A segunda-feira chegou nublada, com o vento frio anunciando o fim do outono. Isabella se vestiu com sua jaqueta surrada, prendeu o cabelo em um coque simples e saiu, como sempre, com os cadernos apertados contra o peito.
Mas por dentro, nada estava como sempre.
Ela ainda sentia o peso do olhar da mãe, da advertência feita dias antes. E principalmente, o peso do que Lucas vinha despertando nela — algo que ela se recusava a nomear.
Na sala de aula, Lucas já estava lá. Sentado, como se esperasse por ela.
Quando ela entrou, seus olhares se cruzaram por um segundo.
— Bom dia, Isa. — ele disse, num tom mais contido do que o habitual.
— Bom dia, Lucas. — respondeu, indo direto para sua carteira.
Durante toda a aula, ele não a cutucou. Não puxou assunto. Só olhou. Várias vezes.
E cada uma dessas vezes, o coração de Isabella batia mais rápido.
Quando o sinal tocou para o intervalo, ela estava certa de que ele viria até ela. Mas não veio.
Lucas saiu sozinho, as mãos no bolso da calça, andando com passos pesados pelo corredor.
Isabella observou de longe, surpresa.
Na hora do almoço, ela encontrou-o sentado sob uma árvore do pátio. Sozinho. Com fones nos ouvidos e um caderno no colo.
Tomada por um impulso que nem ela mesma entendeu, foi até ele.
— Tudo bem?
Ele tirou os fones, surpreso.
— Tudo. E você?
— Tá estranho hoje.
Lucas sorriu, sem humor.
— Talvez eu só tenha cansado de correr atrás de alguém que está sempre pronta pra me rejeitar.
Aquelas palavras atingiram Isabella como uma bofetada.
— Eu não te rejeito.
— Rejeita, sim. Toda vez que desvia o olhar. Toda vez que me trata como se eu fosse só mais um riquinho idiota. Como se você soubesse quem eu sou.
Ela cruzou os braços, tentando manter a firmeza.
— E não é?
— Talvez eu fosse. Mas tem coisas que mudam a gente.
Isabella o encarou em silêncio. Havia dor nos olhos dele. Arrependimento, talvez?
Lucas fechou o caderno e o estendeu para ela.
— Aqui. Lê isso depois. Se quiser.
Ela segurou o caderno sem entender, mas assentiu.
Ele se levantou, bateu a poeira da calça e se afastou.
Naquela noite, já em casa, com a mãe dormindo e a TV desligada, Isabella abriu o caderno. Era a tal redação que a professora de literatura havia pedido.
O título: “A Escolha Que Me Persegue”.
E à medida que ela lia, o chão parecia sumir debaixo de seus pés.
Lucas havia escrito sobre um dia no segundo ano, quando fez uma aposta com os amigos: conquistar a garota mais improvável da escola. “Uma menina de cabelos presos e olhar sério, que parecia viver em outro mundo.”
Ele falava da culpa que sentia. De como no início era só um jogo. Mas que, com o tempo, algo nele começou a mudar. E que agora, o que mais temia era não ser digno do perdão dela.
Isabella fechou o caderno com o coração em choque.
Era sobre ela.
Tudo.
A aposta... era sobre ela.
E agora ela sabia.
A pergunta era: o que faria com essa verdade?
Perdoar? Afastar-se? Vingar?
Ou... deixar o coração escolher por ela?
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Ermintrude
Que história emocionante! Não consigo largar o livro.
2025-05-29
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