CAPÍTULO 4

A música tava alta demais pra pensar com clareza. As luzes piscavam, o chão tremia com o grave, e eu me perguntava o que, diabos, eu tava fazendo ali de novo.

Mas então meu olhar cruzou o dele.

Enzo.

Sentado no camarote, cercado por dois homens que tinham mais cara de segurança do que de amigos. Um copo de uísque numa mão, o cigarro na outra. E os olhos... só pra mim.

Não desviou nem quando Letícia me puxou pela cintura, gritando perto do meu ouvido:

— Aquele ali tá te comendo com os olhos, amiga! Meu Deus, quem é esse homem?

Camila- Um problema

— respondi sem pensar.

Ela riu, me empurrando pra pista.

— Então dança com o problema, mulher!

E eu dancei.

Mas mesmo entre tantos corpos, eu sentia o dele me observando. Me consumindo com o olhar. Me deixando em chamas sem encostar um dedo. A música mudou, o ritmo ficou mais lento, mais sensual, e eu fechei os olhos só por um segundo, movendo o quadril sem pudor. Como se aquilo fosse uma provocação direta pra ele.

Quando abri os olhos, ele não tava mais lá.

E aí uma mão firme encostou na minha cintura.

— Tá brincando com fogo, Camila

— ele disse no meu ouvido, com a voz mais grave que já ouvi na vida.

Eu me virei devagar, o coração disparando como se eu tivesse corrido uma maratona. A boate inteira sumiu. Só existia ele. Aquela boca perto demais. Aquele calor entre nós.

Camila- E você? Veio atrás de mim?

— Coincidências não existem quando o desejo é recíproco.

Me arrepiei inteira.

Ele me puxou de leve pela cintura, só o suficiente pra me colar no corpo dele. Os olhos cinzentos cravados nos meus. As mãos firmes, mas respeitosas. A tensão sexual entre nós era tão forte que eu podia tocar.

— Você não deveria me desejar, Camila

— ele sussurrou.

— Eu sou o tipo de homem que destrói o que toca.

Camila- E quem disse que eu quero ser salva?

— rebati, o tom baixo, provocante.

Os olhos dele se estreitaram, e por um momento achei que ele fosse me beijar ali mesmo, no meio da pista. Mas ele só sorriu de canto, aquele sorriso torto de quem sabe o efeito que tem.

— Me encontra lá fora em dez minutos. Se tiver coragem.

E saiu.

Me deixou ali, com o coração na garganta, o corpo em chamas, e a cabeça girando.

Letícia veio atrás de mim logo depois:

— Amiga, cê viu aquele homem? Que cena foi aquela?

Camila- Eu vou ali fora

— falei, tentando não parecer nervosa.

Camila- Preciso de ar.

Mas não era ar o que eu queria.

O beco lateral da boate era escuro, silencioso, e tinha um quê de cena de filme. E ele tava lá. De costas, fumando, o paletó agora pendurado no ombro, a camisa parcialmente aberta no colarinho.

Quando me viu, jogou o cigarro fora e veio até mim.

Sem palavras. Sem promessas. Só tensão.

— Sabia que você ia vir

— ele disse, a voz carregada de certeza.

Camila- E o que você quer comigo, Enzo?

Ele chegou mais perto, devagar, até ficarmos a centímetros de distância. O calor do corpo dele me cercando, me entorpecendo.

— Quero descobrir até onde você aguenta brincar

— ele respondeu.

Camila- E se eu quiser jogar mais sujo que você?

Ele riu, baixo. Um som grave, perigoso. A mão encostou na minha cintura, subindo com calma até o meio das minhas costas.

— Aí a gente vê quem sai queimado primeiro.

E aí sim, ele me beijou.

Não foi suave. Não foi delicado. Foi urgente, possessivo, como se ele estivesse esperando por aquilo desde o primeiro segundo em que me viu. As mãos dele me apertaram com firmeza. A boca dele invadiu a minha com gosto de pecado.

E eu deixei.

Beijei de volta com a mesma intensidade. Me entreguei àquela loucura. Àquele homem que eu mal conhecia, mas que parecia ler meu corpo com facilidade assustadora.

Quando ele mordeu meu lábio inferior, um gemido escapou.

— Você não faz ideia do que tá começando, Camila

— ele disse, com a respiração pesada.

— Mas quando entrar nesse jogo... não tem volta.

Camila- Então me joga dentro dele

— sussurrei, sem medo.

Ele sorriu. Um sorriso cruel e excitante.

— Ainda não. Não hoje. Mas em breve... vou fazer você se lembrar de mim até nos seus sonhos mais sujos.

E então me soltou. Saiu como se nada tivesse acontecido. Me deixando ali, com a pele em chamas e a alma tremendo.

A NOITE....

Deitada na cama naquela noite, sozinha, eu ainda sentia a boca dele na minha. O gosto. O toque. O domínio.

E desejei que tivesse ido além.

Porque agora eu sabia:

Com Enzo Moretti, não existia meio-termo. Ou você se entrega inteira… ou cai fora antes que seja tarde demais.

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