Acordei com um sobressalto, o coração batendo forte como se tivesse corrido por horas. A respiração entrecortada, a pele úmida e quente, e a ereção pulsante de um desejo que se recusava a ser ignorado. Mais uma vez. O mesmo homem. O mesmo arrepio queimando sob minha pele.
Dessa vez, eu estava na sala dele. Sentado naquela poltrona de couro preto, sempre perfeitamente posicionada no centro, como trono de um rei moderno. O cheiro de couro, madeira e algo mais, algo que só ele exalava, ainda parecia preso às minhas narinas. E ele estava lá. O sr. Seo Joon. De joelhos.
Seus cabelos escorriam pelos ombros como seda negra. A camisa preta, que tantas vezes imaginei em meus devaneios, não existia ali. No lugar, seu torso nu era uma obra esculpida em carne viva, envolta em cordas rubras e acetinadas, que serpenteavam por seus braços e tórax em nós complexos e belos. Os músculos do abdômen se contraíam conforme ele respirava, tenso. Submisso.
E ela... A mulher que aparecia em alguns dos meus sonhos, sempre sem rosto, sempre no controle. Uma dominatrix que não precisava gritar para dominar. A forma como ela se erguia sobre ele, a corda em suas mãos, o salto agulha tocando o mamilo sensível... O som que saiu da boca dela era um comando, disso eu tenho certeza, embora as palavras não chegassem até mim. Tudo parecia abafado, como se o ar tivesse sido tomado pelo desejo.
E eu... só observava. Preso. Atado, não por cordas, mas por algo muito mais forte. Um laço invisível entre aquele homem ajoelhado e o meu corpo que reagia em ondas.
Acordei assim: suado, tenso, latejando de desejo. Olhei para o relógio. Cinco da manhã.
Eu – Ótimo... Murmurei, sem um pingo de ironia. Porque dormir de novo não era uma opção. Levantei. O lençol colado à minha pele só reforçava o incômodo. Fui direto para o banho e girei o registro para o frio. Muito frio. Precisei me forçar a entrar sob o jato gelado. Um castigo necessário, talvez.
Enquanto a água me atingia, fechei os olhos. Por um momento, vi de novo os olhos dele. Suplicantes. Aquilo não fazia o menor sentido. Me vesti mais devagar do que o habitual. Tomei café com os movimentos automáticos de quem não está de fato ali. Meu corpo parecia presente, mas minha mente ainda estava ajoelhada diante daquela imagem... A do homem que todos na empresa temiam. Que nunca errava um botão, nunca sorria fora de hora, nunca permitia uma falha sequer. Ajoelhado. Atado. Vulnerável.
Eu – Mais um dia de trabalho... ou de tortura. Suspirei, engolindo o último gole de café, já frio. Coloquei o paletó, peguei minha pasta e saí. A cidade ainda despertava, e eu já sentia que seria um longo dia.
***
Eu estava debruçado sobre a mesa dele, alinhando os documentos para assinatura, quando ouvi a porta se abrir atrás de mim. Meu coração deu um salto, como se soubesse antes mesmo que meus olhos confirmassem.
Eu – Bom dia, senhor Seo Joon. Disse rapidamente, endireitando a postura.
Ele parou diante da mesa, sem pressa alguma, os olhos presos em mim com aquela intensidade que parecia atravessar a roupa, a pele, os ossos. Como se quisesse ver o que havia por dentro. E, honestamente, eu temia o que ele poderia encontrar.
Eu – Me desculpe, só estava organizando os papéis para as assinaturas. Já estava saindo... Fiz menção de recuar, mas continuei ali, preso por aquele olhar afiado.
Imagens do meu sonho, não... do meu delírio, passaram como um raio pela minha mente. Ele ajoelhado, as cordas vermelhas marcando seu corpo, o olhar suplicante. Meu rosto queimou e, por reflexo, abaixei os olhos. Então vi. Aquele breve movimento nos lábios dele. Não era exatamente um sorriso. Era sutil. Um curvar de canto de boca que qualquer um ignoraria. Mas eu vi. E duvidei de mim mesmo no segundo seguinte. “Não era possível.”
