Há muitas coisas que eu preferiria estar fazendo numa manhã de domingo.
Dormindo.
Assistindo os meus amados Doramas .
Não estou mentindo para minha mãe.
Literalmente qualquer coisa que não envolva um encontro falso com Felipe na frente de uma plateia.
No entanto, aqui estou eu, sentada em um restaurante ridiculamente caro no centro de Santa Catarina, em frente a um namorado falso ridiculamente presunçoso, esperando nossas mães chegarem e destruírem todo o nosso "relacionamento" com a precisão de cientistas forenses.
Felipe, claro, parece completamente à vontade. Relaxado, bebericando seu suco de laranja assim é apenas mais uma parte tranquila do seu dia. Enquanto isso, eu seguro minha mimosa como se fosse uma tábua de salvação.
"Você parece nervosa", observa Felipe, inclinando a cabeça, divertido.
Olho para ele por cima da borda do meu copo. "Porque, ao contrário de você, eu tenho alma. E mentir para a minha mãe é crime federal na minha família."
Ele sorri. "Relaxa, querida. Eu vou ser encantador."
"Encantador?", eu bufo. "Você é fisicamente incapaz de encantar."
"Não sei", ele diz lentamente, inclinando-se para a frente o suficiente para que eu sinta o cheiro da sua colônia absurdamente cara. "Você parece bem encantada."
Meu rosto esquenta. O que é injusto, porque não estou encantada. Estou sofrendo.
"Você está delirando", murmuro, quebrando o contato visual.
"Hmm." Ele se inclina para trás, cheio de confiança, de tranquilidade, como se soubesse exatamente o que está fazendo comigo.
Antes que eu possa mandá-lo, olha se eu estou na esquina, as nossas mães aparecem, caminhando direto para nossa mesa.
É isso. É assim que eu morro.
(....)
Nos primeiros dez minutos, tudo correu surpreendentemente bem.
Nossas mães estão emocionadas. Até mesmo eufóricas. Elas se emocionam com o quão perfeitos somos juntos, relembram nossa rivalidade de infância e trocam olhares de cumplicidade, como se estivessem esperando por esse momento há séculos.
"Eu sempre dizia que tinha alguma coisa ali, não era?", minha mãe pergunta, efusiva, cutucando a Sra. Müller.
A Sra. Müller sorri para mim como se eu tivesse curado a fome no mundo.
"Ah, eu sempre soube. O jeito como o Felipe costumava te provocar? Comportamento clássico de um rapaz apaixonado."
Quase me engasgo com a água.
Felipe? Apaixonado? Por mim?
Olho-o de soslaio, esperando ver algum sinal de diversão, mas ele apenas me oferece o sorriso mais suave e irritantemente sincero.
Meu estômago faz uma coisa estranha e traiçoeira.
Não. Não. Eu não vou cair no falso charme de Felipe Müller.
Bebo minha mimosa com afinco. Concentração, Helena.
Lipe interpreta o papel perfeitamente — sorrindo, respondendo perguntas, olhando para mim como se eu fosse o rei.
E eu? Estou me segurando firme.
Até minha mãe fazer a pergunta.
"Então", ela diz, tomando sua mimosa, com um brilho nos olhos. "Quem se apaixonou primeiro?"
Eu congelo.
Lipe nem hesita. Ele se vira para mim, com olhos calorosos e voz suave.
"Ah, definitivamente eu."
Meu coração tropeça.
Nossas mães desmaiam.
E então, para piorar as coisas, ele pega na minha mão.
Seus dedos se entrelaçam aos meus, quentes, sólidos, naturais demais.
Nossos olhares se encontram e, de repente, não consigo respirar.
Porque aqui está a questão.
Felipe é muitas coisas. Irritante. Presunçoso. Uma ameaça. Mas ele também é bom demais nisso.
Isso deveria ser falso.
Então por que—por que parece que estou em um momento de comédia romântica?
Eu me forço a desviar o olhar, apertando sua mão com força suficiente para machucá-la.
Ele apenas sorri.
Eu o odeio. Eu o odeio muito.
(....)
De alguma forma, sobrevivo ao almoço.
Por muito pouco.
Assim que nossas mães vão embora, eu me viro para Felipe.
"Você está tentando me matar?"
Ele sorri. "O quê? Achei que fui ótimo."
"Você segurou minha mão."
"Você não me soltou."
Eu o encaro. "Você disse que se apaixonou primeiro."
"Você preferiria ter dito que era você?"
Eu gemo. "Isso é um desastre."
Ele ri. "Relaxa, querida. Só estou tentando ser convincente."
Solto um suspiro profundo. Ele tem razão. Foi convincente. Convincente demais.
Mas antes que eu possa argumentar, uma voz corta o ar.
"Bem, bem. Achei que tinha visto vocês dois aqui."
Eu me viro e meu estômago embrulha.
Porque ali, parada, com uma aparência irritantemente perfeita, está Ava.
A nova namorada do meu ex-namorado.
E de repente, percebi que toda essa coisa de namoro falso ficou muito mais complicada.
Ava é o pior tipo de beleza.
Do tipo que não faz esforço, fica bem em qualquer iluminação e nunca teve uma fase estranha. E o pior de tudo? Ela é legal.
O que significa que nem consigo odiá-la direito.
"Helena!", ela diz animadamente, aproximando-se. "Eu não fazia ideia de que você e o Felipe... tinham um caso, vocês super combinam um com o outro."
A mão de Lipe pousa na parte inferior das minhas costas, casualmente, sem esforço, reivindicando.
Quase morro de susto.
"Ah, sim", eu digo, forçando um sorriso largo e radiante. "Super combinamos. Mas, uh... sim."
Os olhos de Ava passam de um para o outro, curiosos.
Felipe, é claro, apenas aperta mais forte.
"Que divertido", ela diz. "Eu sempre achei que você e o Guilherme acabariam juntos."
Eu não recuo.
Eu absolutamente não reajo à menção do meu ex.
Mas Felipe?
Lipe ri. Baixo, caloroso, possessivo.
"Ah, querida", ele murmura, dando um beijo na minha têmpora. "Você nunca me disse que a Ava era tão otimista."
Meu cérebro entra em curto-circuito.
A expressão de Ava vacila por uma fração de segundo, o suficiente para eu saber que Felipe acertou o alvo.
Então ela se recupera, sorrindo docemente. "Bem, o Guilherme sempre teve uma quedinha por você, Helena. Acho que ele ficou arrasado quando vocês terminaram."
Felipe ri, completamente despreocupado. "É, bom. Alguns caras perdem, outros ganham."
Sua mão desliza pela minha cintura.
Eu engulo ar.
Ava ri levemente. "Acho que sim. Bom, preciso voltar para a minha mesa — só queria dizer oi. Que bom ver você, Helena."
Ela se vira e vai embora, graciosa como sempre.
Eu exalo.
Só para perceber que Felipe ainda está me tocando.
Eu me afasto rapidamente. "Que diabos foi isso?"
Felipe parece completamente à vontade. "O quê? Eu estava ajudando."
Fico boquiaberta. "Você beijou minha testa."
"Têmpora", ele corrige. "Foi estratégico."
"Você..." Inspiro fundo. "Eu te odeio."
Seus olhos brilham. "Não, você não precisa."
Abro a boca e depois a fecho.
Porque a verdade é?
Na verdade, não sei mais.
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Atualizado até capítulo 35
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