A noite caiu pesada sobre o palazzo dos Moretti. Do lado de fora, trovões cortavam o céu como feridas abertas. A chuva escorria pelas gárgulas de pedra do telhado, e os cães latiam como se sentissem que algo estava prestes a acontecer.
Dentro de seu quarto, Luna não conseguia dormir.
Naquela mesma tarde, uma das funcionárias — uma jovem de olhos claros e cabelos presos em um coque apertado — havia deixado cair um papel dobrado embaixo da porta. Luna correu para abri-lo assim que ficou sozinha.
“A terceira porta à direita do corredor norte não está trancada.
Meia-noite. Trinta minutos. Sem sapatos.
— V.”
O coração dela disparou. Uma chance. Finalmente, uma brecha.
Ela esperou o tempo passar com o corpo imóvel, como uma pedra. Quando o relógio de parede bateu meia-noite, Luna calçou meias grossas, vestiu um casaco escuro e saiu silenciosamente, o coração batendo como um tambor tribal.
Seguiu pelo corredor norte, passando por estátuas antigas e cortinas pesadas. Parou diante da terceira porta.
Estava entreaberta.
Entrou.
Era uma biblioteca. Cheia de livros antigos, chão de madeira rangente, e um cheiro de pó e mofo. No canto, sob uma tapeçaria meio caída, havia uma passagem estreita. Do outro lado, a jovem a esperava. Era a mesma moça da limpeza — agora sem o uniforme, usando roupas simples.
— Quem é você? — Luna sussurrou.
— Meu nome é Valentina. Mas aqui... ninguém tem nome. Eu era amiga da sua mãe.
Luna congelou.
— O quê?
— Ela esteve aqui. Antes de desaparecer. Ajudava crianças, trazia informações. Queria derrubar os Moretti. Foi traída por alguém de dentro... e sumiu.
— Ela está viva?
Valentina hesitou.
— Não sei. Mas... ela deixou algo para você.
A jovem abriu um compartimento no chão, sob uma tábua solta. Dentro, havia um caderno antigo, com capa de couro, e um medalhão com um símbolo: a mesma serpente espiralada que Dante usava no anel.
Luna pegou o caderno. As mãos tremiam. Dentro, anotações da mãe:
“Se estiver lendo isso, Luna, é porque a verdade encontrou você antes da morte.
A máfia não é o inimigo. O governo é.
Os Moretti... são só a fachada.”
Antes que pudesse ler mais, passos ecoaram no corredor.
— Vão! — sussurrou Valentina. — Rápido! Eu te chamo de novo quando for seguro!
Luna correu de volta ao quarto, escondendo o caderno sob a cama segundos antes da porta ser aberta com força. Dante entrou, furioso, com os olhos em chamas.
— Onde você estava?
Ela o enfrentou com o peito erguido.
— Está com medo que eu escape? Ou que eu descubra quem você realmente é?
Dante se aproximou devagar. A tensão entre eles era elétrica. Ele segurou o queixo dela com firmeza, mas com cuidado.
— Você não faz ideia do jogo em que entrou, Luna. Eu estou tentando te manter viva.
— Me mantendo presa?
— Te mantendo longe de um mundo onde um erro pode custar sua vida. Ou a minha.
Ela olhou nos olhos dele. Algo neles havia mudado. Pela primeira vez, viu arrependimento... ou era desejo?
— Por que você se importa?
Dante ficou em silêncio por um longo tempo. Depois sussurrou:
— Porque você me lembra de tudo o que perdi.
E saiu, batendo a porta atrás de si.
Naquela madrugada, Luna abraçou o caderno da mãe e chorou em silêncio.
Ela ainda era prisioneira. Ainda estava sozinha.
Mas agora... tinha uma arma. E o nome do inimigo real.
O jogo estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 44
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