capítulo 5- O observador do quarto andar

Capítulo 5 – O Observador do Quarto Andar

Desde a volta de Hina Arai, os corredores do Colégio Aokigahara carregavam um silêncio diferente — não o silêncio normal de uma escola às sete da manhã, mas um silêncio que parecia conter a respiração.

Yuki jurava que, ao passar pelo corredor do quarto andar, uma silhueta o seguia com os olhos. Mas quando se virava, só havia o reflexo distorcido nos vidros das janelas — ou o nada.

A presença do caderno em mãos de Hina começava a afetar a todos. Não apenas por sua aparência grotesca — a capa parecendo pulsar como carne viva, e as páginas às vezes úmidas como se chorassem tinta — mas por algo mais sutil: ele parecia saber.

Naquela tarde nublada, enquanto investigavam o caderno — agora fechado, mas inquieto sobre a escrivaninha de Hina —, uma folha se soltou sozinha e caiu no chão. As letras vermelhas surgiram lentamente, como se arranhadas por dentro:

“Ele está vendo vocês.”

— Isso não é da Hina… — murmurou Riku, franzindo o cenho. — Esse estilo de letra… é diferente.

— Como assim diferente? — Yuki perguntou, ajoelhando-se ao lado da folha. — Parece… mais antigo.

Hina permaneceu em silêncio. Seus olhos estavam fixos na janela.

— Tem alguém aqui. — disse ela, com um tom que gelou o ar do quarto. — Alguém que nunca deixou esse colégio.

Na mesma noite, um novo nome apareceu na lista de alunos ausentes que a diretora mantinha em um armário trancado, vasculhado às escondidas por Riku: Ren Takasugi, 2º ano, desaparecido há cinco anos. Nunca encontrado. Arquivado como “abandono escolar”.

— Isso não faz sentido. — disse Yuki, segurando a ficha. — Ninguém lembra dele. Nenhum professor, nenhum aluno mais velho… É como se tivessem apagado o garoto.

Mas o mistério não era só esse. Hina sabia o que os outros não sabiam: Ren nunca foi embora. Ela o viu.

A primeira vez foi no reflexo do espelho do banheiro feminino do terceiro andar. Ele estava atrás dela, parado, vestindo o uniforme antigo da escola, olhando como se a conhecesse. E sorriu. Mas o espelho rachou segundos depois.

A segunda foi pior.

Durante uma aula, quando todos estavam distraídos, ela ouviu seu nome sussurrado vindo da janela. E quando olhou, Ren estava lá fora. Do lado de fora do quarto andar, em pé no ar, observando.

Naquela noite, o caderno se abriu sozinho. Uma nova página se escreveu diante deles, em uma caligrafia cortada e obsessiva:

“REN ESTÁ TRANCADO. ELE QUER SAIR. ELE PRECISA DE UM CORPO.”

Riku empalideceu.

— Ele quer... possuir alguém?

— Não. — respondeu Hina, com a voz baixa. — Ele quer voltar. Quer viver. E o caderno está ajudando.

Silêncio.

Depois, um som vindo do teto. Como passos arrastados. Como alguém caminhando entre os forros da escola.

Yuki levantou a lanterna. A luz tremia em sua mão.

— A gente precisa subir até o quarto andar. Hoje à noite.

Hina assentiu.

— Mas não vamos encontrar só Ren lá em cima. Vamos encontrar o que sobrou dele. E, talvez, o que ele se tornou.

Riku relutou em sair da sala, mas Hina já empurrava a porta com firmeza. O corredor estava mergulhado numa penumbra azulada. O último sinal havia soado há quase uma hora, e o colégio deveria estar vazio. Mas passos ainda ecoavam — passos que não eram deles.

Subiram as escadas lentamente, evitando fazer barulho. Cada degrau estalava como se denunciasse sua presença a algo que esperava no escuro.

Quando chegaram ao quarto andar, o ar parecia diferente. Mais denso. As luzes do corredor estavam apagadas, exceto por uma única lâmpada piscando no final do corredor, próxima à antiga sala de química, desativada desde um incêndio cinco anos atrás.

— Aqui foi onde Ren foi visto pela última vez. — sussurrou Hina.

Yuki engoliu seco.

— Você acha que ele... morreu aqui?

Hina não respondeu. Em vez disso, estendeu o caderno. Ele começou a tremer em suas mãos.

As páginas se viraram sozinhas. Mais palavras surgiram, como gravadas por unhas invisíveis:

“VOCÊS NÃO DEVERIAM ESTAR AQUI.”

E então, a porta da sala de química se abriu sozinha.

O cheiro de queimado invadiu o corredor, junto com um frio antinatural. A luz do corredor piscou violentamente e se apagou.

Tudo mergulhou na escuridão.

Riku acendeu o celular, a luz da lanterna tremia. Dentro da sala, havia algo — uma sombra curvada, como se estivesse de costas para eles. Respirava pesado.

De repente, uma voz surgida do nada ecoou pela sala:

— Vocês têm o meu caderno.

A figura se virou lentamente. Seu rosto estava embaçado, como uma imagem fora de foco. Mas os olhos... os olhos eram vermelhos como tinta fresca.

— Ren? — chamou Hina.

A sombra não respondeu. Apenas deu um passo à frente. O chão rangeu.

— Eu esperei. Vocês abriram. Agora... posso continuar.

Yuki recuou, puxando Riku pelo braço.

— A gente precisa sair!

Mas a porta atrás deles bateu com violência, sozinha. Trancada.

O caderno tremeu com mais força, a capa se abrindo como uma boca faminta. As páginas se agitavam.

A voz de Ren ecoou mais uma vez, agora mais próxima:

— Quem vai ser o novo autor?

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Comments

Hạ Khiếtttt

Hạ Khiếtttt

Mal posso esperar pelo próximo capítulo! 📖😍

2025-05-28

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