O Inevitável Assento

A leve contração na testa de Arthur intensificou-se. A anomalia não se dissipou. Pelo contrário. Ela se aproximava, e o que mais o incomodava não era a presença dela, mas a direção dessa presença. Ela não se dirigiu para a ponta oposta do abrigo, nem para a calçada, nem para qualquer outro lugar que permitisse a Arthur manter seu espaço vital intacto. Em vez disso, ela se moveu com uma naturalidade alarmante diretamente para o pequeno banco de concreto onde ele estava, um espaço que ele considerava implicitamente seu. Era o lugar perfeito: oferecia um apoio sem exigir que ele se sentasse completamente, permitindo uma postura de observação discreta. Era seu cantinho no mundo.

Quando ela se sentou, não houve hesitação. O banco era pequeno, suficiente para no máximo duas pessoas sem bagagem extra. E ela sentou-se ao lado dele, com uma proximidade que, para Arthur, era quase uma violação de fronteira. A mochila colorida tocou levemente sua pasta, e ele sentiu um leve calor emanando dela. Ele não se moveu, não mudou de expressão, mas internamente, um micro-tsunami de desconforto começou a se formar. Ele apertou o livro em suas mãos, um escudo contra a intrusão, e voltou os olhos para a rua, fingindo uma profunda contemplação do tráfego. O perfume dela — algo leve, cítrico, completamente diferente do cheiro de asfalto e poluição a que ele estava acostumado — preencheu seu espaço pessoal, fazendo com que sua bolha de silêncio se sentisse estranhamente porosa.

O ar que Arthur respirava no ponto de ônibus, antes tão neutro e previsível, agora parecia carregado. O leve perfume cítrico persistia, e a presença dela, vibrante e inesperada, era uma nota dissonante em sua sinfonia de silêncio. Ele tentava se concentrar nas palavras do livro, mas as frases pareciam escorregar por entre seus olhos, incapazes de se fixar em sua mente. A expectativa do silêncio que se seguiria àquela estranha proximidade era quase palpável para ele.

Mas o silêncio não veio.

Em vez disso, um som quebrou a quietude de sua bolha com a força de um pequeno trovão. Uma voz. Clara, gentil, e completamente inesperada.

"Oi!"

Era uma palavra simples, comum, mas para Arthur, soou como um grito em um teatro vazio. A sonoridade era leve, quase musical, sem nenhuma exigência, apenas uma constatação amigável. Arthur congelou. Seus olhos, que antes fixavam o horizonte, agora pareciam travar em um ponto invisível no asfalto. Sua mente, tão acostumada a processar dados lógicos, travou. Deveria responder? Como se respondia a um "Oi!" tão direto e sem cerimônia de uma completa desconhecida que acabara de invadir seu espaço? A opção mais segura, a única que sua programação interna oferecia no momento, era a inação. Ele não se moveu. Não fez som algum. Fingiu, com toda a sua capacidade de dissimulação – que, para ser honesto, era bastante limitada –, que não tinha escutado nada.

Arthur manteve sua postura de pedra. Seu corpo rígido, os olhos ainda fixos no ponto imaginário do asfalto, a respiração superficial para não entregar qualquer sinal de vida. Sua mente, no entanto, disparou em um turbilhão. Ela realmente disse "Oi!"? Para ele? Não havia mais ninguém por perto que pudesse ser o alvo de tal saudação. Ele sentiu o leve calor da presença dela ao seu lado, a consciência de que, a poucos centímetros, uma pessoa esperava por uma reação. O silêncio que se seguiu àquela palavra era, de certa forma, ainda mais ensurdecedor do que o "Oi!" em si. Era um silêncio carregado de expectativa, da expectativa dela.

Ele tentou se esconder ainda mais dentro do livro, suas páginas parecendo um escudo frágil contra a realidade. Repetia para si mesmo que ela desistiria. Que entenderia o recado de sua não-resposta. Que perceberia seu desejo por solidão e se afastaria. Seus pensamentos eram quase súplicas silenciosas. Por favor, vá embora. Por favor, finja que eu não estou aqui. Por favor, o silêncio é bom. O silêncio é seguro. A sensação de estar sendo observado era um fardo, uma pressão incômoda que ele raramente experimentava. Ele se sentia como um inseto sob uma lente de aumento, exposto e vulnerável. A única estratégia que conhecia era a imobilidade, a esperança de que, se ele não se movesse, o predador – ou, nesse caso, a garota falante – perderia o interesse e procuraria outra presa.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!