O Rei Lycan
Sombras da Ruína: O Retorno dos Lycans
O mundo já havia tombado. As grandes cidades eram esqueletos ocos cobertos de musgo e silêncio. O céu, sempre acinzentado, não conhecia mais o sol. Foi nesse mundo moribundo que eles saíram das sombras — não lobos comuns, mas Lycans: bestas colossais, três vezes maiores que um homem adulto, forjadas em ódio e primordiais como a própria noite.
Os humanos não tinham chance.
As balas ricocheteavam de suas peles como gotas de chuva. Lâminas se partiam em contato com suas garras. Resistir era suicídio. Submissão, humilhação. Suas vítimas eram deixadas empaladas ou partidas ao meio — não por necessidade, mas como aviso. Uma mensagem cravada na carne: não há redenção, só domínio.
E no centro desse exército de pesadelos, havia ele — o Rei. Um ser antigo, com centenas ou talvez milhares de anos. Ninguém sabia seu nome, mas todos sentiam sua presença. Ele governava os Lycans com mão de ferro e uma vontade de ferro mais fria que o inverno nuclear.
Diziam que sua fúria era antiga, enraizada na tragédia. Por culpa dos humanos — ou como ele os chamava, os imundos — ele havia perdido sua companheira e toda sua ninhada. Desde então, piedade não fazia parte de seu vocabulário. Ele não perdoava. Ele caçava. Ele vingava.
Mesmo em sua forma humana, era impossível ignorá-lo: 2,10 metros de altura, músculos como se esculpidos em pedra, olhos vermelhos como sangue coagulado. Uma aura densa, opressora, como se a guerra tivesse feito morada em sua alma. Um homem que nunca sorria, porque o mundo já não merecia alegria.
Mas era em sua forma bestial que o terror ganhava nome.
A pele se rasgava, os ossos se esticavam, e a fera surgia — branca como ossos velhos, olhos como brasas vivas, garras que poderiam rasgar tanques como papel. Era rápido, letal, e incansável. Uma lenda viva, saída dos pesadelos contados às crianças para que não saíssem de casa à noite. Só que agora, os pesadelos caminhavam entre os escombros, e ninguém mais estava seguro.
O mundo pós-apocalíptico não era dominado pela fome, pela radiação, ou pela insanidade...
Era regido por um trono de ossos, ocupado por um rei lycan, sedento por vingança.
Os Restos da Humanidade e o Segredo de Lisa
Com o tempo, os humanos que restaram entenderam uma verdade amarga: a guerra já estava perdida muito antes de começar. Não havia como enfrentar o que rastejava da escuridão. Os que sobreviveram fizeram o que puderam — desapareceram. Refugiaram-se em florestas espessas, cavernas ocultas, montanhas esquecidas, velhos bunkers deixados por guerras passadas.
Mas ele sempre achava.
Não havia padrão. Ele aparecia sem aviso. O ar mudava. Os cães silenciavam. E então, o massacre. As comunidades começaram a viver como nômades, sempre em movimento, nunca ficando muito tempo no mesmo lugar. Os olheiros mais experientes sabiam reconhecer os sinais. Quando o presságio surgia — um cheiro no ar, um silêncio estranho — eles ficavam para trás, atrasando o inimigo, pagando o preço final para dar aos outros uma chance.
Porque morrer pelas garras da besta era um destino cruel.
Mas pior ainda era sobreviver.
Os que eram capturados tornavam-se escravos, brinquedos do ódio que governava os Lycans. Não havia honra, só humilhação. Ninguém merecia aquilo.
No meio dessa luta desesperada, havia ela — uma presença silenciosa entre os sobreviventes, tentando parecer comum, tentando se apagar. Mas era impossível. Seus cabelos brancos, longos até a cintura, reluziam mesmo sob a fuligem e a poeira. A pele clara, sem nenhum cuidado, parecia ter sido tocada pela própria lua. E os olhos... verdes, profundos, como uma floresta sob chuva. Inesquecíveis.
Chamava-se Elisa, mas os mais próximos a conheciam apenas como Lisa.
O que quase ninguém sabia — o que ela escondia com mais cuidado que qualquer suprimento ou arma — era sua natureza real. Lisa era uma fêmea lycan.
Diferente dos machos, as fêmeas eram menores, de traços mais delicados, e podiam passar por humanas com relativa facilidade. Lisa usava isso a seu favor. Vivia entre os humanos, ajudando, protegendo, cuidando das crianças como se fossem suas. Sua bondade era genuína. Ela não se importava em carregar lenha ou partilhar o último pedaço de carne seca — fazia de tudo para que aquele grupo, aquela pequena chama de humanidade, não se apagasse.
Mas havia mais.
Lisa era um oráculo.
Escolhida por uma força antiga — talvez a própria Deusa da Vida — carregava dentro de si o dom da visão. Sabia onde caçar, onde se esconder, quando partir. Suas premonições eram a única razão de muitos ainda estarem vivos. Para os sobreviventes, ela era sorte, esperança, milagre. Mas nunca disse de onde vinha seu dom. Nem que era uma lycan. Nem que fugia do mesmo monstro que todos temiam.
Porque se ele soubesse...
Se o Rei soubesse da existência dela — uma fêmea lycan renegada, com o dom da visão — não haveria caverna, floresta ou montanha onde ela pudesse se esconder.
Mas por enquanto, seu segredo estava a salvo.
E enquanto respirasse, Lisa usaria tudo o que tinha para manter os humanos longe da escuridão.
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Atualizado até capítulo 40
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