Leonardo.

— Então... essa é a noiva. Que interessante. Esperava algo mais... refinado. Mas tudo bem, Leonardo sempre teve um gosto peculiar. Gosta do exótico. E, pelo visto, agora também do rústico.

A mesa ficou muda.

Até o garçom parou de respirar.

Yarin engoliu a azeitona. Lentamente.

Limpa. Com dignidade.

— Rústico? — Ela ergueu uma sobrancelha. — Ah, que bom. Porque olhando pra sua boca, eu jurava que o tema era “enchimento de bote salva-vidas em formato humano”.

Valentina empalideceu.

Sofia quase cuspiu o vinho.

Caius fez um som esquisito, tipo um riso engasgado com admiração.

Thaddeus anotou mentalmente, tenho certeza.

— Desculpa, não queria ofender — disse Valentina, claramente querendo ofender de novo. — É que não costumo ver uma noiva chegar com as unhas por fazer, o joelho ralado e... isso é glitter na sua blusa?

Yarin sorriu. Doce como um soco de luva de ferro.

— É purpurina, amor. Das freiras. Foi uma guerra santa, você não entenderia. Ah, e sobre as unhas? — Ela ergueu as mãos. — Melhor sem esmalte do que cheias de silicone e frustração afetiva.

A mesa ficou em silêncio por dois segundos.

Dois segundos gloriosos.

Então Lorenzo aplaudiu.

Ele aplaudiu.

— Eu gostei dela — murmurou para mim, ainda batendo palmas devagar.

Eu fechei os olhos por um segundo.

Contando até dez.

Valentina se virou para o meu pai, tentando salvar a própria dignidade.

— Senhor Dante, peço desculpas. Eu não quis desrespeitar...

— Claro que não — Dante respondeu com um sorriso breve e perigoso. — Só entrou sem ser convidada, provocou nossa hóspede de honra e tentou marcar território como uma cadela em cio. Mas é compreensível. Instinto é difícil de controlar.

Silêncio.

Valentina enrubesceu até os fios de cabelo.

Virou nos saltos de mil euros e saiu da sala com a dignidade mancando.

E Yarin?

Yarin se esticou na cadeira, satisfeita, e sussurrou:

— Se for assim todo jantar, eu caso amanhã.

Eu a encarei.

Por um segundo, vi nela uma tempestade... e também uma promessa.

De caos.

De fogo.

De vida.

E percebi que talvez, só talvez...

Esse casamento seria muito mais do que uma aliança de paz.

Seria o começo da guerra mais divertida da minha existência.

Pensei que Valentina tivesse desistido.

Mas subestimar uma mulher ferida no ego era o mesmo que acender um cigarro num posto de gasolina. Quando menos se espera… tudo vai pelos ares.

Dez minutos depois de sua saída dramática, ela voltou.

Mais arrumada.

Com um salto mais alto.

E, claro, com mais volume labial. Juro que ouvi um estalo plástico quando ela sorriu.

— Esqueci minha bolsa. — Ela lançou o comentário para o ar, mas o olhar estava em Yarin. — E achei de extremo bom gosto da parte de vocês não oferecerem ajuda a uma convidada. Mas imagino que a etiqueta... não seja prioridade.

Yarin suspirou, como quem vê um pombo invadir a missa.

— Etiqueta? Claro. Inclusive, se quiser, eu mesma posso escrever “desesperada” num post-it e colar na sua testa. Assim ninguém precisa adivinhar.

— Querida... — Valentina segurava o riso, mas seus olhos queimavam. — Eu entendo. Deve ser difícil competir comigo. Leonardo tem um gosto... exigente.

— Tem, sim — Yarin respondeu, doce feito mel azedo. — Mas agora ele quer menos Photoshop e mais cérebro.

Valentina cerrou os olhos.

— Não sei de onde você veio, mas eu já estive no lugar que agora você ocupa.

— E eu também já usei fralda. Mas superei.

Caius engasgou com a água. Lorenzo literalmente caiu da cadeira.

Dante tossiu para disfarçar o riso. Aruna bebia o vinho como se fosse pipoca diante do espetáculo. Até Elena — Elena! — soltou um ruído de prazer que parecia… aprovação.

Valentina se aproximou de Yarin, como uma gata pronta pra arranhar.

— Acha mesmo que consegue manter o interesse dele? Um homem como Leonardo se cansa rápido.

Yarin ergueu-se da cadeira com um movimento elegante, felino.

— Ah, Valen, posso te chamar de Valen? É que “Valentina” parece nome de remédio que a gente toma quando tá com gases.

