capítulo 4 coisas que queimam por dentro

O silêncio ficou ali. Quente. Cheio. A cabeça de Luca ainda encostada no ombro de Duarte, os dedos dele brincando devagar no tecido da jaqueta, como se cada movimento fosse um jeito de dizer “eu tô aqui... mas também tô com medo.”

O horizonte seguia lindo. Telhados vermelhos, barcos no Tejo, o céu começando a dourar. Mas, pra eles, naquele momento, pouco importava.

O que importava... tava ali. No toque. No silêncio. No coração batendo rápido demais pra fingir que era só um acaso.

Luca respirou fundo. — Sabe... — começou, sem levantar a cabeça —... é estranho.

— O quê? — Duarte perguntou, a mão deslizando devagar, subindo do ombro pro braço dele, traçando linhas invisíveis na pele, como se já não conseguisse mais não tocar.

— Isso. — Luca apertou os joelhos com as mãos — Me sentir... seguro. Aqui. Contigo. E, ao mesmo tempo, com vontade de... — a voz falhou —... de correr.

Duarte apertou mais o braço dele. — Eu entendo. Mais do que tu imagina.

Luca ficou em silêncio por uns segundos. Depois, respirou fundo. — Eu não costumo... contar isso. Nem... nem falar muito. Nem pra mim mesmo.

O corpo de Duarte ficou mais tenso, mas não se mexeu. Só... ficou ali. Seguro. Presente. Esperando.

Luca apertou os olhos, os ombros tremendo de leve. — Quando eu tinha dezessete... meu pai me olhou na cara e disse que eu não era mais filho dele. Só... assim. Frio. Sem drama. Sem gritaria. Só... “Sai. Aqui não é teu lugar.”

Duarte sentiu o estômago virar. Apertou mais forte o braço de Luca, como se pudesse, de algum jeito, segurar aquela dor e arrancar dali.

— E eu... — Luca respirou fundo, segurando pra não quebrar —... eu saí. Peguei uma mochila. E... e nunca mais voltei.

O silêncio ficou pesado. As lágrimas começaram a escorrer, quentes, pesadas, mesmo que ele tentasse segurar.

— Dormi em estações. Pulei de sofá em sofá. Trabalhei onde dava. Fingi que tava bem. Fingi que não doía. Fingi tanto... — a voz falhou —... que, às vezes, até eu acreditava que... que eu não precisava de ninguém.

Duarte apertou os olhos, sentindo as próprias lágrimas queimarem. — Luca...

Luca respirou fundo, levantou a cabeça devagar, olhou direto nos olhos dele. — E sabe... o mais doido? — mordeu o lábio, a voz tremendo — Eu... eu achava que amor... essas coisas... não eram pra mim. Que eu era... sei lá... defeituoso. Que eu nunca ia ser suficiente pra ninguém.

O peito de Duarte se quebrou inteiro. Não rachou. Quebrou.

Sem pensar, puxou Luca. Forte. Como quem segura alguém que tá caindo. Apertou contra o peito, as mãos segurando a nuca dele, os dedos se enterrando nos cabelos.

— Tu não é defeituoso. — a voz de Duarte saiu num sussurro trincado, as lágrimas descendo — Tu não é, Luca. Nem de longe.

O corpo de Luca tremia. Mas não soltou. Não recuou. Ficou.

Ficaram. Apertados. Amassados. Com as lágrimas misturando no meio dos casacos, dos cabelos, da pele.

— Eu não sei... — Duarte sussurrou, com o queixo encostado na cabeça dele —... eu não sei como fazer isso. Mas... eu sei que... eu não quero te largar.

Luca apertou mais forte, o rosto escondido no peito dele. — Eu também não sei. Mas... — respirou fundo —... me deixa tentar.

Duarte beijou o topo da cabeça dele. Apertou. E, naquele abraço, os dois entenderam uma coisa que ninguém nunca tinha dito pra eles antes:

“Amor não é sobre ser perfeito. É sobre ser abrigo.”

E, naquele instante... foram abrigo um pro outro.

