Eu estava ali, deitada na rede, mexendo no celular e tentando afastar a discussão com a minha mãe da minha cabeça. O sol já começava a se despedir, pintando o céu de laranja sobre a caatinga. De repente, ouvi a voz do meu pai, vindo da direção do curral.
— João, seu pai viajou. Eu quero que você tome conta dos cavalos. — Meu pai parecia dar instruções.
— Sim, senhor. — A voz de João. Meu coração deu um pulo. Era ele!
— Venha que vou lhe apresentar minha filha. Ela gosta muito de cavalo e, quando quiser dar uma volta, sele o mais manso e vá acompanhando.
Não podia acreditar. A poucas horas, minha mãe me proibia de sequer conversar com "esse tipo de gente", e agora meu pai o estava trazendo para perto de mim! Quase ri da ironia, mas o nervosismo tomou conta. Ouvi João pensar, provavelmente sem querer que eu ouvisse: "Eita, agora serei babá da riquinha." Deu vontade de revirar os olhos, mas me contive.
— Certo, senhor Luís. — Ele respondeu em voz alta, e os passos se aproximaram.
Levantei da rede num pulo disfarçado, ajeitando a roupa. Meu pai e João se aproximavam, e quando nossos olhares se cruzaram, senti um arrepio na espinha. Ele era ainda mais bonito de perto.
— Laura! — Meu pai me chamou, tirando-me do transe. — Este é João, nosso mais novo funcionário. Quando precisar de uma volta a cavalo é só procurar por ele.
— Sim, pai. — Consegui balbuciar, minha voz quase sumindo. Tentei sorrir para João, mas senti as bochechas esquentarem. A proibição da minha mãe ecoava na minha cabeça, mas a oportunidade de estar perto dele era irresistível.
— Eu quero dar uma volta no final da tarde, — eu disse, com a voz um pouco mais firme do que eu esperava, olhando para João. — Pode selar por volta das 16:30.
Vi um leve tremor nos cantos dos lábios de João, como se ele estivesse segurando um sorriso. Meu pai apenas assentiu, satisfeito com minha iniciativa.
— Ótimo, Laura! João, você ouviu. Prepare o cavalo mais manso para ela. E lembre-se de acompanhá-la.
— Sim, senhor Luís. — João respondeu, e por um instante, nossos olhos se encontraram. Havia algo no olhar dele que não consegui decifrar, uma mistura de surpresa e talvez um toque de divertimento.
Meu pai se virou para resolver outras coisas da fazenda, e eu fiquei ali, sentindo o calor do sol da tarde na pele, e um calor ainda maior dentro de mim. A proibição da minha mãe ainda ecoava, mas a chance de passar um tempo a sós com João, mesmo que sob a desculpa de um passeio a cavalo, era muito mais tentadora.
Chegou o final da tarde e eu me vesti rapidamente. A ansiedade me impulsionava em direção ao estábulo. Lá, o encontrei: João, aquele que, quem sabe, poderia ser o amor da minha vida. É claro que ele provavelmente não me daria bola; ele parecia ser bem mais velho e eu tinha apenas 15 anos. Mas isso não me impediu de querer estar perto dele.
Ele já havia selado o cavalo mais manso para mim e pegou outro para si. Saímos para uma volta tranquila, e começamos a conversar.
— Qual o seu nome completo? — perguntei, tentando parecer casual.
— João Antônio. — ele respondeu. — Eu moro aqui, mas tem só uns dois meses. Sou filho do gerente da fazenda.
Ele contou que morava com a mãe na cidade, mas devido às condições financeiras, teve que se mudar para o sítio com o pai, já que "o patrão", meu pai, pagava muito bem.
— Tô me acostumando com essa gente. — ele continuou. — Apesar de eu morar na cidade, a vida na fazenda não é fácil.
— Eu imagino. — concordei. — Tem dois anos que eu não venho aqui. Minha mãe não gosta muito daqui, mas meu pai agora disse que a gente precisava fazer parte da fazenda. Foi por isso que eu resolvi passar minhas férias aqui, né?
Houve um breve silêncio, e então eu me dei conta de algo básico.
— Qual é a sua idade? — perguntei, sem nem mesmo pensar.
— Eu tenho 21 anos,e você? — João Antônio respondeu, com um tom calmo.
— Eu estou cursando o segundo ano do ensino médio. — comecei, pensando alto. — Ano que vem,eu faço 16, aí termino o ensino médio. Vou cursar Medicina, que é o meu sonho. E você, João Antônio?
— Ah, eu só terminei o ensino médio. — Ele deu de ombros, e havia uma ponta de melancolia na voz. — Meu sonho era fazer Veterinária, mas não me deixaram.
Conversamos muito sobre nossos sonhos, as expectativas e as realidades que a vida nos impunha, enquanto o sol se punha, pintando o céu de Pernambuco com tons de fogo. O ar da tarde no sertão, com seu cheiro de terra e mato, parecia envolver nossa conversa.
Quando estávamos voltando para a fazenda, eu ia descendo do cavalo e escorreguei. Ia caindo, mas João Antônio foi incrivelmente rápido. Antes que eu tocasse o chão, ele me segurou. Meus braços se enrolaram no pescoço dele por instinto, e eu me vi colada ao seu corpo. Nossos rostos estavam próximos, e nossos olhos se encontraram em um olhar intenso.
A proximidade dele, o cheiro de suor e cavalo, e o olhar fixo dele em mim, fizeram com que eu me esquecesse completamente da queda.
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Atualizado até capítulo 58
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