O domingo amanheceu quente, e Jade decidiu ajudar a mãe com as quentinhas. Queria ocupar a mente, fugir da confusão que Nero trazia para sua cabeça. Desde a briga com ele, algo tinha se quebrado por dentro. Não era só o medo. Era o gosto amargo de perceber que estava sendo tratada como posse — e não como alguém de valor.
Por volta do meio-dia, enquanto organizava os potes na calçada, um carro preto parou em frente à casa dela. Vidro fumê, roda cromada, som no talo. Dava para sentir o dinheiro escorrendo da lataria. Quando a porta se abriu, o morro pareceu prender a respiração.
De dentro, saltou uma mulher de vestido colado, salto alto e perfume marcante. Pele bronzeada, cabelo escorrido até a cintura, batom vermelho como sangue. Uma beleza de novela. Todos sabiam quem era: Letícia, ex de Nero, a mulher que ele havia colocado em um apartamento no asfalto e que sumira há poucos meses.
Ela parou diante de Jade com um sorriso cínico.
— Então é você, a nova escolhida? — disse, cruzando os braços. — Tá mais pra castigo do que pra escolha.
Jade, surpresa, ergueu os olhos e manteve a postura.
— Posso te ajudar?
— Pode. Pode me explicar que bruxaria você fez pra ele trocar isso aqui — apontou para si mesma — por isso aí.
As palavras bateram forte. Mas Jade respirou fundo, tentando manter a calma.
— Talvez ele tenha cansado de beleza vazia.
Letícia riu alto, debochada.
— Ah, minha filha... Nero não cansa de beleza. Ele cansa de mulher burra. Eu saí porque quis. E agora voltei pra buscar o que é meu. Não pensa que porque ele te deu flor e presente, você virou alguém. Isso é só distração.
Jade cerrou os punhos. O peito doía, mas algo dentro dela se recusava a se encolher.
— Eu não pedi nada dele — rebateu Jade, sentindo a voz embargar.🙂
— Se ele quiser voltar pra você, tá livre. Eu não prendo ninguém.
Letícia se aproximou mais.
—
— Ele já voltou. A cama dele ainda tem meu cheiro. Só tá contigo porque eu deixei. Quando eu enjoar dele de novo, ele volta pra tua porta. Mas vê se entende, garota: homem como o Nero não ama. Ele usa.
E então, se virou e foi embora, deixando um rastro de perfume caro e o seu veneno.
Jade entrou em casa, sem dizer nada. Sentou no canto da sala e ficou ali, em silêncio, abraçando os próprios joelhos. Não chorou. Não gritou. Apenas sentiu. A dor da dúvida, da comparação, da humilhação. Mas, acima de tudo, sentiu raiva. Não de Letícia. Não de Nero. Mas de si mesma, por ter achado que era amor.
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Jade ficou ali, parada, sentindo a garganta arder. Não queria acreditar. Mas sabia que Letícia não precisava mentir. Nero era desejado por todas. E ela... bom, ela era só a "feia do morro".
Quando ele chegou naquela noite, Jade não falou nada. Só o olhou diferente. Menos encantada. Mais acordada.
— Tá tudo bem? — ele perguntou, estranhando o silêncio.
Ela hesitou, depois respondeu:
— A tua rainha passou aqui hoje. Disse que tua cama ainda tem o perfume dela.
Ele travou o maxilar, engolindo em seco. — E você acreditou?
— Não preciso acreditar. Você nunca me prometeu exclusividade, né? Só posse.
— Jade, não é assim...
— É sim. Você quer me prender, mas nunca pensou em me amar de verdade. Só me escolheu porque eu não ofereço risco pro teu ego.
Ele a encarou com raiva, mas não respondeu. Sabia que ela estava certa.
Pela primeira vez, Jade não chorou. Olhou para ele e disse firme:
— Se você acha que ninguém vai querer uma mulher como eu... então me deixa solta. Só assim a gente vê quem perde o quem
E entrou, deixando Nero sozinho no corredor, pela primeira vez sem resposta.
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Atualizado até capítulo 81
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