Capítulos
1 capítulo 1 o esbarrão
2 capítulo 2 silêncio que dão medo....e vontade
3 capítulo 3 onde a cidade fica menor
4 capítulo 4 coisas que queimam por dentro
5 capítulo 5 quando chega perto demais
6 capítulo 6 E se eu nunca for o suficiente?
7 capítulo 7 E se eu deixar ele ir ?
8 capítulo 8 ficar nunca foi tão bom e nem tão difícil
9 capítulo 9 nem sempre o medo vai embora
10 capítulo 10 o tipo de fantasma que anda de carne e osso
11 capítulo 11 eu não vou fingir que não doeu
12 capítulo 12 meu jeito errado de sobreviver
13 capítulo 13 E se for tarde demais?
14 capítulo 14 aprender a ficar
15 capítulo 15 onde a gente decide ficar
16 capítulo 16 rotina que vira amor
17 capítulo 17 desabar nunca foi tão seguro
18 capítulo 18 a surpresa que vira a promessa
19 capítulo 19 construindo o nosso lar
20 capítulo 20 quando o passado atravessa a rua
21 capítulo 21 o prazer também é poder e entrega
22 capítulo 22 onde o amor é cuidado
23 capítulo 23 um abrigo que vira mundo
24 capítulo 24 tijolo, poeira e amor na parede
25 capítulo 25 a inauguração de existir
26 capítulo 26 um novo sonho nasce , e o passado retorna
27 capítulo 27 quando o passado bate na porta e encontra o amor de peito aberto
28 capítulo 28 agora quem escolhe sou eu
29 capítulo 29 o encontro
30 capítulo 30 depois de fechar ciclos vem o colo
31 capítulo 31 um amor selvagem
32 capítulo 32 um destino inesperado bate na porta
33 capítulo 33 Quando o Amor Chega Sem Avisar... E Fica.
34 capítulo 34 a volta para casa nunca foi tão cheia de amor
35 capítulo 35 Primeira Noite Onde Lar Vira Colo
36 capítulo 36 tipo de final que não tem fim
Capítulos

Atualizado até capítulo 36

1
capítulo 1 o esbarrão
2
capítulo 2 silêncio que dão medo....e vontade
3
capítulo 3 onde a cidade fica menor
4
capítulo 4 coisas que queimam por dentro
5
capítulo 5 quando chega perto demais
6
capítulo 6 E se eu nunca for o suficiente?
7
capítulo 7 E se eu deixar ele ir ?
8
capítulo 8 ficar nunca foi tão bom e nem tão difícil
9
capítulo 9 nem sempre o medo vai embora
10
capítulo 10 o tipo de fantasma que anda de carne e osso
11
capítulo 11 eu não vou fingir que não doeu
12
capítulo 12 meu jeito errado de sobreviver
13
capítulo 13 E se for tarde demais?
14
capítulo 14 aprender a ficar
15
capítulo 15 onde a gente decide ficar
16
capítulo 16 rotina que vira amor
17
capítulo 17 desabar nunca foi tão seguro
18
capítulo 18 a surpresa que vira a promessa
19
capítulo 19 construindo o nosso lar
20
capítulo 20 quando o passado atravessa a rua
21
capítulo 21 o prazer também é poder e entrega
22
capítulo 22 onde o amor é cuidado
23
capítulo 23 um abrigo que vira mundo
24
capítulo 24 tijolo, poeira e amor na parede
25
capítulo 25 a inauguração de existir
26
capítulo 26 um novo sonho nasce , e o passado retorna
27
capítulo 27 quando o passado bate na porta e encontra o amor de peito aberto
28
capítulo 28 agora quem escolhe sou eu
29
capítulo 29 o encontro
30
capítulo 30 depois de fechar ciclos vem o colo
31
capítulo 31 um amor selvagem
32
capítulo 32 um destino inesperado bate na porta
33
capítulo 33 Quando o Amor Chega Sem Avisar... E Fica.
34
capítulo 34 a volta para casa nunca foi tão cheia de amor
35
capítulo 35 Primeira Noite Onde Lar Vira Colo
36
capítulo 36 tipo de final que não tem fim

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