O Ciúmes e a Possessividade de Cael
O cheiro veio antes de tudo.
Forte. Másculo. Penetrante.
Elyan sentiu na pele antes mesmo de entender.
O sutil calor que invadiu suas narinas. O desconforto no fundo da garganta. E a náusea — como se algo em seu corpo se rebelasse contra aquilo.
Ele se virou no corredor estreito da ala médica e viu o motivo: um Alfa desconhecido se aproximava com passos lentos, mas certeiros. Alto. Loiro. Fardado. Um sorriso afiado nos lábios.
— Você deve ser o ômega do Cael, não é? — disse, sem se apresentar. O olhar passava pelo corpo de Elyan como um raio-x — frio, invasivo, sem permissão.
— Eu… não sou nada dele. — Elyan respondeu, recuando um passo, instintivamente.
— Que desperdício — murmurou o Alfa, cheirando o ar. — Você tem um perfume... incompleto. Como se estivesse prestes a florescer. Mas ainda selado. Isso é raro.
Antes que Elyan pudesse responder, um som rasgou o ambiente.
Um rosnado.
Baixo. Mortal.
Cael.
Ele apareceu no fim do corredor como uma sombra que toma forma. Os olhos negros brilhavam de raiva. O cheiro de domínio e fúria se espalhou como uma nuvem densa, empurrando o outro Alfa para trás sem que ele fosse tocado.
— Saia de perto dele. Agora. — Cael ordenou.
O outro homem sorriu, como se se divertisse.
— Ora, Cael… pensei que você já tivesse marcado. Está demorando demais, não acha? Com um ômega tão frágil, você corre o risco de perdê-lo antes mesmo de reivindicar.
Foi o suficiente.
Cael se lançou contra ele. Rápido como um raio, brutal como um predador. O corpo do Alfa rival bateu contra a parede com força, o som seco do impacto ecoando pelo corredor. Um filete de sangue escorreu do nariz do intruso.
— Se eu te ver perto dele outra vez, eu te destruo. — Cael rosnou, com os olhos colados aos do inimigo. — Você não respira o mesmo ar que ele. Está entendendo?
O Alfa engoliu seco. Por mais ousado que fosse, reconhecia o tipo de fúria que não vinha do cio… mas de algo mais perigoso.
Vínculo emocional.
— Está marcado agora? — zombou, com o pouco de coragem que restava.
— Não preciso marcá-lo pra ele ser meu. — Cael respondeu, e jogou o homem para longe como se fosse leve.
O corredor ficou em silêncio quando ele se virou para Elyan.
O ômega estava tremendo. Mas não de medo.
De algo indefinido. Algo que mexia em seu âmago.
A forma como Cael havia reagido... aquilo era mais do que proteção.
Era possessão.
— Você está bem? — Cael perguntou, se aproximando com o olhar suavizado. — Ele te tocou?
Elyan balançou a cabeça, a voz presa na garganta.
— Não. Mas ele… me olhou como se eu fosse algo que ele podia comprar. Como se… eu fosse menos.
Os olhos de Cael brilharam de novo. Ele parou na frente de Elyan, o corpo ainda trêmulo da raiva.
— Você não é menos. Nunca diga isso de novo.
— Mas eu sou…
— Não.
A voz dele cortou o ar como uma lâmina. E antes que Elyan se afastasse, Cael estendeu a mão… e tocou o rosto dele.
— Você é meu, Elyan. Quer você aceite isso agora ou depois. Quer eu te marque ou não. Eu sinto você dentro de mim como se fosse parte do meu sangue. E se outro alfa tentar te tocar… eu juro por tudo que já destruí, que vou fazer pior do que fiz hoje.
Elyan engoliu seco.
Aqueles olhos negros o prendiam como correntes.
Mas, estranhamente, ele não sentia medo.
Sentia… segurança.
Sentia que, mesmo com aquela fúria, Cael nunca o machucaria.
— Eu não sou forte como você — sussurrou.
— Você é mais forte do que eu, Elyan. Você tem coragem de sentir. Eu só tenho o instinto de proteger. E isso me torna perigoso… mas também leal. E se você me deixar, um dia… eu vou provar que posso cuidar de você, sem destruir o que você é.
Elyan ficou ali, parado, diante do Alfa mais temido da região… e pela primeira vez, não sentiu vergonha do próprio corpo.
Pela primeira vez, sentiu-se desejado sem ser invadido.
Naquela noite, Cael dormiu ao lado dele. Apenas dormiu.
Mas seus braços ao redor de Elyan eram como uma fortaleza.
E dentro dela, o ômega sentiu algo novo nascer.
Vontade.
Desejo.
Entrega.
Não seria hoje.
