voltando o passado

Eu falei que hoje sua vida iria mudar.

Dei um passo para trás, confusa.

— Como assim?

— Consegui um estágio pra você — ela respondeu, como quem entrega um presente precioso. — E a sua entrevista é hoje... às 10h40.

Fiquei sem reação. Senti minhas pernas quase falharem.

— Mas… como assim um estágio? Aqui? — olhei ao redor, para o prédio enorme e espelhado. — Você já trabalha aqui?

Ela sorriu, um pouco sem graça.

— Já tem um mês. Eu queria te contar antes, mas preferi esperar o momento certo.

Levei a mão à boca, surpresa.

— Então foi por isso que você disse que não poderia estar no jornal à tarde?

— Sim — ela riu. — Achei que você ia perceber.

— Isadora… o que eu vou fazer aqui? Eu não sei nada desse mundo de negócios, de empresa grande…

Ela revirou os olhos, com aquele olhar de preguiça carinhosa que só ela sabia fazer.

— Sério, Isainny? Vai se fazer de boba agora?

— Você é a melhor pessoa do jornal. Sabe todos os arquivos de cabeça, resolve qualquer problema de computador, lembra cada detalhe das matérias antigas. O pessoal lá fala até que você é um gênio.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. O coração acelerado. As palavras dela ecoavam dentro de mim como um bálsamo... e como um desafio.

Talvez eu realmente tivesse algo especial. Talvez.

Mas uma coisa era certa: naquele momento, diante daquele prédio imenso, da confiança da minha melhor amiga, e do frio na barriga que eu sentia… eu sabia que a minha vida estava mesmo prestes a mudar.

Enchi o peito de ar e ergui a cabeça.

Isadora estava ao meu lado com um sorriso cheio de orgulho — daqueles que a gente não esquece nunca.

Abracei aquela energia e fui até a recepção. Havia uma senhora de meia idade atrás do balcão, o cabelo quase todo branco, preso num coque simples.

Tinha um ar calmo, mas o olhar era atento... como se lesse mais do que só nomes numa lista.

— Meu nome é Isainny Souza Andrade. Estou aqui para a entrevista de estágio — disse, tentando manter a voz firme.

Ela me olhou de cima a baixo, como quem analisa não só a roupa, mas a alma.

Então digitou algo no computador.

— Sim, senhorita Isainny — disse, por fim. — A senhorita vai seguir por esse corredor à sua frente. Há um elevador. Vá até o terceiro andar.

Assenti.

Isadora me deu um leve empurrão de incentivo e seguimos juntas até o elevador.

O som dos saltos dela ecoava ritmado pelo corredor claro e frio.

Dentro do elevador, Isadora apertou o botão do 3º andar.

— Vai dar tudo certo — ela disse, com confiança.

— Espero — sussurrei, mais para mim mesma.

As portas se abriram. Ela saiu comigo… mas, de repente, parou.

— Eu fico por aqui. Sua entrevista é na sala 307, no fim do corredor. Só entrar e dizer seu nome.

Assenti, tentando sorrir.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, outras pessoas entraram no elevador.

Três homens de terno, uma mulher com fones de ouvido e olhar distante.

Foi aí que senti.

Uma sensação estranha percorreu minha pele…

Como um arrepio que não vinha do frio, mas de dentro.

Uma espécie de pressentimento.

Olhei em volta.

Nada parecia fora do normal, mas eu sabia que algo estava diferente.

Como se tivesse pisado num lugar que já conhecia — mas só em sonhos.

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Comments

Lourdes zabala

Lourdes zabala

Incrivelmente emocionante! 😭

2025-06-05

1

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