capítulo 3 onde a cidade fica menor

O café ficou pequeno demais. As paredes pareciam apertar, como se não coubessem mais os dois ali, nem aquele silêncio cheio de tudo que não tava sendo dito.

Duarte respirou fundo, puxou a mão que ainda segurava a de Luca, e, num impulso que nem ele sabia de onde veio, falou: — Vem.

Luca arqueou a sobrancelha, o sorriso escapando. — Pra onde?

Duarte levantou, ajeitando o casaco no ombro. — Não sei. Só... vem.

E ele foi. Sem pensar. Sem perguntar. Como se, de alguma forma, já soubesse que, dali em diante, qualquer caminho era melhor do que ficar parado.

Andaram lado a lado. Às vezes, as mãos esbarravam. Às vezes, ficavam tão perto que o ombro de um roçava no do outro. Mas nenhum deles puxou. Nenhum recuou.

Subiram ruas estreitas. Cortaram becos que só quem conhece Lisboa de verdade sabe onde dão. O vento batia leve, carregando o cheiro do rio misturado com pão recém-assado de alguma padaria esquecida no meio da cidade.

— E aí... — Luca quebrou o silêncio, ajeitando a mochila no ombro —... tu sempre sequestra desconhecidos assim?

Duarte soltou uma risada curta, olhando de lado, mordendo o lábio. — Só os que me olham como tu me olhou.

Luca riu, mas corou. Abaixou o olhar, chutando uma pedrinha na calçada. — E... como foi que eu te olhei, exatamente?

Duarte parou. Virou de frente. Olhou. — Como quem... me vê.

O sorriso de Luca sumiu. O peito apertou. O estômago revirou. Porque... ele entendeu. Entendeu bem demais.

Desviou o olhar, enfiou as mãos nos bolsos, respirou fundo. — Isso é... meio assustador, né?

— Muito. — respondeu Duarte, sem hesitar. — Mas... pior ainda é quando ninguém vê.

Ficaram em silêncio por alguns passos. O tipo de silêncio que não pesa. Só... existe.

Chegaram no miradouro. O mesmo onde, de vez em quando, Duarte se perdia pra tentar se encontrar. A vista dali parecia coisa de filme — os telhados vermelhos se empilhando até tocar o Tejo, que brilhava lá embaixo, com o céu tingindo em tons de dourado e azul.

— Uau... — Luca soltou, abaixando a mochila no chão e se sentando no parapeito, as pernas balançando pra fora —... isso é...

— Eu sei. — Duarte sentou ao lado, tão perto que os joelhos se encostavam, que o calor do corpo de um batia no outro —... é daqui que eu fujo... quando quero não sumir.

Luca olhou pra ele. De lado. De verdade. E aquele olhar tinha tanta coisa dentro. Coisa que doía. Coisa que queria. Coisa que tremia de medo... e de vontade.

Por alguns segundos, só ficaram olhando o horizonte. Fingindo que era sobre a paisagem, quando, na verdade... era sobre a coragem que um encontrava no outro, sem saber como.

Até que, num gesto quase automático, Luca encostou a cabeça no ombro de Duarte.

O corpo de Duarte travou. Por dois segundos. Depois... relaxou. E, devagar, passou o braço pelas costas dele, puxando pra mais perto.

Ninguém falou nada. Ninguém precisou.

O som do vento, o cheiro da cidade, o calor do corpo do outro... tudo dizia mais do que qualquer palavra.

Duarte fechou os olhos, encostando o queixo no topo da cabeça de Luca. E, pela primeira vez em muito tempo, pensou:

“Talvez... talvez eu não precise fugir dessa vez.”

E ficou.

E, naquele instante, Lisboa pareceu... menor.

Menor, mais segura. Mais deles.

