O cheiro de café recém-passado preenchia aquele pequeno espaço, misturado ao som baixo de uma música qualquer que tocava no rádio. As luzes amareladas refletiam nas xícaras, nos olhos, nos sorrisos meio tímidos.
Duarte apoiou o queixo na mão, os dedos batendo de leve no queixo, observando Luca como quem não sabia se fugia… ou se se jogava de vez.
Luca mordia o canto da boca, o olhar passeando pelo lugar, mas sempre voltando pra ele. Sempre. Como se houvesse algum tipo de gravidade naquele corpo sentado à sua frente.
— Então... — começou Duarte, tentando soar casual, mas a voz saiu meio falha, meio arranhada —... tu não é daqui, né?
Luca balançou a cabeça, cruzando os braços sobre a mesa. — Não. Cheguei faz pouco. Achei que... — respirou fundo, o olhar desviando —... mudar de cidade ajudaria a mudar outras coisas também.
Duarte apertou os olhos, percebendo algo naquelas palavras. Algo quebrado, algo que parecia querer ser escondido… mas não sabia como. — E... tá funcionando?
Luca sorriu, meio amargo, meio bonito demais pra ser só dor. — Não sei. Acho que... tô descobrindo.
O silêncio que veio depois não foi desconfortável. Foi... denso. Quente. Carregado de algo que nenhum dos dois sabia nomear, mas que tava ali. Pulsando.
Duarte passou a mão pelo cabelo, respirou fundo, e, por um segundo, deixou a guarda cair. — Lisboa... — começou, olhando pro lado, como quem falava mais pra si do que pro outro —... tem disso. Parece que te abraça e te esmaga ao mesmo tempo.
Luca olhou pra ele. De verdade. E, naquele olhar, havia uma coisa que nem o próprio Luca sabia explicar. Algo entre curiosidade, medo... e aquele tipo de vontade que começa no peito e desce, quente, pra algum lugar que não se fala em voz alta.
— E tu? — perguntou, baixinho, com aquele tom rouco que Duarte já sabia que ia ouvir nos sonhos depois — Tu... tu é daqui?
Duarte respirou fundo. — Sou. Mas... às vezes, sinto que nunca pertenço, sabe?
Luca segurou o olhar. — Sei. Sei mais do que queria.
As mãos se tocaram. Não foi acidente. Nem desculpa. Foi aquele tipo de toque que começa com um dedo, depois dois, e quando percebe... as mãos já tão entrelaçadas, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
O coração de Duarte disparou. Podia puxar. Podia soltar. Podia fingir que era só um gesto de quem tava explicando alguma coisa sobre o mapa da cidade... mas não fez nada disso.
Deixou estar.
Luca apertou de leve. O olhar baixou pros dedos que agora dançavam juntos sobre a mesa. — Isso é estranho, né?
— O quê? — Duarte perguntou, com um sorriso que era metade nervoso, metade completamente entregue.
— Isso. — Luca levantou os olhos, olhando direto no dele — Parece que eu te conheço. Mas... eu não te conheço.
Duarte engoliu em seco. O peito apertou de um jeito que parecia que ia rasgar. — Eu sei. É... igual.
O silêncio ficou pesado. Mas não de desconforto. Pesado de vontade.
De repente, nenhum dos dois sabia se aquilo era só um café... ou se, sem querer, tinham entrado no começo de algo que eles não sabiam se estavam prontos pra viver.
Luca soltou um suspiro, desviou o olhar por dois segundos, e quando voltou, deixou escapar: — Eu não sei... eu não sei o que isso é. Mas... — respirou fundo, apertando mais forte a mão de Duarte —... eu sei que não quero que acabe agora.
Duarte sentiu o corpo inteiro tremer. — Eu também não.
E, pela primeira vez, não era mais só sobre o café. Nem sobre Lisboa. Nem sobre fugir do próprio passado.
Era sobre dois estranhos... que, sem querer, pareciam ter encontrado exatamente aquilo que não sabiam que estavam procurando.
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Atualizado até capítulo 36
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DS Studio
/Smile/
2025-05-31
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