Capítulo 4 — Ódio e Dever
Narrado por Lucas Blacove
A dor não era só um sentimento. Era uma chama ardendo dentro de mim, consumindo tudo que restava. Quando recebi a notícia da morte do meu irmão, Dante, foi como se o chão se abrisse debaixo dos meus pés.
Ele não era só meu irmão. Era meu melhor amigo. Meu exemplo. O único que, mesmo envolvido com a máfia, ainda conseguia preservar um pouco de humanidade no olhar. Diferente de mim. Eu era o frio. Ele era o equilíbrio.
Mas agora ele estava morto.
E aquele acidente? Não foi acidente coisa nenhuma.
As primeiras informações que chegaram até mim apontavam que os freios do carro estavam cortados. Nada acontece por acaso no nosso mundo. Dante e o conselheiro Valentini morreram porque alguém quis que eles morressem.
E eu jurei ali mesmo, diante do túmulo ainda fresco, diante do caixão fechado do meu irmão...
— Eu vou descobrir quem fez isso. E quando eu souber, vai implorar pra morrer rápido.
A dor que corria nas minhas veias virou ódio. Puro. Mortal.
Passei os dias seguintes trancado no meu apartamento em Belford. Queria matar alguém. Queria respostas. Mas o silêncio reinava. Nenhuma pista. Nenhum nome. Nenhum erro do inimigo.
E então, cinco dias depois, o golpe final veio.
Apolo, meu irmão mais velho, agora o Don oficial da família Blacove, entrou na minha casa sem bater. Como sempre fazia.
— Você precisa estar sóbrio — disse ele, me olhando como quem dá ordens, não conselhos.
— Vai embora — rosnei, afundado no sofá, com uma garrafa de uísque na mão. — Não tenho paciência pra discursos de Don de merda.
— Você vai se casar.
O silêncio ficou ainda mais denso.
— Como é que é?
— Com Lunna Valentini. O noivado com Dante foi oficializado. Os Valentini ainda são nossos aliados. E agora, sem o pai e sem o noivo, ela precisa de proteção. A união entre as famílias precisa ser mantida.
— Tá louco? — Levantei bruscamente, jogando a garrafa na parede. — Eu não vou me casar com a noiva do meu irmão! Isso é... é nojento! Ele acabou de morrer!
— É justamente por isso. O luto termina com uma união. Os inimigos precisam ver que a gente permanece forte. Unidos. O casamento acontece em cinco dias.
— Eu não vou casar, Apolo! Vai você, então! Casa com ela! — cuspi com ódio.
Ele se aproximou com calma, como quem fala com um animal prestes a atacar.
— Eu já sou casado, irmão. E você sabe que só restam você ou o vazio. Se Lunna ficar desprotegida, o nome dela vai ser usado por qualquer outro clã pra nos atingir. Ou ela entra pra nossa família de vez, ou vira alvo. E você sabe disso.
— Não vou ser babá de freirinha chorona.
— Você vai ser marido dela. E se reclamar de novo... vai ser morto como um inimigo.
A voz dele foi cortante. Eu conhecia aquele tom. Apolo podia amar a família, mas jamais colocaria o coração acima do trono.
Ele me deu as costas, como se a conversa tivesse terminado. E terminou.
Cinco dias.
Cinco dias para enterrar o pouco de liberdade que ainda me restava.
Cinco dias para me unir à menina de olhos verdes e alma quebrada.
Ela achava que tinha perdido tudo.
Mal sabia que eu seria o pior castigo que a vida colocaria no caminho dela.
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Atualizado até capítulo 50
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