O som abafado da festa foi diminuindo à medida que se afastavam da sede da fazenda, e o silêncio da noite no sertão abraçava-os. João Antônio, com as mãos nos bolsos, mantinha um ritmo tranquilo ao lado dela, enquanto Laura sentia o coração acelerar a cada passo em direção à sua casa. A trilha de chão batido, banhada pela luz amarelada dos postes da propriedade, parecia mais longa do que o normal.
— Seus pais parecem estar se divertindo bastante — João Antônio comentou, sua voz suave quebrando o silêncio. O canto dos grilos e o coaxar de alguns sapos eram os únicos sons além de suas vozes.
Laura sorriu, um pouco nervosa. — Eles amam festas. Acho que ficariam até o dia amanhecer, se pudessem.
Um silêncio carregado se instalou entre eles. Laura sentia o olhar de João Antônio sobre ela, e o calor subia por seu pescoço. Ela podia sentir a tensão no ar, uma tensão diferente, quase palpável.
Ao chegarem em frente ao portão da casa-grande, Laura hesitou. Aquele era o momento de se despedirem, mas algo a impedia de dar o próximo passo. João Antônio parou, e ela se virou para encará-lo. Os olhos dele brilhavam com uma intensidade que nunca havia notado antes.
— Laura... — ele começou, a voz rouca, e estendeu a mão, tocando o braço dela de leve. O toque, inesperado, fez um arrepio percorrer a espinha de Luiza.
Ela olhou para os olhos dele, sentindo o peito subir e descer rapidamente. João Antônio deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles. O coração batia como um tambor.
Ele se inclinou, o rosto se aproximando lentamente do dela. Laura fechou os olhos, o corpo inteiro em alerta, e quando os lábios de João Antônio finalmente encontraram os seus, foi como se um trovão explodisse em seu peito. Era um beijo delicado no início, quase um questionamento, mas a resposta dela veio imediatamente: seus lábios se moveram em sincronia, respondendo à intensidade crescente do beijo.
O tempo pareceu parar. As mãos dele deslizaram para a cintura dela, apertando-a de leve, enquanto as mãos Laura encontraram o cabelo de João Antônio, seus dedos se emaranhando nos fios macios. O coração dela batia tão forte que tinha certeza de que ele podia ouvir. Era um misto de surpresa, excitação e uma felicidade que a fez flutuar.
Quando eles se separaram, ofegantes, os olhos de Laura ainda estavam fechados por um instante, como se ela quisesse prolongar a sensação.
— Uau... — ela murmurou, abrindo os olhos e encontrando o olhar de João Antônio, que tinha um sorriso travesso nos lábios.
Ele riu, o som vibrando em seu peito. — Uau, mesmo. — João Antônio a puxou para mais perto, o braço em volta da cintura dela, o polegar acariciando suavemente a pele exposta. — Eu estava... com medo de fazer isso.
Laura inclinou a cabeça, surpresa. — Medo? Você? — Ela nunca o tinha visto hesitar antes.
— É. Porque eu queria muito. — Ele deu um beijo leve na testa dela. — Queria demais.
Ela sorriu, o rosto corando. — Eu... eu também queria.
Eles ficaram ali, apenas sentindo o calor um do outro, a brisa suave da noite no sertão e o silêncio que, agora, parecia cúmplice de um novo começo.
- Eu posso te confessar uma coisa?
João Antônio a encarou, os olhos curiosos, o sorriso dele um convite.
— Diz.
— Foi o meu primeiro beijo. — As palavras pareciam ter saído da boca dela antes que pudesse impedi-las.
Um brilho diferente acendeu no olhar de João Antônio. Ele sorriu, um sorriso que foi crescendo até se tornar quase radiante, e sem dizer uma palavra, a beijou de novo. Dessa vez, o beijo foi mais profundo, mais intenso, carregado com a doçura de uma primeira vez e a promessa de tudo o que ainda estava por vir.
Ficaram ali, perdidos um no outro, por um tempo que não soube precisar. Pareciam horas, o mundo à sua volta dissolvido na bolha que eles criaram. O calor dos corpos, o cheiro da terra molhada pela brisa noturna, tudo se misturava em uma sinfonia perfeita.
De repente, um som vindo da direção da festa quebrou o encanto. Laura e João Antônio se afastaram rapidamente, seus olhos procurando a origem do barulho.
— Escutei alguém se aproximar — João Antônio sussurrou, tenso.
Observaram juntos, os corações batendo rápido. A silhueta de duas pessoas se formava na trilha que levava à casa-grande.
— São meus pais! — Eu murmurou, o pânico tomando conta dela.
Não havia tempo para explicações. Eles não podiam ser pegos.
— Tenho que ir. — Falei,olhei nos olhos, a urgência em seu tom.
João Antônio assentiu, compreendendo. — Vai.
Acenei rápido e entrei correndo em casa, a adrenalina pulsando em minhas veias. João Antônio, por sua vez, afastou-se de fininho, deslizando entre as árvores e a escuridão da noite, desaparecendo antes que meus pais pudessem vê-lo. O meu coração ainda estava em disparada, mas agora, junto ao nervosismo, havia uma euforia incontrolável. A fazenda nunca mais seria a mesma.
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Atualizado até capítulo 58
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