A porta da sala abriu-se com um leve rangido. O interior era amplo, silencioso e elegante, coberto por tapetes brancos com bordados florais e cercado por cortinas translúcidas que flutuavam com a brisa. O perfume de jasmim no ar era suave e familiar, como um eco da infância. Dei alguns passos hesitantes em direção ao centro, onde uma figura me observava sentada em um divã.
Antes que eu pudesse me aproximar mais, senti uma mão firme empurrando minhas costas com impaciência.
—Anda logo — murmurou Dama Shen, antes de fechar a porta atrás de mim com firmeza.
Ali, no fundo da sala, sentada sob a luz difusa de uma lamparina baixa, estava Consorte Rui. Ela apoiava o rosto nas mãos com leveza e me observava em silêncio. Seu hanfu roxo de bordados prateados realçava a beleza serena de uma mulher acostumada a viver entre véus e cerimônias. A barriga saliente deixava claro o avançado de sua gestação.
Ela sorriu, suave.
—Seja bem-vinda. Você deve ser a Linyue, não é?
Inclinei-me em uma reverência cuidadosa, como me ensinaram no pavilhão, com o coração batendo alto dentro do peito.
—Sim, minha senhora — respondi.
Levantei o olhar por um instante, apenas por reflexo. E naquele instante, seus olhos encontraram os meus. A reação dela foi imediata. Seu corpo pareceu enrijecer, e ela se ergueu lentamente do divã, os olhos arregalados como se enxergasse um fantasma.
Caminhou até mim em passos firmes, sem desviar o olhar. Quando parou à minha frente, estendeu a mão e segurou meu rosto com uma delicadeza tão hesitante quanto urgente. Aproximou-se até que eu pudesse sentir sua respiração e, com um movimento suave, ergueu meu queixo, examinando cada traço como se estivesse buscando algo há muito perdido.
De repente, sem aviso, ela me puxou para um abraço apertado. Seus braços envolviam meu corpo com uma força contida por anos. Por um segundo, não entendi o que estava acontecendo. Meus braços hesitaram... mas depois se moveram sozinhos. Aquela sensação quente. Aquele cheiro. Aquele toque. Eu já havia sentido aquilo antes.
—...Mãe?
Ela se afastou apenas por um instante, seus olhos brilhando de lágrimas que não fazia questão de esconder. Mas logo me abraçou de novo, ainda mais forte.
—Minha bebezinha... — sussurrou com a voz embargada. — Me perdoa... Me perdoa por te deixar sozinha. Eu juro que tentei voltar...
Senti meu coração bater contra o dela, confuso, mas reconhecendo aquele lugar. Aquele colo.
Ela se afastou mais uma vez, os dedos tocando meu rosto como se ainda estivesse em dúvida entre realidade e sonho.
—Você é a Hua, não é? Eu tenho certeza de que é.
—Lady Rui... por favor.
Me afastei por um momento, engolindo em seco, e voltei a me curvar diante dela como deveria ter feito desde o início.
—Minha mãe faleceu quando eu tinha dois anos. Peço desculpas por quebrar suas expectativas... Mas jamais poderia ser filha de alguém tão nobre quanto a senhorita.
Ela permaneceu em silêncio por um instante. As mãos tremiam discretamente, mas seu olhar não vacilava. Então, com uma calma inquietante, ela perguntou:
—Você sabe como sua mãe... faleceu?
A pergunta me pegou desprevenida.
Me endireitei devagar, sem saber ao certo o que responder.
—A velha que me criou dizia que... homens vieram buscar minha mãe. Disseram que ela fugiu de um bordel, que estava em dívida.
Eu lembro... lembro dela me escondendo num armário.
Depois disso, disseram que ela foi levada.
E ninguém mais voltou.
As palavras saíram mais baixas do que eu esperava.
Mas Lady Rui continuava me olhando com aquele mesmo olhar — como se cada palavra confirmasse algo dentro dela.
—Você tem certeza de que ela morreu ou isso seria uma suposição do que você e as outras pessoas acham?
Balancei a cabeça em silêncio, por que não faço ideia.
Ela se aproximou mais uma vez.
—Então como tem tanta certeza de que sou nobre demais para ser sua mãe?
Eu fiquei em silêncio por um instante, sentindo o coração bater um pouco mais rápido. A pergunta me pegou — não pela força dela, mas pela simplicidade. Era o tipo de pergunta que se enrosca na garganta.
E aí veio o dilema.
Respondo o que penso? Será que vou parecer atrevida? Talvez devesse medir as palavras, fingir humildade, aceitar em silêncio...
Mas sinceramente? Depois de tudo que vivi até aqui, não dá pra seguir fingindo o tempo inteiro.
Dane-se. Serei eu mesma.
—Como a senhorita tem tanta certeza de que sou sua filha?
Tentei manter o tom firme e respeitoso, mas havia um leve peso na voz. Não era afronta — era dúvida verdadeira. Medo disfarçado.
Eu sei que pareço com ela. A semelhança está nos olhos, no nariz, até na forma como erguemos a sobrancelha quando estamos em alerta. Mas… o mundo é grande. Existem muitas pessoas parecidas entre si. A semelhança sozinha não é suficiente.
Ela não recuou. Não pareceu ofendida. Apenas virou-se, caminhando até uma mesa lateral, e abriu uma gaveta estreita envolta em tecido de seda.
—Porque você tem uma marca de nascença — disse, com suavidade. — Uma pequena mancha em forma de folha, logo abaixo da sua costela direita. Eu mesma a observava enquanto te banhava, quando você era só um bebê que mal conseguia se manter em pé.
Minhas pernas ficaram um pouco trêmulas.
Mas ela não terminou ali.
Com cuidado, desenrolou um tecido fino que tirou de dentro da gaveta. Nele, repousava um colar de couro antigo, com um pingente de meia-lua esculpido em madeira clara. Um entalhe simples, um pouco torto nas bordas. Familiar demais.
—E se ainda resta alguma dúvida — ela sussurrou —… este era o seu colar favorito.
Eu reconheci na hora.
Não porque era bonito, ou raro.
Mas porque… era meu.
Quantas vezes brinquei com ele quando era pequena?
Quantas vezes adormeci com os dedos enrolados nessa meia-lua sem saber por quê?
Era como reencontrar uma parte da minha memória perdida em algum lugar do tempo.
E naquele momento, o silêncio entre nós falou mais alto do que qualquer palavra.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
♥Kat-Kit♥
Só elogios!
2025-06-07
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