Lívia
A espada estava a dois dedos do meu nariz.
Literalmente.
O homem à minha frente era alto, musculoso, e usava uma armadura dourada que parecia pesar mais do que minha dignidade no dia de boleto vencido. Seu cabelo escuro estava preso num coque elegante com um acessório de jade. O rosto? Escultural. Sério. Como se tivesse saído de um drama chinês — só que armado e nada afim de selfies.
Ele gritou outra coisa, dessa vez com mais raiva, e eu entendi:
— Quem é você? Espiã? Feiticeira? De onde veio?
Meu cérebro estava lutando entre responder e desmaiar. Acabei escolhendo a terceira opção: sarcasmo.
— Moço... se você quer saber meu signo, a gente pode começar com um “ni hao”, tá?
Ele estreitou os olhos. Claramente não achou graça. Ótimo começo.
Enquanto eu tentava ficar de pé, percebi que estava num templo antigo. Paredes de pedra, velas acesas, fumaça de incenso no ar. Em volta, monges assustados e soldados armados apontando lanças. Eu estava descalça, com meu uniforme de garçonete amarrotado, e com um dragão mágico no bolso.
Se isso não era um surto psicótico, era o episódio piloto da minha ruína.
— Meu nome é Lívia — disse, levantando as mãos. — LÍ-VI-A. Humana. Brasileira. Garçonete. Perdida. Não sou ameaça. A não ser pra fritura em óleo velho.
O general baixou a espada meio centímetro. Os soldados recuaram um passo. Alguém cochichou algo sobre “cabelos de ouro” e “mulher celestial”. Ótimo. De garçonete a deusa mística em dez minutos. Pior que Uber.
Ele me estudava. Seus olhos tinham aquele brilho frio de quem está calculando todas as formas possíveis de te derrubar — com ou sem espada.
— General Liang Wei — ele se apresentou, em um mandarim que eu magicamente entendia, graças ao pingente queimando no meu bolso. — Você não pertence a este tempo.
— E que tempo seria esse?— perguntei já temendo pela resposta.
— Estamos no ano de 630, na Dinastia Tang..
Misericórdia senhor, será que eu nunca vou ver minha mãezinha de novo?!
— Cara, isso só pode ser uma piada de muito mal gosto— murmurei, olhando meu avental sujo
Um silêncio pesado caiu. Os monges murmuravam orações. Eu juro que ouvi um deles dizer “ela veio do céu” e outro “ou do inferno”.
Liang Wei se aproximou devagar, pegou o pingente que agora brilhava como uma mini lua, e franziu o cenho.
— Isso é arte do céu… ou de demônios. E você, mulher de língua solta, acabou de se meter no meio de uma guerra.
Conte-me uma novidade Sherlock.
Ótimo se eu não achava que podia piorar.
Ele virou-se, acenou para os soldados e deu uma ordem que entendi perfeitamente:
— Levem-na ao palácio. O imperador vai decidir o que fazer com ela.
E foi assim que a minha aventura começou. Sem passaporte, sem chinelo, sem Wi-Fi. Espero que pelo menos esses não sejam iguais aos europeus na época medieval, detestaria ficar sentido fedor de quem tomava banho cada 6 meses.
Só eu, uma roupa feia, um general com cara de vilão sexy, e um império inteiro prestes a virar de cabeça para baixo.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
sweet_ice_cream
Não aguento mais esperar... por favor, atualiza o mais rápido possível!
2025-05-28
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