Capítulo 3 – O Mistério da Casa Amarela

As férias de verão ainda não tinham acabado, e Clara e Gustavo continuavam inseparáveis, em busca da próxima aventura. A vila de São Miguel do Vale, com suas ruas de paralelepípedo e casas coloridas, parecia esconder histórias em cada esquina. E havia uma, em especial, que todos evitavam comentar: a Casa Amarela, no fim da Rua dos Ipês.

Era uma construção antiga, com janelas de madeira sempre fechadas e um jardim tomado por ervas daninhas. Nenhum morador se lembrava de alguém que tivesse morado lá por muito tempo. Os adultos diziam que era só uma casa velha, mas as crianças da vila — como sempre acontece — tinham suas próprias teorias: que ali morava uma bruxa, que fantasmas espiavam pelas frestas, que o tempo parava dentro daqueles muros.

Gustavo, obviamente, estava obcecado.

— “A gente precisa entrar lá. Vai que tem um tesouro escondido, ou alguma coisa mágica!”

Clara arregalou os olhos.

— “Você quer mesmo entrar na casa que todo mundo evita? Gustavo, e se tiver alguém morando lá de verdade?”

— “Melhor ainda! A gente descobre o segredo!” — respondeu ele, com aquele brilho nos olhos que ela já conhecia bem. O brilho das ideias malucas.

Depois de muita insistência, Clara concordou. Não por acreditar nos mistérios, mas porque... bem, era Gustavo. E ela não conseguia dizer “não” por muito tempo.

Esperaram até o fim da tarde. Quando o sol começava a se esconder, os dois pedalaram devagarinho até o portão enferrujado da Casa Amarela. As bicicletas ficaram escondidas atrás de uma moita, e eles passaram por um buraco na grade, se esgueirando como espiões de desenho animado.

O jardim era ainda mais assustador por dentro. Galhos secos arranhavam as roupas, o mato alcançava os joelhos, e o chão rangia sob seus pés. Quando chegaram à porta da frente, Gustavo tocou a maçaneta. Estava destrancada.

— “Você trouxe lanterna?” — sussurrou Clara.

— “Claro. E chocolate.” — respondeu ele, como se os dois itens tivessem igual importância.

Lá dentro, a casa cheirava a poeira e coisa antiga. Havia móveis cobertos por lençóis e quadros tortos nas paredes. Clara andava devagar, olhando tudo com cautela. Gustavo ia na frente, apontando a lanterna como se fosse uma espada luminosa.

Encontraram um velho piano na sala, uma estante cheia de livros mofados e, o mais estranho, uma caixinha de música ainda funcionando, largada sobre uma mesa. Quando Clara a abriu, uma melodia suave e triste começou a tocar, ecoando pela casa. Os dois pararam, hipnotizados.

— “Quem será que deixou isso aqui?” — sussurrou ela.

Antes que Gustavo pudesse responder, uma voz suave veio do andar de cima.

— “Tem alguém aí?”

Congelaram. O coração de Clara parecia querer sair pela boca. Gustavo puxou a mão dela devagar e começou a andar de ré, sem fazer barulho.

Mas, antes que conseguissem sair, uma figura apareceu no topo da escada. Era uma senhora, magra e de cabelos completamente brancos, vestida com uma camisola azul clara. Ela não parecia assustada — apenas surpresa.

— “Ora... vocês são só crianças.”

Depois de alguns segundos tensos, ela desceu os degraus devagar. Seu nome era Dona Eulália, e explicou que morava ali há anos, mas raramente saía, pois tinha problemas nas pernas. Ela ria das lendas e dizia que gostava da solidão e do silêncio da casa.

— “Ninguém vem aqui, o que é ótimo. Assim não me incomodam quando estou lendo ou ouvindo música.”

Ela os convidou para um chá — Gustavo recusou, achando que podia ser veneno, mas Clara aceitou e, para surpresa de ambos, estavam tomando chá de camomila com bolacha de nata em menos de dez minutos, ouvindo Dona Eulália contar histórias da infância, da vila, de quando o rio ainda era cheio de peixes e de como o barulho das crianças correndo na rua era sua trilha sonora preferida.

Na hora de ir embora, já escurecendo, Dona Eulália piscou para os dois.

— “Voltem quando quiserem. Mas tragam mais chocolate.”

Gustavo olhou para Clara com um sorriso largo.

— “Viu só? A casa tinha um segredo mesmo. Uma senhora que gosta de paz e de doces.”

— “E você quase morreu de susto pra descobrir isso.” — respondeu Clara, rindo.

Na volta pra casa, os dois pedalavam devagar, sob o céu estrelado.

E foi ali que, sem perceberem, começaram a descobrir que o mundo não era só feito de aventuras e perigos, mas também de pessoas solitárias que guardam histórias preciosas — e que coragem, às vezes, significa apenas bater à porta errada... e descobrir que ela estava aberta o tempo todo.