Mas logo…
Ele também iria querer pertencer.
O dia passou devagar depois do confronto.
Elyan permaneceu em silêncio pela maior parte do tempo, como se digerisse tudo o que havia acontecido. O olhar dele vagava, perdido, como se estivesse tentando compreender por que alguém tão poderoso quanto Cael o defenderia com tanta fúria.
Cael não forçou conversa. Apenas ficou por perto, vigiando cada movimento. Seu instinto estava em alerta. A aproximação daquele Alfa mexera com algo primal dentro dele.
O lobo dentro de Cael estava faminto por controle.
Mas seu coração só queria segurança para Elyan.
Naquela noite, Elyan demorou para dormir.
Deitado na cama pequena, ouvia a respiração firme de Cael do outro lado do cômodo. Mas não conseguia afastar a cena da mente — o som do rosnado, o olhar assassino, o jeito como Cael o chamou de "meu".
Era possessivo. Intenso. Quente.
Mas ao mesmo tempo, assustador.
Porque parte de Elyan sentia algo se agitando em seu peito.
Algo que não conseguia mais ignorar.
Levantou-se em silêncio, atravessou o cômodo e parou ao lado da cama de Cael.
— Está acordado? — perguntou, num sussurro.
Cael virou-se imediatamente, como se já estivesse esperando.
— Estou.
— Posso deitar aqui?
Os olhos do Alfa se suavizaram. Ele ergueu o lençol em silêncio. Elyan deitou ao lado dele, os corpos separados apenas por centímetros… mas a tensão era palpável.
— Você não precisava ter feito aquilo hoje. — Elyan começou, virando-se de lado, de frente para ele.
— Fiz porque ninguém tem o direito de olhar pra você daquele jeito.
— Mas eu não sou marcado. Não sou seu.
— Você é meu mesmo sem marca. E mesmo se um dia me rejeitar… ainda vai ser.
Elyan sentiu o estômago revirar. Não por nojo, nem por medo.
Mas por algo que parecia crescer dentro dele como uma flor tímida.
— Você me deseja, Cael? — a pergunta saiu antes que ele pudesse impedir.
Cael engoliu seco.
— Elyan… Eu te quero com cada parte do meu corpo. Mas não vou tocar em você até que você me peça. Até que seu olhar diga “sim”. Porque com você, não pode ser como foi antes.
— Antes… você machucou alguém? — Elyan perguntou, hesitante.
Cael virou o rosto por um instante. Um músculo em sua mandíbula tremia.
— Sim. Sem querer, mas machuquei. E jurei que nunca mais tocaria alguém sem certeza absoluta de que era bem-vindo.
O silêncio entre eles ficou mais denso.
Elyan então esticou a mão, hesitante, e tocou o braço de Cael.
— E se eu dissesse que… mesmo com medo, eu quero sentir? Que eu quero entender o que é ser tocado sem me sentir sujo?
Cael ficou imóvel.
Os olhos dele estavam escuros, mas não de desejo bruto.
Estavam cheios de emoção contida.
— Então me deixa te mostrar. Só com as mãos. Nada além do que você permitir. — disse, com a voz rouca.
Elyan assentiu, e fechou os olhos.
A mão de Cael tocou seu rosto com a ponta dos dedos.
Depois, os cabelos. O pescoço. Com um cuidado quase reverente, como se cada traço de Elyan fosse sagrado.
Elyan sentiu o corpo arrepiar. O coração batia tão forte que parecia ecoar no peito.
Quando a mão de Cael pousou sobre sua cintura, ele não recuou.
E quando os dedos deslizaram lentamente, por cima da roupa, apenas explorando, Elyan soltou um suspiro — não de medo, mas de rendição.
Era a primeira vez que seu corpo respondia sem vergonha.
— Você é lindo, Elyan. Por dentro e por fora. E eu juro… nunca vou deixar ninguém te fazer sentir menos do que você é. Nem mesmo você.
Elyan sentiu as lágrimas virem. Mas eram quentes. Libertadoras.
Ele se aproximou, deitando a cabeça no peito de Cael.
— Obrigado… por não me quebrar.
Cael o envolveu com os braços. O lobo dentro dele se aquietou mais uma vez.
Pela primeira vez, a possessividade deu lugar à ternura.
E o medo, à confiança.
Do lado de fora, porém, olhos observavam.
O Alfa rival não havia recuado de verdade.
E a decisão de Cael de não marcar Elyan ainda era uma fraqueza que ele pretendia explorar.
A guerra estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Gabriela Fonseca
Já vi q vai ser esplêndida como as outras obras, super anciosa por mais😍😍😍.
2025-06-12
4
Patricia Eloi
mas capítulo
2025-06-13
1