Há algumas coisas na vida das quais tenho certeza.
1. O almoço é superestimado, a menos que haja mimosas ilimitadas.
2. Felipe Müller foi colocado nesta Terra para me deixar louca.
3. Encontrar a namorada do meu ex-namorado durante um encontro falso é a definição de má sorte.
E, no entanto, aqui estou eu. Vivendo meu próprio pesadelo.
Ava se foi agora, mas suas palavras ainda estão gravadas em mim.
"Eu sempre pensei que você e Guilherme acabariam juntos."
Eu já deveria ter superado isso.
Deveria ser.
Mas então eu o vejo.
Guilherme Monteiro, em toda sua glória de menino de ouro, de "eu fui o único que escapou", parado no balcão da recepção como se o universo estivesse me provocando pessoalmente.
Agarro o pulso de Lipe, provavelmente deixando hematomas.
"Estamos indo. Agora mesmo."
Felipe parece completamente entretido. "Por quê?"
Eu o encaro. "Porque o Guilherme acabou de entrar."
Ele cantarola, irritantemente calmo. "E daí?"
"E daí?", sussurro. "Não preciso que meu ex me veja agora."
Lipe levanta uma sobrancelha. "Por quê?"
Cerro os dentes. "Porque eu deveria estar vencendo o término."
Ele sorri. "Entendo."
"O que?"
"Você está envergonhada."
Eu franzo a testa. "Não estou."
"Você está", ele diz, gostando demais da situação. "Você ainda se importa com o que ele pensa."
Abro a boca para discutir, mas antes que eu possa, Guilherme me vê.
E então — porque o universo quer que eu sofra — ele começa a se aproximar.
Entro em pânico. Com força.
"Lipe", sussurro. "Faça alguma coisa."
Ele dá um sorriso irônico. "Alguma coisa?"
"Sim. Qualquer coisa."
E é assim que acabo com os lábios de Felipe Müller nos meus.
O tempo para.
Ou pelo menos é o que parece.
Porque num segundo estou em pânico, e no outro?
Felipe está me beijando.
E a pior parte?
Eu o beijo de volta.
Não é minha intenção. É puro instinto. Uma reação à maneira como sua boca se move contra a minha — confiante, lenta, devastadoramente boa.
Sua mão segura meu rosto, os dedos roçando meu queixo, inclinando minha cabeça o suficiente para aprofundar o beijo. E de repente, esqueço onde estamos.
Esqueça por que estamos fazendo isso.
Porque por uma fração de segundo, eu juro —eu juro — parece real.
Então, com a mesma rapidez, ele se afasta, parecendo muito satisfeito consigo mesmo.
"Pronto", ele murmura, em voz baixa. "Isso deve bastar."
Eu pisco. Meu cérebro entra em curto-circuito.
O que?
O que acabou de acontecer?
Ah, certo. Guilherme.
Desvio o olhar de Felipe e me viro, ainda atordoada.
Guilherme está parado a alguns metros de distância, com as sobrancelhas levantadas e a boca ligeiramente aberta.
Missão cumprida.
Pigarreio. "Guilherme. Oi."
Ele pisca, recuperando a compostura. "Helena. Eu... nossa. Eu não sabia que você e o Felipe estavam... juntos."
Lipe passa um braço irritantemente casual em volta dos meus ombros. "É recente."
Os olhos de Guilherme se movem de um para o outro. "Hã. Bem... parabéns, eu acho."
Forço um sorriso. "Obrigada."
Ele hesita, como se quisesse dizer mais.
Mas antes que ele consiga, Ava aparece ao seu lado, entrelaçando o braço no dele. "Querido, é melhor a gente ir, já estamos atrasados."
Querido.
Ignoro a forma como meu estômago se revira.
"Certo", diz Guilherme, me lançando um último olhar antes de se virar.
Eu exalo.
Crise evitada.
Então percebo que Felipe ainda está me tocando.
E que ainda posso sentir seus lábios nos meus.
E que estou completamente, totalmente ferrada.
"Então", diz Felipe enquanto saímos. "Foi divertido."
Eu o encaro. "Divertido?"
Ele dá um sorriso irônico. "É. Acho que mereço um 'obrigado'."
Eu paro no meio do caminho. "Por quê?"
"Por salvar você."
Olho para ele. "Lipe, você me beijou."
"Você me disse para fazer alguma coisa."
"Eu quis dizer algo como—literalmente qualquer outra coisa."
Ele dá de ombros, parecendo extremamente satisfeito. "Funcionou, não é?"
Eu franzo a testa. "Você está gostando disso?"
Ele se inclina. "Talvez um pouco."
Eu o empurro.
Ele ri.
E eu odeio o jeito que o som me arrepia
Eu odeio tanto isso.
(....)
Passo o resto do dia evitando meus sentimentos.
E por "evitar", quero dizer entrar em uma espiral.
Porque aqui está a questão:
Aquele beijo?
Foi bom.
Bom demais.
E agora não consigo parar de pensar nisso.
A sensação dos seus lábios. O jeito como ele me tocou como se quisesse. O jeito como me fez sentir desejada de um jeito que eu não esperava.
Não.
Não.
Eu me recuso a ser a garota que se apaixona por seu namorado falso.
Eu não farei isso.
Então, faço o que qualquer pessoa sã faria.
Ligo para a minha melhor amiga.
"Espera." Viviane parece muito divertida. "Ele te beijou?"
"Tecnicamente, eu retribuí o beijo", resmungo, me jogando na cama. "Por acidente."
Ela bufa. "Aham, sei."
"Vi."
"Helena."
Eu gemo. "O que isso significa?"
Ela cantarola. "Depende. Pareceu falso?"
Abro a boca. Fecho-a.
Caramba.
"Não", admito.
Ela suspira. "Helena."
"Está tudo bem." Eu aceno para ela se despedir, como se ela pudesse me ver agora. "Estamos em um encontro de mentira. Coisas assim acontecem."
"Aham. Continue dizendo isso a si mesma."
Viro-me para o lado. "Estou falando sério."
"Certo." Ela faz uma pausa. "Então... o que você vai fazer?"
Eu pisco.
"Nada."
"Nada?"
"Sim." Eu me sento. "Foi um beijo. Seguimos em frente."
Viviane não parece convencida. "Tudo bem. Se você diz."
Concordo firmemente.
Isso é bom.
Não estou sentindo nada por Felipe Müller.
Não agora. Nunca.
...Certo?
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Atualizado até capítulo 35
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