Ecos das Sombras
A chuva caía fina sobre a calçada quebrada, e o som dos saltos de Isadora ecoava no silêncio da noite. Com o capuz do casaco escondendo metade do rosto, ela apressava os passos, sentindo aquela velha sensação de estar sendo observada. Era uma sensação que a acompanhava desde que decidira deixar para trás a vida que conhecia, a vida que a aprisionava em um ciclo de medo e incerteza. Agora, em uma nova cidade, com uma nova identidade, ela tentava se reinventar. Mas o medo era o mesmo.
Ela entrou na cafeteria quase vazia da esquina — um lugar comum, pequeno demais para chamar atenção. As paredes eram de um tom amarelado, e as mesas de madeira estavam um pouco desgastadas, mas era exatamente isso que a atraía. Era o tipo de lugar onde as pessoas não faziam perguntas, onde o barulho das xícaras e o aroma do café fresco podiam servir de pano de fundo para os pensamentos que ela tentava manter sob controle. Ninguém olhava duas vezes para uma mulher solitária com olhos tristes, e Isadora se sentia segura ali, mesmo que apenas por um momento.
Mas, até hoje, tudo parecia diferente.
Ele estava sentado no canto, vestindo preto como a própria noite. Alto, de pele pálida e olhos escuros demais para serem apenas castanhos, ele emanava uma presença que fazia o ambiente ao redor parecer mais denso. Quando os olhares se cruzaram, o tempo pareceu hesitar, como se o universo tivesse decidido fazer uma pausa para observar o que estava prestes a acontecer. O coração de Isadora bateu forte — não de desejo, mas de instinto. Um alerta. A adrenalina subiu, e a sensação de estar sendo observada se intensificou. Ele a reconheceu.
Mas isso era impossível... não era?
“Você tem um rosto familiar,” ele disse, com um leve sorriso nos lábios, como se saboreasse cada palavra, cada sílaba que escapava de sua boca. Havia um tom de desafio na sua voz, como se ele soubesse mais do que estava disposto a revelar.
Isadora engoliu em seco, tentando manter a calma. Não era a primeira vez que alguém dizia isso. Desde que mudara de cidade, já tinha ouvido essa frase algumas vezes, mas havia algo em Dante que fazia cada célula do seu corpo querer correr. Havia um magnetismo perigoso em sua presença, uma familiaridade que a fazia sentir que ele não era apenas um estranho, mas alguém que poderia desenterrar segredos que ela lutava para enterrar.
Ela apenas respondeu, com a voz firme, mas o olhar traindo uma fraqueza que ela não queria mostrar: “Não sou quem você pensa que eu sou.” As palavras saíram como um sussurro carregado de tensão, e, por um instante, o mundo ao redor delas desapareceu. O barulho da cafeteria, as conversas ao fundo, tudo se desfez, e restaram apenas os dois, imersos em uma batalha silenciosa onde cada um tentava descobrir o que o outro realmente sabia.
O sorriso de Dante se alargou, e ela percebeu que ele não estava ali por acaso. Ele tinha um propósito, e o coração de Isadora, que antes pulsava com o medo, agora batia com uma nova urgência — a urgência de descobrir o que aquele encontro significava para o seu futuro, e se era possível escapar mais uma vez.
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Atualizado até capítulo 31
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Nanda Ribeiro
Comecei a ler dia 28/05/2025 às 13:00 horas.
Portugal
2025-05-28
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