Mais populares

Comments

Vivi imut i love you

Vivi imut i love you

Não consigo parar de ler, estou viciada!

2025-06-06

1

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – Laços de Infância
2 Capítulo 2 – Primeiras Aventuras
3 Capítulo 3 – O Mistério da Casa Amarela
4 Capítulo 4 – A Tempestade e o Segredo
5 Capítulo 5 – Cadernos, Conflitos e Corações Desenhados
6 Capítulo 6 – A Chegada de Maria
7 Capítulo 7 – Entre Linhas e Olhares
8 Capítulo 8 – Silêncios Que Gritam
9 Capítulo 9 – Quando o Coração Fica em Silêncio
10 Capítulo 10 – Tempestade no Coração
11 Capítulo 11 – O Eco da Tempestade
12 capítulo 12 destino será??
13 capítulo 13-realidade
14 capítulo 14 -o começo do jogo
15 Capítulo 15– Ensaios e Tensões
16 Capítulo 16 – Confissões e Desafios
17 capítulo 17 encontro e paixões
18 capítulo 18
19 Capítulo 19– O Festival
20 Capítulo 20 – Depois das Luzes
21 Capítulo 21 – Entre Passos Lentos
22 Capítulo 22 – No Fio do Ciúme
23 capítulo 22 - o convite
24 Capítulo 24 – O Primeiro Beijo
25 Capítulo 26– O Pedido e a Noite que Mudou Tudo
26 Capítulo 26-Começando Juntos
27 Capítulo 27– Novos Caminhos
28 Capítulo 28– Novos Caminhos
29 Capítulo 29 – Tempestade à Vista
30 Capítulo 30 – Entre Dúvidas e Recomeços
31 Capítulo 31 – A Tempestade entre Eles
32 Capítulo 32 – A Escolha Mais Difícil
33 Capítulo 33 – Novos Caminhos
34 Capítulo 34– Entre o Passado e o Presente
35 Capítulo 35 – Entre o Fim e Novos Começos
36 Capítulo 36– Entre o Desejo e a Decisão
37 Capítulo 37 – O Convite e a Viagem
38 Capítulo 38 – Ensaios, Confissões e o Beijo
39 Capítulo 39 – Faltando uma semana
40 Capítulo 40 – Gratidão Não é Amor
41 Capítulo 41 – Tudo o Que Ficou por Dizer
42 Capítulo 42– Para Sempre, Agora
43 Capítulo 43– Lua de Mel nas Maldivas
44 capítulo final -o fim
Capítulos

Atualizado até capítulo 44

1
Capítulo 1 – Laços de Infância
2
Capítulo 2 – Primeiras Aventuras
3
Capítulo 3 – O Mistério da Casa Amarela
4
Capítulo 4 – A Tempestade e o Segredo
5
Capítulo 5 – Cadernos, Conflitos e Corações Desenhados
6
Capítulo 6 – A Chegada de Maria
7
Capítulo 7 – Entre Linhas e Olhares
8
Capítulo 8 – Silêncios Que Gritam
9
Capítulo 9 – Quando o Coração Fica em Silêncio
10
Capítulo 10 – Tempestade no Coração
11
Capítulo 11 – O Eco da Tempestade
12
capítulo 12 destino será??
13
capítulo 13-realidade
14
capítulo 14 -o começo do jogo
15
Capítulo 15– Ensaios e Tensões
16
Capítulo 16 – Confissões e Desafios
17
capítulo 17 encontro e paixões
18
capítulo 18
19
Capítulo 19– O Festival
20
Capítulo 20 – Depois das Luzes
21
Capítulo 21 – Entre Passos Lentos
22
Capítulo 22 – No Fio do Ciúme
23
capítulo 22 - o convite
24
Capítulo 24 – O Primeiro Beijo
25
Capítulo 26– O Pedido e a Noite que Mudou Tudo
26
Capítulo 26-Começando Juntos
27
Capítulo 27– Novos Caminhos
28
Capítulo 28– Novos Caminhos
29
Capítulo 29 – Tempestade à Vista
30
Capítulo 30 – Entre Dúvidas e Recomeços
31
Capítulo 31 – A Tempestade entre Eles
32
Capítulo 32 – A Escolha Mais Difícil
33
Capítulo 33 – Novos Caminhos
34
Capítulo 34– Entre o Passado e o Presente
35
Capítulo 35 – Entre o Fim e Novos Começos
36
Capítulo 36– Entre o Desejo e a Decisão
37
Capítulo 37 – O Convite e a Viagem
38
Capítulo 38 – Ensaios, Confissões e o Beijo
39
Capítulo 39 – Faltando uma semana
40
Capítulo 40 – Gratidão Não é Amor
41
Capítulo 41 – Tudo o Que Ficou por Dizer
42
Capítulo 42– Para Sempre, Agora
43
Capítulo 43– Lua de Mel nas Maldivas
44
capítulo final -o fim

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!