Lívia
Duas coisas que descobri bem rápido sobre o palácio:
Todo mundo sorri demais.
Parece que entrei em um filme bem do vagabundo e com baixa audiência.
Nenhum desses sorrisos é de verdade.
A Regina Georgie estaria em casa aqui.
Acordei no tal Pavilhão da Lua Silenciosa, e minha primeira reação foi: “Uau, será que entregam café na cama aqui?” Spoiler: não entregam. Mas mandaram quatro servas sorridentes, com penteados que desafiava a gravidade, para me banhar, vestir, pentear e, aparentemente, controlar todos os meus movimentos.
A banheira era linda, com pétalas de lótus e cheiro de flor-do-campo. Já a temperatura da água… nível “serei fervida como macarrão”.
— Não posso só... tipo... tomar banho sozinha?
Não queria ninguém olhando minhas partes íntimas sem nem me pagar um jantar antes. Nunca tive sorte em meus encontros mesmo, sempre tinha um espertinho querendo comer mais do que o cachorro quente de dez reais que com muito custo eu conseguia pagar.
As meninas me olharam como se eu tivesse proposto um ritual satânico. Não consegui convencer nenhuma. E lá fui eu, sendo lavada como se fosse uma estátua sagrada — ou um cachorro de exposição. Se bem que nessa época cachorro era lanche por aqui.
Depois, tentaram me vestir. Tentaram. Porque eu, sinceramente, não tenho habilidade nem paciência pra amarrar 47 partes de tecido em mim. Senti saudades do meu avental de garçonete.
Mas a pior parte? Os sapatos de sola rígida. Caminhar com aquilo era como tentar desfilar de salto na lama. E sem roupa íntima Porque calcinha, nessa época, é ficção científica. Não quero nem imaginar como seria a menstruação aqui, sem absorventes descartáveis que estava acostumada.
E isso levou-me a pensar no controle de natalidade, não que eu fosse-me esfregar em alguém no momento, mas lembrando bem daquele general gostozão eu estaria em graves apuros.
Eu nunca resisti a um homem bonito com cara de mal.
Fui levada ao “Salão da Harmonia de Primavera” para o café da manhã. Só que aqui, café da manhã significa chá sem açúcar, mingau de arroz e vegetais em conserva.
Cadê o pão com manteiga, meu Deus?
Eu queria só um gole de café.
Na mesa havia outras mulheres, todas belíssimas e arrumadas como bonecas de porcelana. Concubinas, servas de nobreza, ou candidatas a algo que eu nem entendi ainda. Todas me olhavam como se eu fosse uma invasora. Uma ameaça. Ou um vírus moderno que caiu no chá delas.
E o pior: elas cochichavam em mandarim. O pingente ainda me ajudava a entender, mas não traduzia a falsidade embutida. Já vi que aqui é um ninho de cobras.
— Ela é tão... grande — murmurou uma.
Grande? Aquela vaca magrela não sabe o quanto eu batalhei para ter esse bumbum? Foi anos subindo e descendo escadas e andando a pé. Maldita. Deve ser só pele e osso.
— E fala alto.
— Dizem que veio montada num raio.
— Ou que é filha de um dragão.
— Ou de um demônio.
Você vai já ver o demônio sua cadela.
A última me olhou com desprezo. Então eu sorri, fiz um tchauzinho e soltei:
— Vocês são lindas, mas deveriam usar menos blush. Tá parecendo cosplay de geisha do Aliexpress.
Silêncio mortal. Bingo.
Depois disso, fui levada para “aula de etiqueta”. E por aula, leia-se: três horas de explicações sobre como andar, sentar, comer e respirar como uma dama do império. Não podia cruzar as pernas. Não rir alto. Não olhar homens nos olhos. Não vi sentido nisso, porque A premissa é inegavelmente verdadeira? eu era uma prisioneira nesse lugar.
Pensando bem aquele imperador bonito e esquisito me olhou de um jeito estranho, como se quisesse tirar a minha roupa coma olhos.
Será que aquele ordinário queria me fazer parte do seu harém?
Deus me livre, eu seria morta antes mesmo de conseguir voltar para casa, senti isso só pelo olhar daquela mulherzinha que estava ao lado dele. Ela com certeza não hesitaria em cortar meu pescoço.
Adivinha quem falhou em tudo?
— Você é como um cavalo selvagem — disse a instrutora. — Linda, mas desgovernada.
— Obrigada! Sempre sonhei em ser comparada a um cavalo.
À noite, reencontrei o General Liang Wei.
Ele apareceu na porta do pavilhão com aquela cara de quem dorme com a espada. E possivelmente com a armadura também. Só de olhar pra ele, meu estômago deu um pulinho.
— Como está se adaptando, mulher do futuro? — perguntou, frio como sempre.
— Estou ótima! Já fui humilhada, depilada, servida chá sem açúcar e chamada de cavalo, e ainda roubaram minha calcinha. Isso num dia. E você?
O canto da boca dele se mexeu. Quase um sorriso. Mas não. Era só espasmo de quem quer rir, mas se lembra que tem reputação.
— Você vai acabar se metendo em problemas — ele disse, cruzando os braços.
— Já tô neles, docinho.
Ele se virou para ir embora, mas antes disse algo que ficou dançando na minha cabeça até dormir:
— Cuidado com o que diz, Lívia. Neste palácio, as paredes têm ouvidos. E algumas línguas são tão afiadas quanto espadas.
**
Dormir foi difícil.
O palácio era silencioso demais. Quente demais. Formal demais.
Mas mais do que tudo… perigoso demais.
E eu já sabia: a qualquer momento, ia fazer alguma besteira que mudaria tudo.
De novo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 36
Comments
EatYourHeartOut
Estou encantada com a escrita fluída e envolvente desse livro. Não consigo parar de ler!
2025-05-28
1