O silêncio ficou ali. Quente. Cheio. A cabeça de Luca ainda encostada no ombro de Duarte, os dedos dele brincando devagar no tecido da jaqueta, como se cada movimento fosse um jeito de dizer “eu tô aqui... mas também tô com medo.”
O horizonte seguia lindo. Telhados vermelhos, barcos no Tejo, o céu começando a dourar. Mas, pra eles, naquele momento, pouco importava.
O que importava... tava ali. No toque. No silêncio. No coração batendo rápido demais pra fingir que era só um acaso.
Luca respirou fundo. — Sabe... — começou, sem levantar a cabeça —... é estranho.
— O quê? — Duarte perguntou, a mão deslizando devagar, subindo do ombro pro braço dele, traçando linhas invisíveis na pele, como se já não conseguisse mais não tocar.
— Isso. — Luca apertou os joelhos com as mãos — Me sentir... seguro. Aqui. Contigo. E, ao mesmo tempo, com vontade de... — a voz falhou —... de correr.
Duarte apertou mais o braço dele. — Eu entendo. Mais do que tu imagina.
Luca ficou em silêncio por uns segundos. Depois, respirou fundo. — Eu não costumo... contar isso. Nem... nem falar muito. Nem pra mim mesmo.
O corpo de Duarte ficou mais tenso, mas não se mexeu. Só... ficou ali. Seguro. Presente. Esperando.
Luca apertou os olhos, os ombros tremendo de leve. — Quando eu tinha dezessete... meu pai me olhou na cara e disse que eu não era mais filho dele. Só... assim. Frio. Sem drama. Sem gritaria. Só... “Sai. Aqui não é teu lugar.”
Duarte sentiu o estômago virar. Apertou mais forte o braço de Luca, como se pudesse, de algum jeito, segurar aquela dor e arrancar dali.
— E eu... — Luca respirou fundo, segurando pra não quebrar —... eu saí. Peguei uma mochila. E... e nunca mais voltei.
O silêncio ficou pesado. As lágrimas começaram a escorrer, quentes, pesadas, mesmo que ele tentasse segurar.
— Dormi em estações. Pulei de sofá em sofá. Trabalhei onde dava. Fingi que tava bem. Fingi que não doía. Fingi tanto... — a voz falhou —... que, às vezes, até eu acreditava que... que eu não precisava de ninguém.
Duarte apertou os olhos, sentindo as próprias lágrimas queimarem. — Luca...
Luca respirou fundo, levantou a cabeça devagar, olhou direto nos olhos dele. — E sabe... o mais doido? — mordeu o lábio, a voz tremendo — Eu... eu achava que amor... essas coisas... não eram pra mim. Que eu era... sei lá... defeituoso. Que eu nunca ia ser suficiente pra ninguém.
O peito de Duarte se quebrou inteiro. Não rachou. Quebrou.
Sem pensar, puxou Luca. Forte. Como quem segura alguém que tá caindo. Apertou contra o peito, as mãos segurando a nuca dele, os dedos se enterrando nos cabelos.
— Tu não é defeituoso. — a voz de Duarte saiu num sussurro trincado, as lágrimas descendo — Tu não é, Luca. Nem de longe.
O corpo de Luca tremia. Mas não soltou. Não recuou. Ficou.
Ficaram. Apertados. Amassados. Com as lágrimas misturando no meio dos casacos, dos cabelos, da pele.
— Eu não sei... — Duarte sussurrou, com o queixo encostado na cabeça dele —... eu não sei como fazer isso. Mas... eu sei que... eu não quero te largar.
Luca apertou mais forte, o rosto escondido no peito dele. — Eu também não sei. Mas... — respirou fundo —... me deixa tentar.
Duarte beijou o topo da cabeça dele. Apertou. E, naquele abraço, os dois entenderam uma coisa que ninguém nunca tinha dito pra eles antes:
“Amor não é sobre ser perfeito. É sobre ser abrigo.”
E, naquele instante... foram abrigo um pro outro.
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Atualizado até capítulo 36
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