Seo Joon – Não precisa se desculpar. Ele disse, com a voz baixa, firme como aço. – Resolvi chegar mais cedo hoje.
Assenti, tentando recuperar minha compostura. Então ele continuou:
Seo Joon – Quero que organize a reunião com a área comercial. Aliás, passe a organizar todas as reuniões daqui em diante. Pessoalmente.
Levei um segundo a mais para reagir. Aquilo... Aquilo era um voto de confiança. Um reconhecimento. E vindo dele, parecia surreal. – Sim, senhor. Deixarei tudo pronto.
Voltei à minha mesa, mas a inquietação crescia dentro de mim. Não apenas pelos olhares ou pela forma como minha mente insistia em trair meu bom senso. Mas porque eu sabia o que estava por vir. A reunião com o comercial.
Eu tinha lido os relatórios, organizado os números, comparado os orçamentos. A proposta enviada era inflada, maquiada com justificativas frágeis. E o responsável por ela... era o primo do sr. Seo Joon.
Quando a reunião começou, o ar já estava denso. A tensão preenchia cada espaço da sala como se fosse palpável. O sr. Seo Joon manteve-se calado a princípio, apenas escutando. Mas eu via. Eu sentia. Os olhos dele ardiam a cada frase cuidadosamente disfarçada que o primo lançava. As palavras cheias de passivo-agressividade. A tentativa de manipular a situação com formalidade e sorrisos de plástico.
Eu olhava para ele de tempos em tempos. E o que vi... me marcou. Ele estava prestes a explodir. Era visível no modo como os músculos dos ombros se contraíam sob o tecido fino da camisa. A veia em seu pescoço, latejante, era uma ameaça constante. Quando ele se levantou e tirou o paletó com um movimento brusco, a sala silenciou.
Sob a luz fria, era possível ver os nós de tensão moldando sua forma. A respiração contida. O autocontrole ferido. Ele não precisava ceder. O poder era todo dele. Mas o veneno nas palavras do primo mexia com algo mais profundo. Quando o outro enfim se calou, o sr. Seo Joon falou. Frio. Cortante. Sem elevar o tom.
Seo Joon – Essa proposta será rejeitada. Os pontos que precisam ser revistos estão neste relatório. Ele bateu com a pasta sobre a mesa. – Se não houver ajustes... não há orçamento. E então, ele saiu da sala. Sem esperar resposta. Sem olhar para trás. A porta se fechou como um estalo seco e definitivo.
Eu fiquei. Fiz o encerramento, agradeci a presença de todos com a formalidade de praxe. Evitei o olhar do primo do sr. Seo Joon, que agora parecia ferido em seu orgulho. Quando todos saíram, permaneci ali. Ajeitando a sala com uma lentidão que não me era comum.
Parte de mim só queria adiar o retorno à minha mesa. A outra... estava digerindo o que havia visto. Nunca o vira assim. Nunca imaginei que pudesse quebrar a própria armadura. E aquilo me preocupava. Não por medo do que ele poderia fazer. Mas pelo que estava acontecendo comigo.
***
Voltei para minha mesa carregando mais perguntas do que papéis. Eu não queria admiti-lo, mas aquela reunião me abalara tanto quanto a ele. Ou talvez por causa dele. Tentei focar. Mergulhei no trabalho como uma forma de fugir da imagem dele, tensa e cheia de fúria contida, como uma corda prestes a arrebentar. Estava revisando a ata quando ouvi seus passos. Precisos. Rígidos. Ele saiu da sala com a mesma intensidade com que havia entrado na reunião mais cedo.
O ar ao redor pareceu mudar. Ficou mais denso. A raiva que ele carregava era silenciosa, mas palpável. Passou direto por mim, mas a meio caminho da porta, parou.
