capítulo 4

O barulho da madeira se partindo ecoou pela casa como um trovão. João correu até a espingarda pendurada atrás da porta. Era antiga, de caça, mas carregada. Quando olhou pela janela, viu duas silhuetas se aproximando, vestidas de preto, usando óculos de visão noturna.

— Léo, pro celeiro. Agora.

— Eu posso enfrentar eles.

— Não, não aqui. Eles vão destruir tudo. E se você perder o controle?

Léo hesitou, mas os passos acelerados na varanda o convenceram. Saiu pela porta dos fundos com João logo atrás. Correram pela trilha que levava ao milharal, a plantação alta escondendo seus corpos na escuridão.

Os homens invadiram a casa logo depois, rápidos, silenciosos, treinados. Vasculharam os cômodos, armados com dispositivos que zumbiam e piscavam em verde.

— Estão usando detectores de calor — sussurrou Léo, já ofegante. — Vão nos encontrar rápido.

— Então temos que despistar — disse João, puxando uma garrafa de querosene de uma casinha de ferramentas ao lado do celeiro. — Pode usar teus “poderes” pra acender isso?

Léo assentiu, um brilho prateado surgindo na ponta dos dedos. Com um leve estalo, a chama nasceu, viva. João derramou o combustível em fileiras entre as fileiras de milho e, com um olhar cúmplice, Léo lançou a faísca.

O fogo se espalhou rápido, criando uma parede viva entre eles e os perseguidores.

Do outro lado da plantação, os agentes pararam, confusos. Um deles sacou uma arma, o outro puxou um comunicador.

— Eles incendiaram a plantação. Estão tentando cobrir a fuga.

Léo e João correram por trás do celeiro, em direção ao rio. A mochila que João tinha preparado estava escondida lá — um instinto antigo de quem aprendeu desde cedo a sempre deixar uma rota de saída pronta.

— Tem uma trilha que leva pra mata fechada — disse João, jogando a espingarda no ombro e puxando Léo pela mão. — É estreita, mas se a gente conseguir atravessar, posso chamar o Silvério. Ele tem um barco que leva mantimentos pro povoado. Pode nos ajudar a desaparecer.

Léo olhou para João com admiração e medo misturados.

— Por que você tá fazendo isso por mim?

— Porque você é mais do que um experimento. E porque... eu não deixo ninguém que amo pra trás.

Léo estremeceu, como se aquela palavra — amo — tivesse mais peso do que as balas que vinham atrás deles.

Mas não havia tempo para palavras. Apenas para correr.

Atrás deles, o fogo consumia a plantação e iluminava a noite com laranja e vermelho. Tiros começaram a ecoar. Um deles atingiu uma árvore próxima, e João empurrou Léo para o chão, protegendo-o com o corpo.

— Tão perto assim?

— Perto demais.

Léo fechou os olhos. A luz prateada voltou a subir por sua pele. E quando abriu os olhos novamente, algo novo aconteceu: o chão sob eles tremeu levemente, como se a energia dele estivesse mexendo com a própria terra.

— O que você tá fazendo? — perguntou João, alarmado.

— Criando tempo. Mas vou precisar que corra quando eu mandar.

— E você?

Léo sorriu.

— Eu sou rápido o bastante.

Com um grito abafado, a energia de Léo explodiu em um raio de luz que varreu as árvores ao redor, derrubando galhos e jogando os agentes para trás. Era como se a floresta tivesse sido sacudida por uma onda invisível.

— AGORA!

João correu, e Léo logo atrás, cambaleando, sangrando pelos olhos, mas firme. A trilha da mata engoliu os dois. Atrás, o som de helicópteros já começava a soar.

Mas a noite ainda era deles. Por enquanto.

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