capítulo 2 silêncio que dão medo....e vontade

O cheiro de café recém-passado preenchia aquele pequeno espaço, misturado ao som baixo de uma música qualquer que tocava no rádio. As luzes amareladas refletiam nas xícaras, nos olhos, nos sorrisos meio tímidos.

Duarte apoiou o queixo na mão, os dedos batendo de leve no queixo, observando Luca como quem não sabia se fugia… ou se se jogava de vez.

Luca mordia o canto da boca, o olhar passeando pelo lugar, mas sempre voltando pra ele. Sempre. Como se houvesse algum tipo de gravidade naquele corpo sentado à sua frente.

— Então... — começou Duarte, tentando soar casual, mas a voz saiu meio falha, meio arranhada —... tu não é daqui, né?

Luca balançou a cabeça, cruzando os braços sobre a mesa. — Não. Cheguei faz pouco. Achei que... — respirou fundo, o olhar desviando —... mudar de cidade ajudaria a mudar outras coisas também.

Duarte apertou os olhos, percebendo algo naquelas palavras. Algo quebrado, algo que parecia querer ser escondido… mas não sabia como. — E... tá funcionando?

Luca sorriu, meio amargo, meio bonito demais pra ser só dor. — Não sei. Acho que... tô descobrindo.

O silêncio que veio depois não foi desconfortável. Foi... denso. Quente. Carregado de algo que nenhum dos dois sabia nomear, mas que tava ali. Pulsando.

Duarte passou a mão pelo cabelo, respirou fundo, e, por um segundo, deixou a guarda cair. — Lisboa... — começou, olhando pro lado, como quem falava mais pra si do que pro outro —... tem disso. Parece que te abraça e te esmaga ao mesmo tempo.

Luca olhou pra ele. De verdade. E, naquele olhar, havia uma coisa que nem o próprio Luca sabia explicar. Algo entre curiosidade, medo... e aquele tipo de vontade que começa no peito e desce, quente, pra algum lugar que não se fala em voz alta.

— E tu? — perguntou, baixinho, com aquele tom rouco que Duarte já sabia que ia ouvir nos sonhos depois — Tu... tu é daqui?

Duarte respirou fundo. — Sou. Mas... às vezes, sinto que nunca pertenço, sabe?

Luca segurou o olhar. — Sei. Sei mais do que queria.

As mãos se tocaram. Não foi acidente. Nem desculpa. Foi aquele tipo de toque que começa com um dedo, depois dois, e quando percebe... as mãos já tão entrelaçadas, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

O coração de Duarte disparou. Podia puxar. Podia soltar. Podia fingir que era só um gesto de quem tava explicando alguma coisa sobre o mapa da cidade... mas não fez nada disso.

Deixou estar.

Luca apertou de leve. O olhar baixou pros dedos que agora dançavam juntos sobre a mesa. — Isso é estranho, né?

— O quê? — Duarte perguntou, com um sorriso que era metade nervoso, metade completamente entregue.

— Isso. — Luca levantou os olhos, olhando direto no dele — Parece que eu te conheço. Mas... eu não te conheço.

Duarte engoliu em seco. O peito apertou de um jeito que parecia que ia rasgar. — Eu sei. É... igual.

O silêncio ficou pesado. Mas não de desconforto. Pesado de vontade.

De repente, nenhum dos dois sabia se aquilo era só um café... ou se, sem querer, tinham entrado no começo de algo que eles não sabiam se estavam prontos pra viver.

Luca soltou um suspiro, desviou o olhar por dois segundos, e quando voltou, deixou escapar: — Eu não sei... eu não sei o que isso é. Mas... — respirou fundo, apertando mais forte a mão de Duarte —... eu sei que não quero que acabe agora.

Duarte sentiu o corpo inteiro tremer. — Eu também não.

E, pela primeira vez, não era mais só sobre o café. Nem sobre Lisboa. Nem sobre fugir do próprio passado.

Era sobre dois estranhos... que, sem querer, pareciam ter encontrado exatamente aquilo que não sabiam que estavam procurando.

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DS Studio

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/Smile/

2025-05-31

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Capítulos
1 capítulo 1 o esbarrão
2 capítulo 2 silêncio que dão medo....e vontade
3 capítulo 3 onde a cidade fica menor
4 capítulo 4 coisas que queimam por dentro
5 capítulo 5 quando chega perto demais
6 capítulo 6 E se eu nunca for o suficiente?
7 capítulo 7 E se eu deixar ele ir ?
8 capítulo 8 ficar nunca foi tão bom e nem tão difícil
9 capítulo 9 nem sempre o medo vai embora
10 capítulo 10 o tipo de fantasma que anda de carne e osso
11 capítulo 11 eu não vou fingir que não doeu
12 capítulo 12 meu jeito errado de sobreviver
13 capítulo 13 E se for tarde demais?
14 capítulo 14 aprender a ficar
15 capítulo 15 onde a gente decide ficar
16 capítulo 16 rotina que vira amor
17 capítulo 17 desabar nunca foi tão seguro
18 capítulo 18 a surpresa que vira a promessa
19 capítulo 19 construindo o nosso lar
20 capítulo 20 quando o passado atravessa a rua
21 capítulo 21 o prazer também é poder e entrega
22 capítulo 22 onde o amor é cuidado
23 capítulo 23 um abrigo que vira mundo
24 capítulo 24 tijolo, poeira e amor na parede
25 capítulo 25 a inauguração de existir
26 capítulo 26 um novo sonho nasce , e o passado retorna
27 capítulo 27 quando o passado bate na porta e encontra o amor de peito aberto
28 capítulo 28 agora quem escolhe sou eu
29 capítulo 29 o encontro
30 capítulo 30 depois de fechar ciclos vem o colo
31 capítulo 31 um amor selvagem
32 capítulo 32 um destino inesperado bate na porta
33 capítulo 33 Quando o Amor Chega Sem Avisar... E Fica.
34 capítulo 34 a volta para casa nunca foi tão cheia de amor
35 capítulo 35 Primeira Noite Onde Lar Vira Colo
36 capítulo 36 tipo de final que não tem fim
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Atualizado até capítulo 36

1
capítulo 1 o esbarrão
2
capítulo 2 silêncio que dão medo....e vontade
3
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4
capítulo 4 coisas que queimam por dentro
5
capítulo 5 quando chega perto demais
6
capítulo 6 E se eu nunca for o suficiente?
7
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8
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10
capítulo 10 o tipo de fantasma que anda de carne e osso
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32
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33
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