O crepúsculo cedeu à escuridão quando Helena deixou a mansão, o ar fresco da noite carregado com o aroma úmido de folhas e terra molhada. Ela envolveu-se em um xale de lã cinza, o tecido áspero roçando sua pele enquanto caminhava pelos jardins de Valderra, os arbustos de azaleias sussurrando ao vento. Seus sapatos de couro macio mal faziam barulho contra o cascalho, mas cada passo ecoava em seu peito com um peso que ela não conseguia explicar.
O lago, uma joia escondida nos confins da propriedade, refletia as primeiras estrelas em sua superfície espelhada. Cercado por salgueiros cujas folhas pendiam como véus, o lugar parecia um santuário proibido, um segredo que a família raramente mencionava. Helena hesitou ao se aproximar da margem, o bilhete ainda queimando em sua memória: "Encontre-me ao anoitecer, perto do lago." A caligrafia, firme e angulosa, parecia carregar uma urgência que ela não podia ignorar, mas também uma promessa — ou seria uma ameaça?
Seus olhos vasculharam a penumbra, o coração pulsando em antecipação. Então, ela o viu. O mensageiro estava lá, encostado em um tronco retorcido, a luz fraca da lua iluminando os contornos de seu rosto anguloso. Ele não parecia mais um simples entregador; havia uma intensidade em sua postura, uma energia contida que a fez dar um passo para trás. "Você veio," disse ele, a voz rouca agora mais clara, mas ainda carregada de um tom que fez os pelos de sua nuca se arrepiarem.
"Quem é você?" perguntou Helena, sua voz tremendo, mas firme o suficiente para mascarar o medo. Ela cruzou os braços, o xale escorregando de um ombro. "E por que me chamou aqui?" Ele deu um passo à frente, o cheiro de chuva fresca misturado a algo mais terroso — musgo, talvez — invadindo o espaço entre eles. "Meu nome é Damian," respondeu, os olhos castanhos brilhando com algo que ela não conseguia decifrar. "E sei o que sua família está planejando para você."
O estômago de Helena revirou. Como ele poderia saber? A Valderra Indústrias era um labirinto de segredos, e ela mesma mal entendia as maquinações de Álvaro e Mariana. Antes que pudesse responder, Damian continuou, a voz baixando para um sussurro conspiratório. "Eles querem te vender como um peão, Helena. Mas você não precisa aceitar isso." Ele estendeu a mão, os dedos longos e calejados, e por um instante ela sentiu o impulso de segurá-la — um desejo que a assustou mais do que as palavras dele.
Um som seco cortou o ar — o estalo de um galho quebrando nas sombras. Helena girou o corpo, o coração na garganta, mas não viu nada além das árvores balançando ao vento. Quando olhou de volta, Damian estava mais perto, o rosto a poucos centímetros do dela. "Alguém nos seguiu," ele murmurou, os olhos estreitos varrendo o escuro. "Você confia em mim o suficiente para correr?" Antes que ela pudesse responder, o som de passos rápidos ecoou na noite, e a mão dele agarrou a dela, puxando-a para as sombras.
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Atualizado até capítulo 47
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