O clima no morro ficou pesado. Não era algo visível, mas dava pra sentir no ar, como o cheiro antes da chuva ou o silêncio antes do tiro. O nome de Jade passou a circular em sussurros. Não mais como piada, mas como alerta.
— Cê viu que a menina tá peitando o chefe?
— Dizem que ela cortou contato com ele...
— E o Nero? Vai deixar?
Mas Nero não falava. E esse era o problema.
Jade sabia que o perigo não vinha com gritos. Vinha com silêncio e olhos que observavam de longe. Sabia que quando um homem como Nero parava de falar, era porque estava pensando em como agir.
Mesmo assim, ela seguia. Mais firme. Mais consciente.
Com a ajuda de Vinícius, reformou o pequeno cômodo dos fundos da casa e começou a vender quentinhas para os trabalhadores da comunidade. Cida cozinhava, Jade entregava e organizava os pedidos. Era simples, mas era dela. Pela primeira vez, sentia que estava construindo algo com as próprias mãos.
E, aos poucos, começou a sorrir de novo.
Vinícius aparecia quase todos os dias. Sempre discreto, sempre gentil. Nunca forçava conversa, nunca passava dos limites. Mas era no jeito como a ouvia, no modo como falava do futuro, que Jade via a diferença. Ele não a queria para mostrar poder. Queria partilhar o pouco que tinha.
E isso mexia com ela.
Mas também mexia com Nero.
Naquela sexta-feira, perto das sete da noite, enquanto Jade fechava o portão da pequena cozinha, sentiu uma presença atrás dela. Quando virou, lá estava ele. Nero. Jaqueta preta, expressão fria, olhar sombrio.
— Então agora você virou dona de casa? — a voz saiu baixa, carregada de veneno.
Jade manteve a postura.
— Virei dona de mim. E isso, pra você, é imperdoável, né?
Ele se aproximou devagar.
— Você tá brincando com fogo, Jade. Acha mesmo que esse Vinícius vai te dar o que eu dava? Dinheiro? Proteção?
— Ele me dá paz. E isso você nunca soube o que é — respondeu, encarando-o.
— Paz? — Ele riu, sarcástico. — Paz não enche barriga. Nem protege de bala.
— Mas também não sufoca, não agride, não transforma carinho em prisão.
Nero parou. Pela primeira vez, parecia... afetado. Mas durou pouco.
— Você tá me desafiando? — perguntou, com o maxilar tenso.
— Não. Eu tô me libertando. Se você quiser me machucar por isso, faça. Mas saiba: eu já fui ferida demais pra temer o que vem de fora. Hoje, eu me cuido.
Ele deu um passo à frente, mas nesse momento, Vinícius surgiu ao lado do portão.
— Algum problema aqui?
Nero olhou pra ele com desprezo. Depois, pra Jade. Por fim, sorriu de canto.
— Avisa pra ele que o morro tem dono. E que mulher que brinca de ser livre, às vezes, some sem deixar rastro.
E foi embora, deixando no ar uma ameaça clara.
Jade sentiu um calafrio, mas não recuou. Virou para Vinícius e disse:
— Ele vai tentar me destruir. E se isso acontecer... eu quero saber que, pelo menos uma vez, vivi por mim.
Vinícius segurou sua mão.
— Então que ele venha. Mas dessa vez, você não vai enfrentar sozinha.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Foquita Retrasada
A cada capítulo, me apaixono mais por essa história. 📖❤️
2025-06-02
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