O Legado de Sangue

Enquanto as colinas da Sicília eram banhadas por luz dourada e Luana se preparava silenciosamente para começar sua jornada espiritual no convento, um mundo completamente diferente pulsava nas entranhas sombrias de Madri. Era noite, e a cidade vibrava com luzes artificiais, buzinas e sombras apressadas, mas no alto de um edifício luxuoso no centro histórico da capital espanhola, o clima era de absoluto silêncio — um silêncio respeitoso, como se até as paredes reverenciassem o momento que estava prestes a acontecer.

Sebastián Martínez, aos 24 anos recém-completados, fitava seu próprio reflexo no espelho de cristal esculpido da sala principal. Terno preto impecável, gravata justa, cabelos negros penteados para trás e olhos castanho-escuros carregados de um peso que muitos não suportariam nem por um dia. Ali não estava apenas um homem — estava um sobrevivente. Um herdeiro moldado não pelo luxo ou pelo conforto, mas pela perda, pelo abandono e, acima de tudo, pela promessa de vingança.

Doze anos haviam se passado desde a última vez que viu o pai. Tinha apenas doze quando o mundo desabou. Seu pai, Javier Martínez, fora caçado, perseguido e morto como um animal, sem chance de defesa, por fazer o que qualquer Dom honrado faria: tentar limpar a máfia das pragas internas, eliminar traidores, pedras no caminho. Entre os seus inimigos, uma em especial se destacava — a juíza Eleonora Vassel, nome que ainda hoje fazia os olhos de Sebastián endurecerem como pedra.

Ela era jovem, ousada e decidida. Havia assumido o cargo em Paris com apenas 25 anos e, desde o primeiro dia, dedicou sua carreira a desmantelar as rotas ilegais da família Martínez. Seus julgamentos colocaram fim a operações lucrativas, bloquearam rotas de tráfico de armas e fecharam portas valiosas na Europa Oriental. Um prejuízo calculado em milhões. E por isso, Javier fizera o que qualquer homem em sua posição faria: ordenou sua eliminação. Um erro que custou sua própria vida.

A ação despertou a ira da LME — a Legião da Máfia Europeia — e principalmente de dois de seus nomes: Domênico Castellazzo Ferrari e Salvatore D’ Amari. Foi deles que partiu a caçada, foi por ordem deles que o sangue de Javier manchou o chão da Colômbia. E, para Sebastián, isso nunca foi esquecido.

Durante anos, ele se perguntou por que Cesare D'Amari, um antigo aliado de seu pai, havia traído sua confiança, entregando-o à LME como um cordeiro ao abate. A resposta veio mais tarde: o casamento entre Daniela Castellazzo Ferrari e Salvatore selava uma nova aliança, uma nova geração de poder, e para isso, seu pai precisava sair do caminho.

A partir daí, Sebastián conheceu o vazio.

A mãe, Carmen, entrou em luto profundo. Por três anos, manteve a fachada de mulher forte, criando o filho com dignidade, resguardando os negócios e permitindo que o conselheiro mais fiel de Javier, Vicente Morales, assumisse o controle da máfia temporariamente, como mandava o estatuto: Sebastián só poderia assumir aos 24 anos. Mas Carmen não resistiu. Três anos após a morte do marido, foi encontrada morta em casa, deitada com o vestido azul-marinho favorito e um frasco vazio de remédio sobre a mesa de cabeceira. Silenciosa. Digna até o fim.

Desde os 15 anos, Sebastián estava sozinho. Não tinha mais pai. Não tinha mais mãe. Vivia em um apartamento de cobertura em Madri, cercado de luxo e silêncio. Estudou em casa, com os melhores professores. Aprendeu a negociar, a comandar, a manipular. Treinou defesa pessoal, aprendeu a atirar com precisão cirúrgica. Mas, acima de tudo, aprendeu a guardar cada dor, cada decepção, como combustível para o dia em que seria o Dom.

Esse dia chegou. Quinze dias após seu aniversário, a cerimônia privada aconteceu em uma capela subterrânea, onde juramentos de sangue foram renovados diante de dez dos mais antigos aliados da máfia Martínez. Vicente, agora velho e cansado, passou-lhe o anel de ouro com o brasão da família, selando a transição de poder.

— Seu pai acreditava em você — disse Vicente, com a voz embargada. — Agora, mostre a todos o porquê.

Hoje, Sebastián era o Dom. E não havia planos de misericórdia.

 

Ele caminhava agora por seu escritório pessoal, paredes de madeira escura, uma lareira antiga crepitando, e uma foto dos pais sobre a lareira — o último vestígio de ternura naquele espaço dominado por armas, estratégias e mapas de rotas. O mundo não era mais inocente, e ele menos ainda.

Parou diante da estante de arquivos, puxou uma gaveta oculta e tirou uma pasta preta. Dentro, dois nomes em letras prateadas:

Domenico Castellazzo Ferrari

Salvatore D’ Amari

— Vocês destruíram a minha vida… agora é minha vez — murmurou ele, os olhos gelados.

Começaria por Domênico.

Era pessoal.

Sebastián não tinha pressa. Tinha estratégia. Sabia que não poderia enfrentar os dois diretamente. Precisaria infiltrar, desestabilizar alianças, provocar rupturas silenciosas. Talvez começando por um ponto fraco... uma mulher, um filho, um traidor infiltrado. Ele já havia começado a coletar informações.

A vingança é um prato que se come frio, e ele passou doze anos na geladeira do destino. Agora, era hora de servir.

 

Do lado de fora, a cidade seguia seu curso — carros, luzes, vozes apressadas. Mas ali, dentro daquela fortaleza, um novo Dom se erguia.

Sebastián Martínez era um nome que voltaria a ecoar nos salões da máfia europeia.

E ele não descansaria até cumprir sua promessa.

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Comments

Jocemira Castro

Jocemira Castro

Eita Quel ele é muito lindo mas esta com o coração cheio de vingança

2025-06-12

3

Marli Batista

Marli Batista

Eita que agora vai ser tiro porrada bomba 😱😱😱😱😱😱

2025-06-19

0

Marlucy Nascimento

Marlucy Nascimento

Olha quem vai mudar os pensamentos de Sebastian

2025-06-14

0

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