fogo e a escuridão
30 Capítulo 30 – Sob a Sombra da Tempestade
31 Capítulo 31 – Labirintos de traição
32 Capítulo 32– A teia se aperta
33 Capítulo 33 – Vozes que sangram
34 Capítulo 34 – O cerco
35 Capítulo 35 – O jogo de sombras se intensifica
36 Capítulo 36- Sob o olhar da tempestade
37 Capítulo 37 – Fragmentos da Verdade
38 Capítulo 38- Vozes que Ecoam
39 Capítulo 39 – Círculo de Fogo
40 Capítulo 40 - Vozes Queimadas
41 Capítulo 41 - Ecos na Escuridão
42 Capítulo 42 - No Olho do Furacão
43 Capítulo 43 - Entre Sombras e Confissões
44 Capítulo 44 - O Estopim
Capítulos

Atualizado até capítulo 44

1
Capítulo 1 – A Última Porta
2
Capítulo 2 – O Herdeiro e a Prisioneira
3
Capítulo 3 – Prisioneira de Luxo
4
Capítulo 4 – A Primeira Brecha
5
Capítulo 5 – Entre Linhas e Mentiras
6
Capítulo 6 – Ecos do Passado
7
Capítulo 7 – Sob o Céu de Verona
8
Capítulo 8 – O Inimigo Entre Nós
9
Capítulo 9 – A Serpente no Jardim
10
Capítulo 10 – Beijos, Cicatrizes e Declarações Não Ditas
11
Capítulo 11 – Entre Taças e Armadilhas
12
Capítulo 12 – O Dia em Que Tudo Pegou Fogo
13
Capítulo 13 – Ou Juntos, ou Nada
14
Capítulo 14 – A Primeira Aliança
15
Capítulo 15 – Entre o fogo e o abraço
16
Capítulo 16 – Nas garras da tempestade
17
Capítulo 17 – O estranho no horizonte
18
Capítulo 18 – Segredos que queimam
19
Capítulo 19 – Olhos nas sombras
20
Capítulo 20 – Vozes no escuro
21
Capítulo 21 – Revelações e segredos
22
Capítulo 22 – As verdades que não sangram... ainda
23
Capítulo 23 – Onde a confiança se parte
24
Capítulo 24 – O fogo que separa
25
Capítulo 25 – Feridas que não se veem
26
Capítulo 26 – O jogo de sombras
27
Capítulo 27 – No limiar da traição
28
Capítulo 28 – Ecos do Passado
29
Capítulo 29 — Entre o fogo e a escuridão
30
Capítulo 30 – Sob a Sombra da Tempestade
31
Capítulo 31 – Labirintos de traição
32
Capítulo 32– A teia se aperta
33
Capítulo 33 – Vozes que sangram
34
Capítulo 34 – O cerco
35
Capítulo 35 – O jogo de sombras se intensifica
36
Capítulo 36- Sob o olhar da tempestade
37
Capítulo 37 – Fragmentos da Verdade
38
Capítulo 38- Vozes que Ecoam
39
Capítulo 39 – Círculo de Fogo
40
Capítulo 40 - Vozes Queimadas
41
Capítulo 41 - Ecos na Escuridão
42
Capítulo 42 - No Olho do Furacão
43
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Capítulo 44 - O Estopim

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