Capítulo 2 – A Moça das Flores

Ana caminhava com passos leves, quase sem levantar poeira. Miguel a seguia de perto, ainda tentando entender onde exatamente ele estava — e quem exatamente era aquela moça de fala doce, mas olhar esperto, que parecia fazer parte da paisagem como o cheiro de terra molhada depois da chuva.

Chegando ao alpendre da casa, Ana pousou a cesta de flores sobre uma mesinha e bateu as mãos uma na outra, limpando o pó.

— Vó, o moço da cidade chegou! — ela gritou, sem levantar muito a voz. — É o tal do arquiteto.

De dentro da casa, ouviu-se um barulho de panela e uma voz firme:

— Já tô indo, minha filha! Só tô tirando o café do fogo!

Miguel ajeitou a gola da camisa e deu dois passos cautelosos em direção à varanda.

— Posso entrar?

— Aqui ninguém bate na porta não, moço. Só entra com respeito e sai com cafezinho no estômago. — disse Ana, divertida.

Ele sorriu e entrou, sentindo a madeira antiga ranger sob os pés. A casa era simples, mas muito bem cuidada. Havia fotografias em preto e branco nas paredes, santos sobre um pequeno altar e um cheiro constante de café fresco.

Dona Zefa apareceu na cozinha com um pano no ombro e um olhar afiado.

— Você que é o Miguel?

— Sou, senhora. Muito prazer. Vim acompanhar as obras da casa sustentável.

— Hum. Sustentável é o que a gente vive faz cinquenta anos. Só que sem nome bonito. — disse ela, com um leve sorriso escondido no canto da boca. — Senta, homem. Vai provar o melhor café desse sertão.

Miguel sentou-se à mesa, ainda meio desconcertado. Ana serviu o café e sentou-se também, cruzando as pernas com naturalidade. Ele observou os movimentos dela — simples, precisos, quase como quem dança.

— Então você cultiva flores? — ele perguntou, tentando puxar conversa.

— Flores, ervas, e um tantinho de paciência com a terra. — respondeu Ana, soprando a xícara. — Tem quem veja só mato. Eu vejo remédio, enfeite, e até poesia.

Miguel se pegou observando-a de novo. Ana tinha algo de misterioso, mas não no sentido enigmático. Era mais como se ela pertencesse a um tempo diferente. Um tempo em que as palavras tinham mais valor e os silêncios, mais sentido.

— E você? — ela perguntou, olhando nos olhos dele. — Por que aceitou vir até aqui? Não parece muito fã de barro no sapato.

Ele riu, encabulado.

— Sinceramente? Eu queria sair um pouco do automático. A cidade cansa, sabe? Tava sempre correndo, entregando projetos que nem lembrava de onde vinham. Aqui... — ele olhou pela janela — parece que tudo tem cheiro, som, nome. Até o vento parece mais vivo.

Ana o observou com mais atenção dessa vez. Por um segundo, não viu o moço da cidade, mas um homem com olhos de quem andava cansado por dentro.

— Então talvez cê tenha vindo pro lugar certo. — disse ela. — Mas não espere que o campo vá te receber como hóspede. Aqui, ou aprende a ser da terra... ou volta correndo pra cidade.

Miguel sorriu, um pouco desafiado.

— E você? Vai me ensinar?

Ana ergueu uma sobrancelha.

— Posso até tentar. Mas aviso logo: eu sou melhor ensinando galinha a botar do que homem a ficar.

Dona Zefa soltou uma gargalhada alta da cozinha, fazendo Miguel corar um pouco. Ana apenas voltou a tomar seu café, como quem não tinha dito nada demais.

Lá fora, o sol seguia alto. Mas dentro daquela casa, Miguel sentia algo começar a mudar.

Não era só o calor do café. Era o calor de algo que ele não sabia dar nome — ainda.

