capítulo 04

...

— Você está fazendo errado.

— O que, como assim.

— Fernanda, se você não está com a peça que está vazia dos dois lados, é provável que eu esteja com ela, você não acha?

— Mas o que tem de mal nisso, aliás você está falando as peças que estão com você.

— Pelo visto não vai fazer diferença, você está me deixando completar todas as suas peças.

— Mas não é essa a intenção?

— Claro que não. A intenção é você não deixar eu pôr as minhas peças, para as suas acabarem primeiro.

— Não gosto desse jogo.

— Eu gosto, mas só tem graça quando se sabe jogar.

— Você é muito nerde.

— Nossa, foi tão bom ouvir isso.

Nesses últimos dias foi incrível tê-la por perto, mas meu coração almejava por outra pessoa, que eu não via a semanas.

Meu último encontro com Isa foi quando precisei resolver algumas pendências com seu irmão, sobre o carro, que inclusive já fechamos.

Ela parecia desconfortável com minha presença, ela sempre falava e ria, mas naquele momento ela não esboçava nenhuma reação. Eu estava acompanhado de minha prima, ela iria rever alguns amigos e precisou da minha carona. Mas em breve eu irei vê-la.

...

A Doutora havia me colocado um soro para poder relaxar, não sei se era necessário, eu poderia ter riscos de parir e estar sobre o efeito do soro a qualquer momento, porém ela me explicou e disse que estava tudo bem.

Eu não estava falando com Maycon desde a sua conversa no telefone. Não era de costume termos brigas e nos afastarmos, mas eu estava chateada, e ele sabia bem disso.

Algumas batidas soaram pelo quarto em que estávamos e logo em seguida a porta se abriu.

— Você tem visita. - Uma enfermeira avisou.

— Eu não o deixo entrar se você não quiser – Maycon se levantou de onde estava sentado.

— Ele já está aqui, não é? Então o deixe entrar.

— Eu tô tentando concertar as coisas Isa.

— Maycon.

Ele simplesmente foi até a porta, e recebeu Richard.

— Eai cara, quanto tempo.

— Nem tanto, eu diria uns 9 meses. - É, parece que minhas falas alugaram um tripé na cabeça de Maycon.

Não pude deixar de tentar esconder o riso. O que chamou atenção de Rich o fazendo vir até mim.

— Oi. - Um oi baixo, tímido, receoso.

— O que você está fazendo aqui?

— Você sabe bem Isabel. Não vamos fazer uma confusão.

— O fato de você estar aqui já deixa tudo um pouco confuso não acha? E pelo amor de Deus como você soube que eu estaria aqui.

— Olha, não precisa se irritar, não quero te prejudicar. A gente conversa depois, e eu te explico tudo. Tudo bem?

— Eu só não entendo por que quer fazer parte disso tudo. - Nesse momento me dei conta que Maycon já não estava mais na sala.

— Eu vou ser um pai presente Isa. Eu fiquei sem rumo quando você me falou que estava grávida e eu senti medo. Sei que foi mais difícil para você do que pra mim, mas eu quero tentar.

— Não é um jogo Rich, onde você perde e para de jogar.

— Você sabe que eu nunca paro.

Nisso ele tinha razão. Antigamente chegamos a nos encontrar umas duas vezes antes de descobrir minha gravidez. Um desses encontros foi em sua casa, ele tinha vários jogos e sempre ganhava, como se treinasse e aperfeiçoasse até ser o melhor.

Pode-se chamar de vicio, se for analisar pelo ponto de vista certo. Mas eu diria que ele era, persistente.

Eu fiquei em silêncio, virei meu olhar para janela em minha direita.

— Me deixa tentar. - Segurou minha mão e a beijou.

— Apenas com o bebê Rich, apenas.

— Tudo bem.

— E agora.

— Já escolheu um nome? - Falou enquanto colocava as mãos atrás da cabeça.

— Pensei em Alan. Bruno Alan.

— É lindo. Nosso pequeno Bruno Alan. Você está bem?

....

Eu nunca havia me sentido tão bem após um sono, mas o estranho é que não lembro em que momento comecei a dormir. Até onde sei ainda estava conversando com Richard.

Olho em volta e encontro a sala vazia, o silêncio chega ser ensurdecedor, podia-se escutar apenas o barulho do aparelho cardiológico, que por via das dúvidas sempre me permitia checar, pelo bem-estar do bebê, que até então parecia tudo ok.

Mas havia algo errado, havia apenas uma linha cardiológica. – Em um instinto pus a mão sobre a barriga, ela não estava mais lá.

Travei minha mandíbula tentando conter o choro, meus olhos não sabiam para onde olhar como se não quisessem ser vistos. - Eu não sabia o que estava acontecendo.

— Isa, como você está? - A porta se abre e Maycon entra se aproximando de mim rapidamente quase em um vulto, se pôs sentado ao meu lado da cama. - Sua voz não estava alta ou elevada como sempre, dessa vez estava baixa, leve.

Meus olhos arregalados e marejados perguntaram por mim sem mesmo eu soltar a voz.

— Olha, o que eu vou falar não vai ser legal – Ele não falava, ele sussurrava, e seus olhos assim como os meus seguravam o choro.

— O bebê morreu Isa. Listeriose, uma bactéria, que contém em alguns alimentos, eu sei que ele parecia bem. Mas aí[...] ele parou de respirar depois que você desmaiou. A médica disse que o parto teria que ser cesariano para uma tentativa de salva o bebê. Vocês estavam ligados. - Ele enxugou as lagrimas do rosto e eu não conseguia nem mais sequer ouvi-lo.