Seo Joon – Vou sair. Disse, sem rodeios. – Não volto mais hoje. Desmarque todos os meus compromissos.
Assenti de imediato, sem levantar os olhos. Ele estava prestes a ir embora quando... hesitou. Seus olhos encontraram os meus. Pela primeira vez desde a reunião. E então sua voz mudou. Não muito. Mas o suficiente para que eu notasse.
Seo Joon – Você não precisa cumprir o horário hoje. Vá quando terminar.
Pisquei. Engoli em seco. – Entendido, senhor Seo Joon.
Ele me observou por mais um segundo. Havia algo ali. Um cansaço antigo, talvez. Ou um... cuidado? Não. Eu estava vendo coisas de novo.
Assim que ele saiu, comecei a reorganizar sua agenda, movendo reuniões, redigindo e-mails curtos, objetivos. Adiei o que podia, cancelei o que não dava para manter. Ainda estava ajustando os compromissos da tarde quando meu celular vibrou. Um número desconhecido.
"Não consigo contato com o senhor Seo Joon. Por favor, diga a ele que estou no lugar combinado, esperando."
Li uma, duas, três vezes. Meu estômago revirou. Não reconhecia o número. Não era um nome salvo. E definitivamente não havia nada marcado na agenda do sr. Seo Joon para aquela tarde.
Fiquei olhando para a tela, tentando decidir o que fazer. Pensando que talvez fosse alguém importante, talvez um fornecedor, talvez algo pessoal. Ou... O pensamento surgiu antes que eu pudesse impedir. “Será? Será que era ela? A dominatrix?”
O ar me faltou por um segundo. Mas isso não fazia sentido. Ele não seria imprudente. Não deixaria rastros. Não colocaria alguém como ela em contato com o número corporativo do seu secretário. Certo? Mesmo assim, antes que eu pudesse me conter, disquei. Ele atendeu no terceiro toque.
Eu – Senhor Seo Joon, recebi uma mensagem de um número desconhecido. Disseram que estão esperando pelo senhor no local combinado... e não conseguiram falar diretamente com o senhor.
Um silêncio rápido do outro lado.
Seo Joon – Entendido. Obrigado por avisar. Ele disse, seco, antes de desligar.
Fiquei ali, com o celular ainda na mão. O que havia naquele "entendido"? Um traço de urgência? Ou... de incômodo? Observei a tela escurecer. A dúvida agora ardia como brasa. “Quem era aquela pessoa? O que significava aquele encontro? E por que diabos isso me afetava tanto?”
Talvez porque, pela primeira vez, algo escapara do controle do sr. Seo Joon. E talvez... porque eu não queria que essa outra pessoa conhecesse a mesma versão dele que meus sonhos agora pintavam com tanta nitidez.
Fiquei por mais alguns minutos encarando a tela do celular, como se ela fosse me entregar as respostas que eu não sabia nem por onde procurar. O número ainda estava ali, fixo na notificação. Anônimo, mas com peso suficiente para me deixar inquieto.
O mais sensato seria apagar. Não era da minha conta. Mas meus dedos se moveram antes que meu bom senso gritasse. Salvei o número. Sem nome. Sem categoria. Apenas “desconhecido”.
Fechei meu notebook, organizei rapidamente a papelada da mesa e desliguei o telefone corporativo. A empresa estava mais silenciosa àquela hora, as luzes já começavam a ser apagadas pelos sensores automáticos, um lembrete sutil de que o expediente chegara ao fim.
Peguei minha mochila e o sobretudo pendurado na cadeira. Dei uma última olhada para a porta fechada do escritório dele, como se pudesse ver através das paredes. Não vi nada, é claro. Mas senti. Algo havia mudado.
Eu só não sabia o quê... ou para onde aquilo me levaria. Com o celular ainda na mão, desci pelo elevador e fui embora, levando comigo o número de uma pessoa que talvez eu nunca devesse conhecer… e a vontade insana de descobrir exatamente quem ela era.
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Atualizado até capítulo 30
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