Capítulos
1 Capítulo 1 – Estrada de Terra
2 Capítulo 2 – A Moça das Flores
3 Capítulo 3 – Moderno Demais pro Sertão
4 Capítulo 4 – Galinha na Janela
5 Capítulo 5 – Café, Couro e Paciência
6 Capítulo 6 – A Primeira Chuva
7 Capítulo 7 – Gente de Mundos Diferentes
8 Capítulo 8 – A Chegada de Letícia
9 Capítulo 9 – Noite de Fogueira
10 Capítulo 10 – A Tempestade e o Bilhete
11 Capítulo 11 – Raízes e Cicatrizes
12 Capítulo 12 — Heranças Esquecidas
13 Capítulo 13 – Terra Vermelha
14 Capítulo 14 – Festa da Colheita
15 Capítulo 15 – Terra em Julgamento
16 Capítulo 16 – O Último Testamento
17 Capítulo 17 – Quebra de Cercas
18 Capítulo 18 – Raízes Profundas
19 Capítulo 19 – Tempestade à Vista
20 Capítulo 20 – Vozes da Terra
21 Capítulo 21 — A Terra Não Cala
22 Capítulo 22 – Estrada de Volta
23 Capítulo 23 – Palavras que Plantam
24 Capítulo 24 – Casa Raízes
25 Capitulo 25
26 Capítulo 26 – Asa e Raiz
27 Capítulo 27 – Riscos e Colheitas
28 Capítulo 28 – Entre Estações
29 Capítulo 29 – A Casa que Nasceu do Vento
30 Capitulo 30 a viagem
31 Capitulo 31
32 Capitulo 32
33 Capítulo 33 – Entre Convites e Decisões
34 Capítulo 34 – O Casamento da Asa com a Raiz
35 Capítulo 35 – Céu de Dois
36 Capítulo 36– Casa Corpo Alma
37 Capítulo 37 – Fumaça no Horizonte
38 Capítulo 38 – Cinzas no Campo
39 Capítulo 39 – Vozes da Terra
40 Capítulo 40 – Onde Queima, Brota
41 Capítulo 41 – Coração em Semente
42 Capítulo 42 – Laços de Sangue e Terra
43 Capítulo 43 – Tempestade no Berço da Terra
44 Capítulo 44 – Clara de Sol e Terra
45 Capítulo 45 – Água e Nome
46 Capítulo 46 – Ramo Curvado
47 Capítulo 47 – Livro do Tempo
48 Capítulo 48 – O Vento que Ensina
49 Capítulo Final – Onde a Terra Abraça o Céu
Capítulos

Atualizado até capítulo 49

1
Capítulo 1 – Estrada de Terra
2
Capítulo 2 – A Moça das Flores
3
Capítulo 3 – Moderno Demais pro Sertão
4
Capítulo 4 – Galinha na Janela
5
Capítulo 5 – Café, Couro e Paciência
6
Capítulo 6 – A Primeira Chuva
7
Capítulo 7 – Gente de Mundos Diferentes
8
Capítulo 8 – A Chegada de Letícia
9
Capítulo 9 – Noite de Fogueira
10
Capítulo 10 – A Tempestade e o Bilhete
11
Capítulo 11 – Raízes e Cicatrizes
12
Capítulo 12 — Heranças Esquecidas
13
Capítulo 13 – Terra Vermelha
14
Capítulo 14 – Festa da Colheita
15
Capítulo 15 – Terra em Julgamento
16
Capítulo 16 – O Último Testamento
17
Capítulo 17 – Quebra de Cercas
18
Capítulo 18 – Raízes Profundas
19
Capítulo 19 – Tempestade à Vista
20
Capítulo 20 – Vozes da Terra
21
Capítulo 21 — A Terra Não Cala
22
Capítulo 22 – Estrada de Volta
23
Capítulo 23 – Palavras que Plantam
24
Capítulo 24 – Casa Raízes
25
Capitulo 25
26
Capítulo 26 – Asa e Raiz
27
Capítulo 27 – Riscos e Colheitas
28
Capítulo 28 – Entre Estações
29
Capítulo 29 – A Casa que Nasceu do Vento
30
Capitulo 30 a viagem
31
Capitulo 31
32
Capitulo 32
33
Capítulo 33 – Entre Convites e Decisões
34
Capítulo 34 – O Casamento da Asa com a Raiz
35
Capítulo 35 – Céu de Dois
36
Capítulo 36– Casa Corpo Alma
37
Capítulo 37 – Fumaça no Horizonte
38
Capítulo 38 – Cinzas no Campo
39
Capítulo 39 – Vozes da Terra
40
Capítulo 40 – Onde Queima, Brota
41
Capítulo 41 – Coração em Semente
42
Capítulo 42 – Laços de Sangue e Terra
43
Capítulo 43 – Tempestade no Berço da Terra
44
Capítulo 44 – Clara de Sol e Terra
45
Capítulo 45 – Água e Nome
46
Capítulo 46 – Ramo Curvado
47
Capítulo 47 – Livro do Tempo
48
Capítulo 48 – O Vento que Ensina
49
Capítulo Final – Onde a Terra Abraça o Céu

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