 

Capítulos
1 capítulo 1 o esbarrão
2 capítulo 2 silêncio que dão medo....e vontade
3 capítulo 3 onde a cidade fica menor
4 capítulo 4 coisas que queimam por dentro
5 capítulo 5 quando chega perto demais
6 capítulo 6 E se eu nunca for o suficiente?
7 capítulo 7 E se eu deixar ele ir ?
8 capítulo 8 ficar nunca foi tão bom e nem tão difícil
9 capítulo 9 nem sempre o medo vai embora
10 capítulo 10 o tipo de fantasma que anda de carne e osso
11 capítulo 11 eu não vou fingir que não doeu
12 capítulo 12 meu jeito errado de sobreviver
13 capítulo 13 E se for tarde demais?
14 capítulo 14 aprender a ficar
15 capítulo 15 onde a gente decide ficar
16 capítulo 16 rotina que vira amor
17 capítulo 17 desabar nunca foi tão seguro
18 capítulo 18 a surpresa que vira a promessa
19 capítulo 19 construindo o nosso lar
20 capítulo 20 quando o passado atravessa a rua
21 capítulo 21 o prazer também é poder e entrega
22 capítulo 22 onde o amor é cuidado
23 capítulo 23 um abrigo que vira mundo
24 capítulo 24 tijolo, poeira e amor na parede
25 capítulo 25 a inauguração de existir
26 capítulo 26 um novo sonho nasce , e o passado retorna
27 capítulo 27 quando o passado bate na porta e encontra o amor de peito aberto
28 capítulo 28 agora quem escolhe sou eu
29 capítulo 29 o encontro
30 capítulo 30 depois de fechar ciclos vem o colo
31 capítulo 31 um amor selvagem
32 capítulo 32 um destino inesperado bate na porta
33 capítulo 33 Quando o Amor Chega Sem Avisar... E Fica.
34 capítulo 34 a volta para casa nunca foi tão cheia de amor
35 capítulo 35 Primeira Noite Onde Lar Vira Colo
36 capítulo 36 tipo de final que não tem fim
Capítulos

Atualizado até capítulo 36

1
capítulo 1 o esbarrão
2
capítulo 2 silêncio que dão medo....e vontade
3
capítulo 3 onde a cidade fica menor
4
capítulo 4 coisas que queimam por dentro
5
capítulo 5 quando chega perto demais
6
capítulo 6 E se eu nunca for o suficiente?
7
capítulo 7 E se eu deixar ele ir ?
8
capítulo 8 ficar nunca foi tão bom e nem tão difícil
9
capítulo 9 nem sempre o medo vai embora
10
capítulo 10 o tipo de fantasma que anda de carne e osso
11
capítulo 11 eu não vou fingir que não doeu
12
capítulo 12 meu jeito errado de sobreviver
13
capítulo 13 E se for tarde demais?
14
capítulo 14 aprender a ficar
15
capítulo 15 onde a gente decide ficar
16
capítulo 16 rotina que vira amor
17
capítulo 17 desabar nunca foi tão seguro
18
capítulo 18 a surpresa que vira a promessa
19
capítulo 19 construindo o nosso lar
20
capítulo 20 quando o passado atravessa a rua
21
capítulo 21 o prazer também é poder e entrega
22
capítulo 22 onde o amor é cuidado
23
capítulo 23 um abrigo que vira mundo
24
capítulo 24 tijolo, poeira e amor na parede
25
capítulo 25 a inauguração de existir
26
capítulo 26 um novo sonho nasce , e o passado retorna
27
capítulo 27 quando o passado bate na porta e encontra o amor de peito aberto
28
capítulo 28 agora quem escolhe sou eu
29
capítulo 29 o encontro
30
capítulo 30 depois de fechar ciclos vem o colo
31
capítulo 31 um amor selvagem
32
capítulo 32 um destino inesperado bate na porta
33
capítulo 33 Quando o Amor Chega Sem Avisar... E Fica.
34
capítulo 34 a volta para casa nunca foi tão cheia de amor
35
capítulo 35 Primeira Noite Onde Lar Vira Colo
36
capítulo 36 tipo de final que não tem fim

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!