Segredos em Chamas
Siena despertou antes do amanhecer. O quarto ainda estava mergulhado na penumbra, mas o calor que lhe escorria pela pele não vinha apenas do verão sufocante. Sonhara com Luca. Não como o homem que tirou seu pai, mas como alguém que a olhava como se ela fosse sua salvação.
— Isso é loucura — murmurou para si mesma, sentando-se na cama.
Decidida a não ser apenas espectadora da própria prisão, ela se levantou e caminhou até a porta. Para sua surpresa, não estava trancada. Algo estava errado.
Corredores silenciosos se estendiam à sua frente. Ela caminhou devagar, os sentidos em alerta. A mansão era ainda mais opulenta à luz da madrugada, mas não havia sinal de ninguém.
Então, uma porta entreaberta chamou sua atenção.
Entrou.
Era o escritório dele.
Livros de couro escuro, papéis em pilhas organizadas e... uma parede repleta de fotografias.
O sangue de Siena gelou.
Lá estavam rostos conhecidos. Políticos. Empresários. Homens da lei. E entre eles... seu pai. Jovem, fardado, sorrindo ao lado de Luca, que parecia ter a mesma idade.
— Não pode ser...
Ouviu passos atrás de si. Virou-se rápido, o coração na garganta.
Luca.
Ele a encarava com o olhar escurecido, mas sem surpresa.
— Eu sabia que você viria aqui — disse com voz baixa, aproximando-se.
— Você conhecia meu pai? — a voz dela falhou. — Você... eram amigos?
Luca respirou fundo, os ombros pesados de memórias.
— Ele foi como um irmão pra mim. Nós começamos juntos... na mesma lama.
— E por que... por que você o matou?
— Porque ele escolheu sair. Denunciar. Ser herói. — A dor estampava o rosto dele. — Eu pedi que ele fugisse. Mas ele quis enfrentar tudo sozinho. E então... o Conselho decidiu. Eu apenas obedeci.
Siena sentiu os olhos marejarem. A raiva pulsava, mas agora misturada à confusão e ao luto.
— E você obedeceu, como sempre. Um cão da máfia.
Luca se aproximou mais, até estar perto demais.
— Eu carrego isso todos os dias. E talvez... seja por isso que não consigo te odiar. Porque você me lembra ele. Forte. Teimosa. Justa.
Ela queria gritar. Bater. Mas em vez disso, sua mão foi parar no peito dele, sentindo o coração bater com força sob a camisa.
— Você me destruiu. — Seus olhos brilhavam de lágrimas.
— Então me odeie. Mas não minta pra si mesma. — Ele roçou os dedos na cintura dela, puxando-a para perto. — Isso entre nós existe. Mesmo entre cinzas.
Siena não resistiu quando os lábios dele tocaram os seus. Foi um beijo urgente, cheio de dor, raiva e desejo contido. Ela se entregou por um instante, até que o som de um disparo cortou o ar.
— Abaixem-se! — alguém gritou do lado de fora.
Luca a puxou para trás da mesa no exato momento em que os vidros explodiam.
— Estamos sob ataque — disse entre dentes, sacando a arma presa à cintura. — Fique atrás de mim, Siena.
Ela tremia, mas seus olhos estavam acesos de adrenalina.
— Quem são?
— Alguém que quer me ver morto. E talvez... você também.
Ele disparou duas vezes contra a entrada, antes de puxá-la pela mão.
— Vamos sair por baixo. Tem um túnel.
— Você tem um túnel?! — ela exclamou, ofegante.
— Sou um mafioso. Acha mesmo que não?
O corredor secreto se revelou atrás de uma estante falsa. Escuro, úmido, com cheiro de ferro e pedra. Siena tentava acompanhar o passo dele, o coração martelando no peito, a mente em chamas com tudo que havia acabado de descobrir.
— Luca... — chamou ela, ofegante.
Ele parou e a encarou.
— Isso tudo... tem volta?
Luca passou a mão pela lateral do rosto dela, afastando uma mecha de cabelo.
— Eu não sei. Mas se tiver... é com você.
E seguiram em frente, mergulhando na escuridão — lado a lado, entre segredos, tiros e um sentimento impossível de ser contido.
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