Ela sorriu e passou um braço pelos ombros da loira, como quem oferece consolo — ou ameaça disfarçada.

— E sobre o Leo, a gente faz um trato. Quando — e se — ele se cansar, eu te aviso. Aí você corre aqui, injeta mais cinquenta ml de autoestima no beiço, e tenta de novo.

Valentina se afastou com tanta raiva que o salto quase ficou preso no tapete. Pegou a bolsa, jogou um olhar assassino por cima do ombro e saiu sem olhar pra trás.

— Vocês viram isso? — murmurou Serena. — Foi tipo assistir uma onça domesticando um poodle.

— Isso foi brutal — disse Thaddeus.

— Foi arte — corrigiu Aruna.

E eu?

Eu encarei Yarin.

Ela voltou a se sentar como se nada tivesse acontecido.

Mordeu um pãozinho, pegou o copo de vinho e deu um gole.

— O que foi? — perguntou, ao notar meu olhar.

— Você é uma aberração — murmurei.

Ela riu, e seus olhos brilharam.

— Obrigada, noivo gelado. Fico lisonjeada. Agora vê se sorri. Tá todo mundo se divertindo. Menos você. E a Barbie da Fossa, claro.

E então, pela primeira vez naquele jantar…

Eu sorri.

De verdade.

Talvez o pacto de paz fosse um desastre.

Talvez ela fosse um cometa.

Mas, por Deus…

Eu nunca quis tanto ver o mundo pegar fogo.

E ela, com certeza, seria o fósforo.

O jantar acabou.

Os risos cessaram.

Os pratos foram recolhidos.

Mas o caos continuava ecoando dentro de mim.

Meus irmãos ainda riam pelos corredores. Meus pais fingiam naturalidade enquanto discutiam detalhes do tratado de paz. E eu... fui até o salão lateral, o único lugar onde a mansão ficava em silêncio.

Ou quase.

Ela estava lá.

Encostada no piano, como se o instrumento de ébano fosse seu trono.

Descalça. O salto nas mãos. A blusa amassada. E glitter — ainda — no cabelo.

— Foi um bom show, Yarin. — Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia.

Ela nem se virou.

— Obrigada. Faço festas infantis, casamentos e velórios. Mas cobro extra por funerais de ex-amantes que não sabem a hora de ir embora.

Cruzei os braços.

— Você tem ideia do que fez?

— Dei a resposta que sua boneca de silicone merecia.

— Ela é filha de um aliado antigo do meu pai.

— Então seu pai tem aliados com péssimo gosto.

Ela virou-se devagar, finalmente me encarando. Os olhos dela eram um campo de batalha — insolentes, vivos, perigosamente sinceros.

— Escuta, soldadinho de máfia — ela caminhou até mim, cada passo uma provocação, mesmo descalça. — Eu não escolhi isso aqui. Não pedi pra ser enfiada num vestido ridículo, servida num prato de prata e empurrada pra cima de um iceberg emocional que atende por Leonardo Vólkov Morelli.

Ela estava perto agora. Muito perto.

A ponto de eu sentir o cheiro da pele dela: lavanda, pólvora e desafio.

— Mas já que estou aqui — continuou — você vai ter que engolir duas coisas: meu temperamento e minha presença.

— Seu temperamento é um problema.

— E sua cara de paisagem me dá sono.

Travei o maxilar.

Ela provocava como quem respira. E eu estava perigosamente tentado a silenciá-la do único jeito que funcionaria: com a boca na dela.

Mas ela sorriu.

— Você não sabe o que fazer comigo, né?

— Sei sim. — Dei um passo à frente. — Você só não está pronta pra saber.

Ela não recuou.

Desgraçada. Não recuou.

— Avisa quando souber. Enquanto isso, continua com essa sua pose de chefe de cemitério... e eu continuo te confundindo.

Virei o rosto, rindo sozinho. Um riso seco, um pouco incrédulo.

Ela passou por mim e sussurrou ao sair:

— Você sorri bonito, sabia? Pena que é só de vez em quando. Mas tudo bem...

Eu vou arrancar mais.

Merda.

Essa mulher vai acabar comigo.

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Comments

Ludmila Marczykowski

Ludmila Marczykowski

cai nas graças desse livro,.começou diferente divertido e espero que fique assim até o final.

2025-07-16

0

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

Amando....ela é divertissima.....kkkkkk

2025-07-15

0

Viviane Maria Dias

Viviane Maria Dias

chorando de rir

2025-07-16

0

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