Fulga nas Sombras

O ar da noite parecia pulsar com uma energia selvagem enquanto Helena corria, os dedos de Damian firmes ao redor de seu pulso, puxando-a para as profundezas do bosque que margeava o lago. O frio cortante mordia suas bochechas, e o aroma terroso de folhas molhadas misturado ao musgo invadia suas narinas, uma lembrança vívida das tardes de infância que ela passava explorando aqueles mesmos caminhos. Mas agora não havia inocência naquelas árvores — apenas sombras que pareciam se estender como garras, prontas para engoli-la.

Os galhos baixos arranhavam seus braços expostos, rasgando a manga de sua blusa de linho com um som que parecia alto demais no silêncio tenso da noite. O xale de lã cinza que a aquecia escorregou de seus ombros, caindo como uma sombra abandonada sobre o cascalho irregular, e ela não ousou parar para pegá-lo. Seu coração martelava contra as costelas, um tambor descompassado que ecoava o som dos passos que os perseguiam — passos rápidos, determinados, vindo das sombras atrás deles, como se a própria escuridão tivesse ganhado vida para caçá-los.

"Mais rápido!" sussurrou Damian, sua voz cortada pelo esforço enquanto desviava de um tronco retorcido, a casca áspera iluminada por um fio de luz lunar que conseguia atravessar a copa densa. A lua, uma foice prateada pendurada no céu, mal iluminava o caminho, lançando padrões de prata e preto no chão úmido coberto de musgo. Helena tropeçou em uma raiz exposta, o pé escorregando na lama, e quase caiu, o ar escapando de seus pulmões em um suspiro afogado. Damian a segurou com um braço forte, os músculos sob a camisa amassada tensos como cordas esticadas, e por um instante ela sentiu o calor de seu corpo contra o dela — um contraste alarmante contra o frio que a invadia, como se o toque dele fosse um fogo que ela não deveria desejar.

Seus olhos se encontraram por um segundo, e ela viu a urgência crua neles, um brilho que não era apenas medo, mas algo mais profundo — determinação, talvez, ou um segredo que ele ainda não compartilhara. Quem os seguia? Seus tios, Álvaro e Mariana, eram implacáveis quando se tratava de proteger o controle da Valderra Indústrias, mas contratar alguém para vigiá-la parecia um exagero, mesmo para os padrões deles. Ou seria outra faceta dos segredos que Damian parecia conhecer? Ele a guiou para uma clareira escondida, o som da perseguição diminuindo até se transformar em um eco distante, e parou, ofegante, o peito subindo e descendo enquanto tentava recuperar o fôlego.

Helena apoiou as mãos nos joelhos, o ar queimando sua garganta seca, e olhou para ele. A luz fraca da lua iluminava os contornos de seu rosto anguloso, destacando a linha firme de sua mandíbula e a sombra de barba que começava a crescer. Ela notou, pela primeira vez, uma cicatriz fina cortando sua sobrancelha esquerda, um traço quase invisível que parecia gritar uma história de vida mais complexa do que a de um simples mensageiro. Seus olhos castanhos brilhavam na penumbra, fixos nos dela, e por um momento ela sentiu que ele podia enxergar através dela — através das camadas de dever e medo que a prendiam à família Valderra.

"Por que está fazendo isso?" perguntou ela, a voz rouca, quase um sussurro, enquanto se endireitava e puxava o braço para se soltar. Damian a soltou lentamente, erguendo as mãos em um gesto de paz, como se temesse que ela fugisse dele também. "Porque você merece escolher seu destino, não ter ele imposto," respondeu, o tom baixo e carregado de algo que ela não conseguia nomear — pena, talvez, ou uma determinação tão feroz que a assustava. Ele apontou para uma trilha estreita à esquerda, quase invisível entre os arbustos. "Aquela casa ali pertence a um amigo. Podemos nos esconder até amanhecer, longe de quem quer que esteja nos seguindo."

Helena hesitou, o peito ainda arfando, o suor frio escorrendo por sua testa. A ideia de confiar nele era insana — ele era um estranho, um homem que apareceu do nada com um bilhete enigmático que a levou até o lago. Mas algo em sua expressão, na forma como ele a olhava como se a conhecesse de uma vida passada, a fez dar um passo à frente, mesmo contra seu bom senso. Ela queria respostas, e Damian parecia ser a única chave para elas. Antes que pudessem se mover, um farfalhar nas árvores os fez congelar, o som seco das folhas esmagadas reverberando como um trovão em seus ouvidos.

Uma figura encapuzada emergiu da escuridão, o rosto oculto sob um capuz de lã preta, mas a lâmina que segurava refletiu a luz da lua com um brilho frio e afiado. "Vocês não vão a lugar nenhum," disse uma voz grave, ecoando na clareira como um veredicto final, cada palavra carregada de uma ameaça que fez o sangue de Helena gelar. Damian empurrou Helena para trás, colocando-se entre ela e o intruso, o corpo tenso como um arco prestes a disparar. O ar ficou pesado com a promessa de violência, e Helena sentiu o peso do destino se fechar ao seu redor.

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Comments

y0urdr3amb0y

y0urdr3amb0y

A leitura me transportou para outro mundo, obrigada autor@!

2025-05-31

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