Eu matei o meu filho.

Um zumbido alto semelhante a um apito se preencheu no meu ouvido esquerdo. Meu coração errava as batidas e cada uma delas conseguia-se escutar como se estivessem do lado de fora do meu peito. Minha respiração se perdeu, fechei os olhos em uma tentativa de regularizá-la e falhei.

— Eu quero meu bebê. Maycon, por favor, eu fiz tudo certo não pode ser...

— Vai ficar tudo bem Isa. - Segura minha mão e eu o olho incrédula. - Pelo menos agora não precisa mais se preocupar.

Não é possível. - Ergui a mão e dei um tapa forte em seu rosto. - O som causado ecoou pela sala e quando seu rosto se virou para me olhar.

Eu acordei.

— Oi, calma, está tudo bem. - Em um susto quase salto da cama. Olho ao redor da sala e ponho a mão sobre a barriga. Ela estava lá, e eu me acalmei.

— Nunca mais quero a porcaria desse soro. - Estávamos apenas eu e a doutora na sala.

— Essa é a primeira reclamação que recebo. - Deu uma risadinha.

— Onde estão os meninos?

— Seu irmão falou que precisava resolver umas coisas, o outro rapaz disse que ficaria até você acordar, mas não se preocupe, as visitas e acompanhantes não tem limite de tempo determinado.

— Agora que eu devo me preocupar mesmo.

— Visita indesejada?

— Digamos que eu consigo achar um milhão de pessoas no qual eu preferia que estivesse aqui nesse momento.

— Posso dar um jeito, não queremos uma mamãe desconfortável por aqui. - Piscou em minha direção.

— Não, relaxa, eu aguento.

— Tudo bem. Você vai sentir contrações em alguns minutos, o efeito do soro vai encerrar e vamos poder dar início ao processo do parto, vai dar tudo certo. Seu bebê está saudável Isabel, não tem com que se preocupar.

Suas palavras me acalmaram e eu pude apenas esperar, e instantaneamente pensei. - Por onde será que anda Nicolas.

....

Eu tinha planos em mente, e todos eles envolviam Isabel. Eu não sou louco, mas se ficasse mais um dia sem apenas observá-la de longe, acho que me tornaria um.

— Iai cara. - Nos cumprimentamos com as mãos, como se fosse uma disputa de força.

— Eu não entendi bem, achei que já tivéssemos resolvido a situação do carro.

— Sim está tudo certo com o carro.

Estávamos na minha casa, Fernanda tinha se ausentado para resolver uns problemas. Maycon nunca havia sido convidado por mim para nos encontrarmos assim, afinal nossos assuntos eram de importância masculina, não envolviam Isabel. Quando perguntei a ele se podíamos nos encontrar para conversar não houve êxito de sua parte, o que me deixou estranho, deduzindo que ele fosse gay.

— Na verdade eu só queria mesmo relaxar, achei que pudesse me fazer companhia. - Isso foi muito estranho, porque infernos eu falei isso.

— De boa cara – Ele se sentou em um banco de madeira que se escorava próximo ao balcão.

— Como vai a vida? Ta tranquilo?

— Cara, olha. Eu sei que tá rolando alguma coisa, você está com problemas, é isso? Fala aí, quem sabe a gente não o desenrola.

— Merda! Tabom.

— Pronto, agora sim, vamos lá. - Olhava para mim e ao mesmo passo dava uma golada na bebida que lhe servi.

— Eu gosto da sua irmã.

— Esse é o problema? - A ponta de suas sobrancelhas quase se unira com a reação formada em sua testa.

— Não, é que eu achei que ficaria com raiva, na verdade eu tinha certeza, até agora.

— A minha irmã é linda Nicolas, e ela sabe disso. Você não seria o primeiro amigo meu que fica apaixonado por ela.

Mas eu posso ser o primeiro a fazer ela se apaixonar. - Um pensamento que saiu baixo em forma de voz, e ele ainda sim claramente escutou.

— Você pode tentar hehe. - Riu descaradamente.

— Eu não vou fazer igual aqueles homens dos filmes que aposta o coração das garotas por dinheiro.

— Eu não pedi pra você fazer isso. - Se levantou. - Minha irmã está em um hospital agora, prestes a ter neném. A todo momento ela se queixa, sente medo, sente raiva. Tudo isso porque simplesmente acha que vai se tornar um fardo pra mim, algo que ela jamais seria. A última coisa que eu quero é uma fila de idiotas que vão destruir a vida dela. E eu espero mesmo Nicolas que você não seja um problema para ela.

— Era isso que eu estava esperando. - Fui em sua direção e o abracei amigavelmente. - Eu posso ser um problema para você, mas para ela, seria impossível. Eu não permitiria.

— Fala por você ou por ela?

— Por mim.

— Então é isso? Me usou para saber onde ela estava?

— Eu preciso vê-la, ajudá-la.

— Eu nem te disse onde ela está, e sabe que não posso dizer, não é.

— Eu sei. Não precisa me dizer. Já me ajudou bastante.

— Eu preciso ir beleza, ela deve está precisando de mim.

— Tranquilo, sem problemas, cuida dela cara.

— Eu vou. Até mais.

Eu estava aliviado. Uma parte de mim dizia que ela estava me evitando, mas independente do que aconteceu para estarmos assim, eu não podia ignorar.

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