O Refúgio Incerto

A cabana cheirava a madeira úmida e fumaça antiga, o tipo de aroma que se agarrava às roupas e parecia carregar histórias de anos esquecidos. Uma única lamparina a óleo tremeluzia sobre uma mesa rústica, lançando sombras dançantes nas paredes de tábuas desgastadas, onde ferramentas velhas e cordas pendiam como troféus de uma vida simples. Helena ficou parada na entrada, o peito ainda arfando da corrida, enquanto o homem de barba grisalha os encarava com olhos estreitos, o cenho franzido em desconfiança.

"Eu não pedi por isso, Damian," disse o homem, a voz rouca arranhando o silêncio, enquanto cruzava os braços sobre o peito largo. Ele usava uma camisa de flanela desbotada, as mangas enroladas até os cotovelos, revelando antebraços marcados por cicatrizes antigas. "Você sabe que não gosto de problemas na minha porta." Damian, ainda segurando o braço de Helena, deu um passo à frente, a respiração pesada, mas controlada. "Não tive escolha, Rurik," respondeu ele, o tom firme, mas com um toque de súplica. "Eles estão atrás dela, e eu não vou deixá-los pegá-la."

Helena sentiu o peso do olhar de Rurik sobre ela, como se ele pudesse enxergar através de sua pele até os segredos que ela mesma não entendia. "Quem é você, garota?" perguntou ele, inclinando a cabeça, a barba grisalha refletindo a luz amarelada da lamparina. Ela engoliu em seco, a garganta seca como areia, e endireitou os ombros, tentando reunir a força que a família Valderra sempre exigiu dela. "Meu nome é Helena Valderra," disse ela, a voz mais firme do que esperava. "E não sei por que estou aqui, mas sei que minha família não vai parar até me encontrar."

Rurik arqueou uma sobrancelha, o nome Valderra claramente significando algo para ele. Ele olhou para Damian, um entendimento silencioso passando entre os dois homens, e então bufou, virando-se para pegar uma caneca de metal de uma prateleira. "Valderra, hein?" murmurou, enchendo a caneca com um líquido âmbar de uma garrafa sem rótulo. "Isso explica muita coisa. Mas não explica por que você, Damian, está se metendo nesse ninho de cobras." Ele tomou um gole longo, os olhos nunca deixando os deles, e apontou para duas cadeiras de madeira perto da mesa. "Sentem-se. Vocês parecem que vão desabar."

Helena hesitou, mas Damian a guiou suavemente até uma das cadeiras, o toque dele mais gentil agora, quase reconfortante. Ela se sentou, as pernas trêmulas de exaustão, e observou enquanto Damian se acomodava ao seu lado, os ombros ainda tensos, os olhos atentos a cada movimento de Rurik. "Obrigado por nos deixar entrar," disse Damian, a voz mais calma, mas carregada de uma gratidão genuína. "Eu sabia que podia contar com você." Rurik apenas grunhiu, apoiando-se contra a parede, a caneca ainda na mão. "Você sempre soube como me convencer, garoto. Mas isso não significa que estou feliz com isso."

O silêncio que se seguiu era pesado, interrompido apenas pelo crepitar da madeira no fogão a lenha no canto da cabana. Helena sentiu o calor do fogo alcançá-la, mas ele não conseguiu afastar o frio que se instalara em seus ossos — um frio que vinha do medo, da incerteza, e da sensação de que ela estava sendo arrastada para um jogo muito maior do que imaginava. Ela olhou para Damian, buscando respostas nos traços dele, na cicatriz que cortava sua sobrancelha, na forma como seus dedos tamborilavam nervosamente sobre a mesa. "Você disse que sabe o que minha família está planejando," sussurrou ela, a voz baixa para que Rurik não ouvisse. "O que você quis dizer com isso?"

Damian virou o rosto para ela, os olhos castanhos brilhando com uma intensidade que a fez prender a respiração. "Sua família está em guerra, Helena," disse ele, a voz quase um murmúrio. "E não é só pelo controle da Valderra Indústrias. Há algo mais... algo que eles escondem há gerações." Antes que ele pudesse continuar, um som agudo cortou o ar — o latido de cães, vindo de algum lugar não muito longe, seguido pelo grito distante de uma voz masculina. Rurik se levantou de imediato, derramando o líquido da caneca no chão. "Eles estão aqui," disse ele, os olhos arregalados, e pegou uma espingarda pendurada na parede.

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