Dizem que quem nasce gêmea nunca está sozinha.
No meu caso… nascer gêmea significou também nascer diferente.
Helena e eu somos como o sol e a lua. Iguais por fora, opostas por dentro. Somos filhas do mesmo sangue — Giovanni e Julia Rossi —, herdeiras do nome, do império, das expectativas.
Mas enquanto eu sempre quis entender o mundo com calma… Helena queria acelerá-lo até o limite.
Ela quer ser piloto de moto. Acha graça quando papai diz que é arriscado, mas a incentiva dando mais peças modificadas para sua moto.
Eu?
Eu sonho em ser estilista, cercada de tecidos e sendo reconhecida pelo talento e não pelo nome.
— Você tá com a cabeça na Lua de novo, — resmunga Helena do meu lado, mastigando um pedaço de focaccia como se fosse a última refeição da vida dela. — Ou pensando no seu amor épico, imaginário, invisível?
— Amor de verdade existe, só não bate à porta como pizza — respondo, rindo, meu pai era o primo rebelde e esse espírito veio com ela, Helena é assim, não tem apego em beijar uma boca e fingir ao papai que está vivendo a espera.
Estamos na mesa da Nonna, uma daquelas noites em que a família toda se junta. E quando digo toda, falo de vozes por todos os lados, pratos sendo passados, cheiro de molho no ar e aquele caos organizado que só os Rossi entendem.
Aurora está de um lado, fazendo fotos da comida, ela ficou responsável pelas fotos do ano, um ritual que fazemos para o natal, momentos registrados fazem muita diferença.
Leonardo parece o tio Enrico, sério, centrado, o futuro Don é maravilhosamente igual o pai, e com certeza vai nos proteger muito bem.
Bella, sentada com postura perfeita, faz da dança a sua paixão.
Heitor, mais calado, observa tudo com olhos de quem já entendeu mais do que parece. Sempre foi o mais introspectivo entre nós.
— Então, Helena, me diga — pergunta Enrico, pai de Aurora e Leonardo —, o que vamos fazer com essa sua ideia maluca de correr como seu pai corria?
— Primeiro, vocês vão parar de achar que é maluquice. E depois, me ajudar a convencer minha mãe a me deixar treinar na pista da famíglia — responde ela, orgulhosa.
— Vai sonhando, filha — diz minha mãe seco, meu pai vai responder, provavelmente que não tinha perigo, que o sobrenome afastaria muitos, mas o olhar sério da minha mãe o calou.
— E você, Martina? — pergunta Lavinia, com a taça de vinho na mão. — Ainda quer levar a costura a sério?
— Quero — respondo, firme, mas com delicadeza. — mas por mim e não pelo meu sobrenome.
Estávamos na terceira rodada de sobremesa — panna cotta com calda de frutas vermelhas — quando papai levantou tirando o paletó escuro e afrouxando a gravata. A mesa se silenciou por um instante, não porque ele impusesse medo, mas porque Giovanni Rossi sempre trazia histórias maravilhosas.
Ele beijou minha testa, fez um toque de pulso com Helena e trocou um olhar rápido com Enrico e Luca, então girou o corpo em direção a nós e começou a falar:
— Tenho uma notícia — disse, com um leve sorriso no canto da boca. — E envolve uma de vocês em especial.
Todos se viraram para mim e minha irmã ao mesmo tempo. Aurora já arregalava os olhos, Helena deixou o garfo cair no prato com um tilintar leve.
— Uma nova festa está sendo organizada com os investidores internacionais da vinícola e do grupo hoteleiro. E adivinhem? Todos querem conhecer de perto um modelo original de Martina Rossi.
— Ma che meraviglia! — exclamou Bella, batendo palmas. — Finalmente vão ver a artista que temos em casa!
— É sério? Eles querem mesmo as minhas roupas? Você não mexeu os pauzinhos né? — perguntei, surpresa de verdade, sentindo as bochechas esquentarem, não queria que fosse pelo nome, sempre me vinha isso em mente.
— Não minha filha, sei do seu talento e sua paixão — respondeu papai, agora se servindo de uma taça de vinho como se estivesse narrando um jogo de xadrez. — A lista de convidados inclui nomes da imprensa de moda, alguns empresários, estilistas da velha guarda e jovens influentes. Vai ser uma vitrine perfeita para sua marca.
Minha mão tremeu de leve no guardanapo. Senti o coração bater mais rápido — aquele tipo de excitação que me dava quando eu acertava um croqui ou via uma das minhas peças ganhando forma no manequim.
Helena me deu um leve empurrão com o ombro.
— Pronto, irmãzinha. Tá na hora da sua revolução de tecidos acontecer em grande estilo. Vai mostrar para esse mundo que nem só de armas e acordos vive um Rossi.
Aurora já estava abrindo o celular para ver datas. Bella fazia perguntas sobre paletas de cores e tecidos. Até Heitor, discreto, soltou um “parabéns, prima” com um sorriso de canto.
— E vai ter desfile? — perguntou nossa mãe, empolgada. — As meninas podiam desfilar suas criações, imagina que lindo?
— Vamos ver o que sua filha planeja, e ver a segurança em primeiro lugar — disse papai, me olhando com um orgulho nada discreto, ele nos criou com excelência e tem orgulho disso. — A festa é daqui a duas semanas. No palacete em Florença.
Florence. Arte, moda, luz dourada sobre mármore. Quase me perdi só de imaginar.
Mas então, a realidade me puxou de volta. Minha câmera na estante. Meus tecidos no ateliê. E o nome estampado em cada uma daquelas etiquetas:
Martina Rossi.
— Pai, ai meu Deus, preciso saber a decoração da festa, tema, tem tanto para resolver, criar uma peça para cada uma de nós seria perfeito, nem sei por onde começar. — falei quase gritando.
— Sua mãe vai te ajudar, fica calma, estamos com toda a organização preparada, nada é demais para o seu talento.
Era real. Estava acontecendo.
Eu ia mostrar quem eu era — não só como filha de Giovanni Rossi, mas como mulher, como artista, como marca.
Mamãe sorri de um jeito que só eu entendo. Aquele sorriso silencioso de quem vê as filhas crescerem do seu próprio jeito.
No fundo, sei que há muito mais por trás dos olhos dela. E nos de papai também. Eles sempre carregam uma tensão que não se fala… mas se sente. Como se o passado ainda morasse entre a gente, à espreita.
Mas hoje à noite, entre risos, pratos e sonhos lançados no ar como moedas em uma fonte, ninguém pensa em tragédia. Só em planos.
E eu, por mais que viva nesse castelo, nesse nome — Rossi —, ainda sonho com algo que nenhum dinheiro pode comprar:
Um amor verdadeiro. Um que me veja além do sobrenome e um futuro brilhante traçado por mim.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Marly G Vieira
si eu tinha. limpaminha cada mas já vi que vai ficar para amanhã essa história irá arrebentar com o meu tempo tá boa demais .
2025-06-10
1
Irene Saez Lage
Começou interessante pode pode ficar mais ainda quero ver muita emoção
2025-06-08
2
bete 💗
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-06-11
0