Os dias que seguiram foram como andar sobre cacos de vidro. Kelly, mesmo tentando se manter indiferente, não pôde mais ignorar. O olhar atravessado da sogra, as palavras venenosas das irmãs de Felipe, e até o desprezo silencioso do próprio pai dele... tudo era pesado, cruel, sufocante.
Na mesa de café da manhã, o clima era insuportável.
— “Você podia, pelo menos, fingir ser útil, Felipe.” — disparou uma das irmãs dele, mexendo no café como se falasse do lixo. — “Mas pedir isso de você é querer milagre.”
— “Pelo menos agora ele tem uma esposa que combine...” — completou a outra, encarando Kelly de cima a baixo, como se ela fosse algo descartável.
Kelly travou a mandíbula, apertou o garfo até os dedos ficarem brancos, e por um segundo quase cedeu ao impulso de arremessar na cara da infeliz.
Mas, antes que ela dissesse qualquer coisa, Felipe soltou uma risada seca, sem humor. — “Vocês falam como se a opinião de vocês valesse alguma coisa na minha vida.” — girou a xícara nas mãos, olhando-as como quem observa insetos. — “Aliás... deve ser frustrante perceber que, mesmo me odiando, vocês não podem fazer absolutamente nada pra me derrubar.”
O pai dele bateu a mão na mesa, fazendo tudo tremer. — “Cala essa boca, Felipe! Você só está sentado aí por causa do nosso nome! Porque se fosse por você, não teria onde cair morto!”
Kelly arregalou os olhos, sentindo aquele soco no estômago. Não... não era só desprezo. Aquilo era ódio. Um ódio antigo, enraizado, carregado de mágoas que ela ainda não compreendia.
Felipe, no entanto, não perdeu a pose. Jogou o guardanapo na mesa, se levantou e, antes de sair, olhou pra Kelly. — “Vamos, princesa. Não precisa ficar aqui ouvindo cachorro latir.”
Ela se levantou no mesmo instante. E, quando passou pela sogra, não se conteve. — “Sabe... se vocês acham que podem quebrar ele... sinto informar...” — olhou diretamente nos olhos dela. — “É vocês que estão se despedaçando tentando.”
O silêncio foi mortal.
Ao saírem pela porta, Felipe segurou firme na mão dela. Por fora, ele parecia tranquilo, arrogante até... mas Kelly sentiu. Sentiu a tensão em seu maxilar, o jeito que seus dedos apertavam demais os dela.
E foi aí que ela percebeu.
— “Felipe...” — chamou, a voz mais suave. — “Eles... eles realmente te odeiam...” — não era uma pergunta. Era uma constatação.
Ele parou, respirou fundo, olhou pra ela com aquele olhar que escondia mil segredos. — “E isso, Kelly...” — segurou o queixo dela, fazendo-a olhar diretamente em seus olhos. — “... nem é a pior parte.”
— “O que você quer dizer com isso...?” — sussurrou, sentindo um frio na espinha.
Ele sorriu de canto, amargo. — “Querida... você casou com um homem que não é só odiado pela própria família... mas também carrega segredos que podem destruir todo esse mundo que você conhece.”
O coração dela disparou. Porque, no fundo, algo lhe dizia que estava só começando.
E se antes ela achava que o maior problema era aquele casamento arranjado... agora sabia que tinha mergulhado num abismo muito mais profundo.
O silêncio na mansão dos De Luca era quase ensurdecedor. O som dos passos de Felipe ecoava pelos corredores, firmes, decididos, como se cada batida contra o chão selasse um novo destino.
Kelly o seguia, o coração disparado, vendo nos olhos dele uma fúria silenciosa, misturada com algo que ela nunca tinha visto antes: libertação.
Felipe adentrou o escritório do velho, sem sequer bater na porta. O pai — ou pelo menos, quem ele acreditava ser — levantou os olhos dos papéis com aquela expressão arrogante e desprezível.
— “O que você quer agora, inútil?” — disparou seco, sem sequer disfarçar o desdém.
Felipe respirou fundo. — “Vim avisar que estou saindo dessa casa. E mais...” — jogou uma pasta de documentos sobre a mesa. — “Estou tirando o nome De Luca da minha vida. Acabou.”
O velho arregalou os olhos, levantando-se de supetão. — “Você não pode fazer isso! Você carrega esse nome, é um De Luca, queira ou não!”
Felipe riu, amargo, frio. — “Aí que você se engana.” — cruzou os braços, olhando-o como quem olha um desconhecido. — “Porque hoje eu descobri algo... que explica exatamente por que você sempre me tratou como lixo.”
Kelly se aproximou, segurando o braço dele, tentando acalmar o tremor que vinha das mãos dele — tremor de raiva, de decepção, de dor.
Felipe jogou sobre a mesa um exame de DNA, junto com uma série de documentos escondidos por anos. — “Sabe o que isso é?” — sua voz agora soava como lâmina afiada. — “A prova de que você nunca foi meu pai. De que eu nunca fui seu sangue. Nunca.”
O velho ficou pálido. — “De onde... de onde você tirou isso?”
— “Acha mesmo que seus podres ficariam escondidos pra sempre? Eu descobri que minha mãe foi obrigada a se casar com você já grávida. Eu sou fruto de algo que você jamais aceitaria... e, por isso, preferiu me odiar a vida toda, pra esconder essa verdade.”
Silêncio mortal.
— “E quer saber? Obrigado.” — Felipe avançou, ficando cara a cara com ele. — “Porque, se ser De Luca é ser igual a você... então eu agradeço por nunca ter sido.”
O velho tentou falar, mas a voz morreu na garganta. Sua arrogância finalmente ruía diante da verdade.
Felipe puxou Kelly pela mão. — “Vamos, amor. Eu vou construir um império, e juro... vocês ainda vão se arrepender de cada palavra, cada humilhação.”
Ao saírem pela porta, Felipe olhou pra trás pela última vez. — “Ah, só mais uma coisa...” — sorriu de canto. — “A partir de hoje... o sobrenome De Luca morre pra mim. E o mundo vai conhecer quem é Felipe Ramos.”
Kelly sorriu, apertando sua mão, orgulhosa. — “E eu estarei do seu lado. Até o fim.”
Ele virou-se, olhou nos olhos dela e sussurrou: — “Agora, meu amor... é a nossa vez.”
E naquele instante, enquanto a porta da mansão se fechava atrás deles, o universo começava a testemunhar o nascimento de um novo império.
Um império construído com sangue, honra... e amor.
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Atualizado até capítulo 40
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