Um homem lindo.

— Helena, por favor... você já tem vinte e dois anos, não aprendeu ainda que a dona Julia não vai voltar atrás quando se trata de nós? Acha mesmo que vir até o escritório do papà vai mudar a cabeça da mamma?

Minha irmã estava impaciente no elevador, ajeitando a jaqueta de couro como se estivesse prestes a pilotar uma moto naquele exato momento — o que, aliás, era exatamente o que ela queria fazer.

— Não vou desistir até estar em cima de uma pista, com capacete e minha moto. Quero competir de verdade, não brincar em circuito fechado. — Ela bufou. — Se eu fosse homem, já estaria com contrato assinado e troféus na estante.

— Se você fosse homem, estaria escoltado por cinco seguranças e carregando uma Glock. Não é só sobre você, Lena. É sobre todos nós. Sobre o nome que a gente carrega.

— Exato! E o que tem de mais uma Rossi fazer barulho no motor? É só competir, não é o fim do mundo.

Sorri. Helena era sempre fogo. Inquieta, intensa, impossível de ignorar.

Entramos no escritório e fomos direto para a sala reservada de papà. O lugar sempre cheirava a couro, bebidas e papel, e sinceramente, aquilo não combinava com Giovanni, nosso pai sempre foi de campo, mas a burocracia sempre tem que ser feita.

Ele levantou assim que nos viu e nos envolveu nos braços como se ainda fôssemos meninas.

— Minhas meninas. — Giovanni nos beijou no topo da cabeça, um gesto que repetia desde sempre.

— Papà, convence a mamma. Só você pode. 1 ela resmungou, enquanto eu me sentava rindo.

— Você ainda está nisso, Helena?

— Estou e vou continuar até ouvir um “sim”. Ou no mínimo um “veremos” com data marcada.

Ele riu, cansado e carinhoso. Depois se encostou na mesa, cruzando os braços com aquele ar de quem lidava com mil negócios e ainda assim fazia tempo para as filhas.

— Eu falo com ela. Mas com calma. Não quero mais brigas por causa disso. A segurança de vocês ainda é minha prioridade, Lena.

— Mas e a minha liberdade?

— Vai ter que negociar com sua mãe, figlia mia. — Ele piscou. — E boa sorte com isso.

— Você prometeu me ajudar!

— E estou ajudando... não estou dizendo “não”, estou dizendo “não agora”. — Ele sorriu e olhou o relógio. — Mas antes de voltar ao trabalho, vou almoçar com vocês. Vamos para casa juntos.

Helena fez um gesto vitorioso. Eu só sorri, sem pressa, aproveitando o calor daquele momento.

Mas então, ao sairmos da sala, algo me fez parar.

Um homem saindo da sala do tio Enrico.

Alto. Traje escuro impecável. Queixo marcado, olhar afiado, porém silencioso. Não era um homem qualquer, era o tipo de presença que atravessava o ambiente sem precisar dizer uma palavra.

Tio Enrico saia da sala com ele e veio ao nosso encontro. Ele sempre teve uma postura firme, mas seus olhos eram gentis comigo e com Helena assim como com todos da família — apesar de sempre parecer mais observador com os meninos por motivos óbvios.

— Martina, Helena. Que bom ver vocês por aqui — ele cumprimentou, com um leve sorriso. — Giovanni, preciso que venha comigo um instante. Quero que conheça pessoalmente nosso novo parceiro, Gael Salvatore.

Ele se virou quando tio Enrico o chamou.

— Gael — disse meu tio — este é Giovanni Rossi. Tenho certeza de que vocês terão muito o que conversar.

Eles apertaram as mãos. O toque entre dois homens que conhecem o poder e sabem disfarçar intenções.

— Um prazer — disse papà, com a voz grave e firme. — Espero que esteja sendo bem recebido.

— Melhor do que imaginei. A Itália tem uma forma especial de abrir portas… para quem sabe bater.

A forma como ele falou. A calma. O tom baixo e arrastado, quase um sussurro. Aquilo mexeu comigo de novo.

Foi quando tio Enrico fez um gesto em nossa direção.

— E essa é Martina, filha do Giovanni. A estilista que vai apresentar as peças no jantar, e essa é Helena, nossa bomba atômica.

Ele virou o rosto para mim e o olhar que lançou me atravessou.

— Ah… então é você quem desenha sonhos — ele disse, com uma voz grave e algo que soava como flerte, mas vinha camuflado em polidez. — Faz sentido… tem olhos de quem enxerga o que os outros não veem.

Fiquei sem reação.

Por um segundo, minhas palavras evaporaram. Meu rosto aqueceu e o coração bateu um pouco mais rápido, sem a menor necessidade.

— Obrigada… — murmurei. — Com licença, eu... preciso organizar as últimas provas do desfile. Tem muito a fazer ainda hoje.

Helena só acenou com a cabeça entediada.

— Filha, o segurança está com vocês né, vão indo, vou logo em seguida, ou esperem aqui na minha sala. — meu pai falou.

— Vamos indo pai, mas vamos indo. — falei e inclinei a cabeça, sutilmente, e me afastei antes que ficasse ainda mais visível o calor em minhas bochechas.

Caminhei firme pelo corredor. Mas por dentro, algo em mim estava completamente desorganizado.

Não era só a forma como ele me olhou.

Era a sensação incômoda de que aquele homem carregava algo perigoso.

E que, por algum motivo inexplicável, isso me atraía.

Ali na portaria Helena viu que esqueceu o celular na sala do papa, ela subiu e fiquei ali, passaram alguns minutos ele apareceu novamente.

Gael Salvatore.

Ele conversava com alguém do andar, mas quando nossos olhos se encontraram — e se encontraram mesmo, como se o tempo tivesse sido programado para aquilo, senti o fogo.

Não aquele fogo que queima por fora. Era por dentro, no peito, na pele, na base do estômago. Como se o mundo tivesse ficado em silêncio por um instante só para permitir aquele olhar.

E ele me olhou.

Com intensidade. Com um interesse frio, que me fez estremecer e, ao mesmo tempo, me acendeu de forma estranha.

Eu sorri, educada. Um reflexo.

Ele não sorriu. Só me fitou. Depois desviou, como quem guarda segredos demais para permitir fraquezas.

Mas já era tarde.

Alguma coisa em mim acordou.

E, mesmo sem entender o porquê, sabia que aquela história ainda estava longe de terminar.

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Comments

Irene Saez Lage

Irene Saez Lage

Meu Deus como será isso paixão a ferro e fogo 🔥🔥🔥

2025-06-08

2

bete 💗

bete 💗

irá se render ❤️❤️❤️❤️❤️

2025-06-11

0

Marilia Carvalho Lima

Marilia Carvalho Lima

😲😲

2025-06-09

1

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