Lívia
Aparentemente, ser sequestrada por um general bonitão com cara de quem nunca ri é mais comum do que eu imaginava.
Fui levada numa carruagem cercada por guardas, enquanto o povo olhava como se eu fosse uma aberração mágica. Ou uma celebridade. Difícil dizer.
Chegamos ao palácio ao entardecer. E, olha… eu já vi muito documentário e novela de época, mas nada — NADA — me preparou pra aquilo.
Portões imensos com dragões dourados esculpidos. Jardins floridos com fontes e pontes delicadas. Paredes pintadas com cenas que pareciam saídas de um livro de mitologia. O lugar era tão lindo que me deu vontade de pedir um mojito e sentar pra contemplar a vida.
Mas, claro, não deu tempo.
Dois homens me empurraram pra dentro de uma sala retangular gigantesca, cheia de colunas vermelhas, tapetes de seda e gente ajoelhada. Um perfume forte de incenso me deixou meio tonta — ou era o medo mesmo.
E no fundo, no alto de um trono dourado, estava ele: o Imperador.
Pensei que ele seria um velhinho enrugado com cara de biscoito velho. Mas não. Era jovem, bonito, e tinha um olhar calculista, tipo cobra prestes a dar o bote.
Deus me livre, mais quem me dera.
Ao lado dele, uma mulher belíssima, vestida como um sonho de estilista barroco, me observava com olhos de quem já decidiu me odiar.
Também não queria estar aqui vadia.
— Então esta é a mulher caída do céu — o imperador disse, com voz suave e venenosa. — A enviada dos dragões?
Misericórdia será que caí em uma seita satânica ou algo assim.
Antes que eu pudesse responder com meu típico “não, só me perdi no ponto errado”, o general Liang deu um passo à frente.
— Majestade, ela apareceu no altar sagrado. Carrega o pingente celestial. Fala uma língua desconhecida. E não demonstra medo.
Ah se ele soubesse o quão apavorada eu estou.
— Isso é raro… ou estupidez — murmurou o imperador, erguendo uma sobrancelha.
Homem bonito mais ordinário?
Eu me curvei — ou tentei. Acabei fazendo uma mistura de reverência com agachamento de academia.
— Sua Majestosidade Imperialíssima… eu só queria dizer que estou tão confusa quanto todo mundo aqui, e que, se for possível, só queria saber como voltar pra casa. Ou, pelo menos, se tem pão.
Agora só falta morrer de fome.
Um silêncio mortal caiu.
A mulher ao lado do trono — que eu soube depois ser uma das concubinas reais — soltou um riso seco.
— Ela é uma tola — disse. — Ou uma atriz.
Cala boca mocréia esquisita.
— Ou uma excelente espiã — sugeriu um dos ministros.
— Ou uma enviada dos céus — disse um monge atrás de mim. — Os sinais estavam todos escritos nas estrelas.
Só gente louca!
O imperador me olhou fixamente, como se quisesse me despir com os olhos da alma. A tensão era tão densa que dava pra cortar com hashi.
Saí de mim abacaxi.
Então, ele sorriu.
— Muito bem, mulher de cabelos dourados.
Você não será executada… ainda.
Alívio. Temporário.
— Será nossa hóspede no Pavilhão da Lua Silenciosa.
Vigiada, claro.
Observada.
E, se causar problemas…
— Eu sou uma fonte constante de problemas, majestade — respondi antes de conseguir me controlar.
Maldita língua afiada.
Liang Wei cerrou a mandíbula. Um ministro pigarreou. Um guarda engasgou.
O imperador riu.
— Perfeito. Vai ser… divertido.
E assim, minha estadia no hotel cinco estrelas da dinastia Tang começou: com ameaça de morte, um possível crush fardado, e um pavilhão que, de silencioso, tinha só o nome.
Mal sabia eu que aquele palácio escondia segredos que fariam até o Google parecer desinformado.
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Atualizado até capítulo 36
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