O cheiro de molho de tomate com manjericão tomava conta da casa de Luciana e Mateus. Era domingo, dia sagrado da família, e todos os filhos chegavam em horários alternados, trazendo risos, crianças correndo pelos corredores e abraços apertados que misturavam saudade com rotina.
Carla chegou com Alexandre e Luana. Assim que atravessaram a porta, Mateus se adiantou como se esperasse por aquele momento a manhã inteira.
— Quando é que você vai para o convento, hein, minha princesa? — perguntou ele, já envolvendo Luana num abraço apertado.
— Em janeiro, nono. Mas amanhã cedo mesmo eu vou falar com as freiras. Quero adiantar o processo — respondeu Luana com serenidade.
— Eu vou com você. Faço questão! — disse Mateus, batendo a mão no peito com orgulho.
Carla, com um suspiro meio impaciente, se intrometeu:
— Você pode, por favor, me desobrigar daquela promessa, Papa? Eu queria tanto ter netos da Luana...
— Ângelo vai te dar netos, e muitos! — Mateus rebateu com um sorriso.
Ângelo, que acabava de entrar com um refrigerante na mão, ouviu e logo reforçou:
— Quinze netos, mama. Se for o que a senhora quer, eu entrego!
A sala caiu na gargalhada. Mateus bateu a mão na perna:
— Aí, tá vendo? Vai ter neto de sobra! Para de drama.
Carla bufou, cruzando os braços. Luana olhou para a mãe, com doçura mas firmeza:
— Eu disse que não é mais sobre a promessa, mama. É uma escolha. E eu estou escolhendo ir. Deus plantou esse desejo no meu coração.
Mateus assentiu com um olhar terno:
— Pelo menos eu vou salvar uma...
Carla virou para ele, indignada:
— Então eu sou uma perdida, é isso, papa?
Mateus sorriu com carinho e respondeu:
— Claro que não. Você é uma princesa. Se casou pura. Mas a Luana vai salvar a nova geração. Vai quebrar a corrente que começou lá atrás, com a Luiza que casou com o Lucca na barriga...
Luiza, que escutava da cozinha enquanto pegava a sobremesa, virou-se com um sorriso debochado:
— Já fazem 19 anos, papa. E você ainda não esqueceu?
— Nunca vou esquecer — ele disse, apontando o dedo. — Começou com você, que obrigou o Calloni a tirar a sua pureza. Depois veio a Dayana, que seduziu o pobrezinho do Laranjinha, quase que ela também não chega inteira no altar. Depois teve a Chiara com aquele maldito alemão...
— O nome dele é Klaus, pai! — Chiara gritou da sala.
— Alemão, ué! — Mateus rebateu. — E agora a Alana… essa menina vai me enterrar! Quinze anos e já beijou na boca. E ainda me pediu permissão pra namorar um moleque que mal saiu das fraldas. Lógico que eu disse que não. Se ela insistir, eu tranco ela num colégio interno.
— Ele nem é tão moleque assim! — Alana respondeu, indignada do sofá.
— Ah não? Anda de skate, usa calça larga, boné, piercing no nariz e brinquinho na orelha. Aquilo nem parece homem! Essa menina ainda quer me matar.
— Papa, o Max é legal… — disse Alana, já prevendo o sermão.
— Legal é minha pistola fazendo um buraco na testa dele.
— Pelo amor de Deus, papa! — Carla exclamou.
Luana caiu na gargalhada. A cena era tão típica, tão cheia de exageros carinhosos, que só restava rir.
— Calma, nono — ela disse, sorrindo. — O senhor tem que ficar forte pra aguentar muitos anos ainda.
— Com a sua tia querendo me matar, não sei se duro uma semana! — disse ele, apontando dramaticamente para Alana.
— Nono! — ela protestou.
— É por isso mesmo que, no fim do ano, eu vou reunir todas as minhas netas: Olívia, Mirella, Clara, Juliana, Gabriela, Alice, Beatriz, Bruna, Graziela, Laura e Lívia. Todas! — ele disse com os olhos brilhando. — Você, Luana, vai dar uma palestra. Vai convencer todas elas a virarem freiras. Vamos fundar a ordem das netas Ferrari!
Luana gargalhou alto, enquanto todos na sala explodiam em risadas.
— Eu topo! — ela disse, ainda rindo. — Mas só se tiver bolo de chocolate na confraternização.
— Fechado! — respondeu Mateus, fingindo anotar mentalmente. — Só bolo e rosário!
Alexandre, que até então observava em silêncio, se aproximou de Mateus e Luana com um sorriso orgulhoso:
— Isso tudo só me prova que eu criei uma princesa. E que, sim, eu sou o pai mais orgulhoso do mundo. Mesmo que o coração aperte de ciúmes.
Luana o abraçou.
— Papa, o meu amor é todo de Jesus. E do senhor também. Eu estou feliz, é isso que importa.
— E é mesmo — respondeu Alexandre, com um beijo na testa da filha.
Luciana apareceu com as travessas quentes e anunciou:
— Está servido o almoço! E antes que alguém brigue, o Mateus não cozinhou. Foi tudo feito por mim e pela Luiza. Então, se tiver ruim, a culpa não é dele.
— Graças a Deus! — brincou Daniela.
Todos se sentaram ao redor da enorme mesa, onde as risadas, histórias antigas e esperanças para o futuro se misturavam com o cheiro da comida e o calor do amor familiar. Luana sentou-se ao lado do avô, que lhe lançou um olhar emocionado.
— Obrigado, minha menina. Por manter viva a chama da fé que um dia eu tive medo que morresse.
Ela apertou a mão dele.
— Obrigado por ter acendido essa chama em mim, nono. Você e o seu rosário foram meu caminho até Deus.
E naquele domingo, entre massas fumegantes, memórias e promessas, Luana se confirmou em sua decisão. Não por imposição, mas por vocação. E toda a família, mesmo com piadas, medos e desejos, entendeu — ela não estava perdendo nada. Ela estava encontrando tudo.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Susana Amor
será que vai ser freira mesmo 🤔sei não ❤️😍
2025-06-12
1
Marli Batista
Eu tenho as minhas dúvidas kkkkkkkkkkk
2025-06-19
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Jocemira Castro
Essa família é demais ❤️
2025-06-11
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