A Escolha

A luz suave do entardecer atravessava as janelas do quarto de Luana, banhando o ambiente em tons dourados e pálidos. O hábito branco pendurado à frente do guarda-roupa parecia brilhar mais do que nunca, como se carregasse um chamado celestial. Luana o encarava em silêncio, com os braços cruzados e o coração tranquilo. Era como se já pertencesse àquele mundo.

Carla bateu de leve à porta e entrou sem esperar resposta, já sabendo que encontraria a filha ali, como tantas outras vezes nos últimos meses.

— O que tanto olha para esse hábito, filha? — perguntou, com um sorriso cansado, mas terno.

Luana virou-se devagar, os olhos brilhando de emoção.

— Já está na hora, mama. Amanhã mesmo vou procurar as freiras pra saber como faço pra entrar no convento. A senhora sabe que, assim que passar o final do ano, vou pra lá.

Carla suspirou fundo e sentou-se na beirada da cama, observando a filha com aquele misto de orgulho e tristeza que só uma mãe conhece. Passou os dedos pelos cabelos da menina que, agora mulher, seguia um caminho que ela mesma nunca havia imaginado.

— Eu queria tanto que você se casasse… e me desse netos.

Luana sorriu, aproximando-se da mãe, e ajoelhou-se diante dela, segurando suas mãos com carinho.

— Mama, a senhora sabe que isso não é possível. Eu vou me casar com Jesus. E meus filhos... meus filhos vão ser os meninos órfãos. Eu prometi ao nono, e não é só isso... eu já até gosto dessa vida. Já me sinto uma freira. Gosto das orações, gosto da paz... nunca senti atração por homem nenhum.

Carla a olhou com os olhos marejados. Tentava não chorar, mas a emoção apertava seu peito.

— Meu compromisso é com Deus, mama. O nono só me mostrou o caminho, mas a decisão é minha. Eu escolhi esse amor. Esse chamado.

Carla deu uma risadinha triste, enxugando os olhos.

— Por que você tinha que puxar a mim justo na parte de cumprir promessa? Eu queria tanto ver você entrando de noiva na igreja… de um lado seu avô… do outro, seu pai…

Luana riu baixinho, inclinando a cabeça.

— A senhora vai ver isso com a noiva do Ângelo. Ele vai se casar, vai ser dom da máfia... e eu vou orar por ele. Vou orar para que Deus perdoe o pecado de toda a nossa família.

Carla a abraçou apertado, com ternura e um pouco de dor.

— Não posso te obrigar, não é mesmo, filha?

— Não pode, mama. E eu te amo por respeitar isso.

— O que as duas mulheres da minha vida estão conspirando aí? — disse Alexandre, entrando no quarto com aquele jeito expansivo e bem-humorado que o tornava único. — Já sei, já sei... logo vai chegar o dia da nossa filha ir pro convento...

Ele se jogou na poltrona do quarto, fingindo estar arrasado, e depois piscou para Luana.

— Graças a Deus eu não vou ter que fazer igual meu sogro, hein... segurar um barbado pela camisa. Me livrei disso. Isso aí se chama rainha, prêmio de Deus por tudo que eu passei quando teu avô quase me matou mil vezes até me aceitar.

Carla bufou, cruzando os braços.

— Você sabe muito bem que era drama dele.

— Drama ou não, o velho era bravo! — Alexandre riu, então olhou para Luana. — Mas, falando sério, você poderia tentar convencer ela, Carla...

Luana se levantou, olhando firme para o pai.

— Papa, não é uma questão de convencer. Já está dentro de mim. Vários meninos tentaram me conquistar. Nenhum conseguiu. Nenhum homem. Eu sou de Jesus.

— Isso mesmo, minha princesa — disse Carla, com orgulho na voz. — Vai se casar com Jesus. É o melhor noivo que existe.

Carla ergueu as mãos para os céus, rindo, e saiu do quarto, deixando pai e filha sozinhos.

Alexandre abriu os braços e Luana correu até ele. Sentou-se no colo do pai, como fazia quando era criança. Ele a abraçou com força e afeto.

— Estou orgulhoso de você, minha princesa. De verdade. Mas... — Ele a olhou com doçura. — Você tem certeza do passo que está dando? Eu brinco, mas... se você algum dia quiser ter um relacionamento... eu vou sofrer um pouco de ciúmes, é claro. Mas eu te apoio, sempre.

Luana sorriu, encostando a cabeça no ombro dele.

— Não, papa. Nunca me senti atraída por homem nenhum. Não tenho vontade de ir pra boate, bar... nem de ter muitas amigas. As que tenho não entendem. Querem que eu arrume um namorado, que viva como elas. Mas eu... eu gosto de orar. Gosto de servir ao Senhor. E estou feliz com a minha escolha.

Alexandre assentiu, os olhos marejados.

— E é isso que importa, minha filha: a sua felicidade. Apesar de que eu sou o pai mais orgulhoso do mundo, viu? Não vou morrer cedo de infarto.

Luana gargalhou.

— Seu bobo!

— Mas é sério. Seu avô teve quase dez ameaças de infarto três anos atrás quando a Chiara apresentou aquele pretendente. Não quero passar por isso. Você é linda e perfeita demais pra qualquer um.

— Eu sou só uma menina, papa.

— Pra mim, você é a segunda mulher mais bonita do mundo. A primeira é sua mãe, claro.

Ela sorriu emocionada.

— Eu fico feliz com a história de amor de vocês... na minha história de amor, o noivo é Deus.

Alexandre a apertou contra o peito com força.

— Então que Ele cuide bem de você, minha princesa. Porque você é meu maior orgulho.

Luana fechou os olhos e, naquele momento, sentiu uma paz tão profunda que poderia jurar que o céu se abrira só pra ela.

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Comments

Marli Batista

Marli Batista

Eita Luana ja estou anciosa pra ver o encontro deles ♥️♥️♥️♥️♥️

2025-06-19

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