Sob o Céu que nos Revela

Pedro guiou Luana gentilmente pelo salão ainda movimentado, sua mão repousando com leveza em suas costas — um gesto singelo, mas que para ela significava um conforto inesperado em meio à tempestade de emoções que carregava. Quando cruzaram a porta principal, a brisa fresca da noite trouxe consigo um alívio silencioso e bem-vindo.

— Não precisa se incomodar em me levar — disse Luana, a voz ainda embargada, enquanto Pedro abria a porta de um carro elegante e discreto. — Minha cidade fica no interior… é bem longe daqui.

Pedro a olhou com uma expressão tranquila, o olhar iluminado pelos postes da rua, refletindo uma sinceridade rara.

— Sempre tive curiosidade de conhecer o interior — respondeu, com um sorriso leve. — A tranquilidade que vejo nos seus olhos me faz imaginar um lugar de paz. E, sinceramente, depois do que aconteceu lá dentro, a menor coisa que posso fazer é garantir que você chegue em casa em segurança.

Luana hesitou. A ideia de aceitar uma carona de um homem que havia acabado de conhecer gerava um incômodo sutil, uma voz cautelosa sussurrando em sua mente. Mas havia algo em Pedro… uma gentileza despretensiosa, quase desarmante. E a necessidade de escapar daquele ambiente sufocante pesava mais que o receio.

— Tudo bem, então — concordou, com um pequeno sorriso tímido. — Obrigada.

Pedro deu a volta e entrou no carro. Luana observava a cidade se afastar pela janela — as luzes vibrantes ficando para trás, dando lugar a ruas mais calmas, emolduradas por sombras e estrelas. O silêncio no carro era confortável, preenchido apenas por uma melodia suave que saía do rádio.

— Espere um instante — disse Pedro de repente, ao parar diante de um drive-thru iluminado. — Pedi algumas coisas para comermos no caminho. Espero que goste de surpresas.

Minutos depois, ele voltou ao carro com uma sacola de onde escapava um aroma delicioso.

— Sanduíches leves, frutas frescas e… — ele fez uma pequena pausa dramática antes de entregar a sacola para Luana — a melhor fatia de bolo de chocolate que encontrei. Achei que ambos merecíamos um mimo depois de uma noite… intensa.

Luana não conteve o riso — um som verdadeiro, o primeiro em horas.

— Você é inacreditável… muito obrigada.

Enquanto dividiam os lanches, a conversa fluiu com naturalidade. Pedro ouvia com atenção enquanto Luana falava sobre sua cidade natal, descrevendo as paisagens, os costumes, e como havia se apaixonado pela arte ainda menina. Ele a escutava como se cada palavra fosse importante — e isso a tocava profundamente.

(Pensamento de Luana: Ele é tão diferente do Davi… Tão gentil, interessado de verdade no que eu digo. Estranho como um desconhecido pode me fazer sentir mais à vontade do que alguém que conheço há anos.)

Pedro, por sua vez, falava de sua rotina na cidade grande, dos desafios de liderar uma empresa, sempre entrelaçando bom humor e humanidade em suas histórias. Ele elogiava a sensibilidade de Luana, a forma como seus olhos se iluminavam ao falar de arte.

(Pensamento de Pedro: Há uma beleza singela nela… uma força silenciosa. Seu olhar carrega histórias, uma melancolia doce que me intriga. E quando fala da arte… é como se o mundo parasse por um instante.)

Em um momento, enquanto saboreavam o bolo de chocolate, seus olhares se encontraram — longamente. O silêncio que se seguiu foi diferente. Carregado de algo invisível, mas presente. Uma eletricidade sutil, um reconhecimento silencioso.

Luana sentiu um leve calor subir pelas bochechas, algo novo e estranho percorrendo seu corpo.

Pedro sorriu — e aquele sorriso parecia iluminar o carro inteiro.

(Sentimento de Luana: Sinto algo... diferente. Conforto. Atração. É cedo demais pra sentir isso por alguém que mal conheço. Mas ele me desarma… com gestos, com o olhar… com essa sinceridade.)

(Sentimento de Pedro: Ela é especial. Tem algo nela que me prende — talvez essa doçura entranhada na dor que carrega. Me sinto movido a protegê-la… e, ao mesmo tempo, curioso. Fascinado.)

A estrada escura parecia menos solitária com a companhia. O tempo corria entre risos baixos, frases espontâneas e olhares compartilhados. Pedro era atencioso de maneira simples e honesta, e Luana, aos poucos, sentia a ansiedade se dissolver.

— Pedro — disse ela, quebrando o silêncio, com a voz mais leve — tem um lugar aqui perto… um dos meus favoritos. Se não for muito desvio, eu gostaria de te mostrar. É minha forma de agradecer por tudo.

Pedro arqueou levemente uma sobrancelha, curioso.

— Um lugar secreto? Fiquei interessado. Vamos.

Guiando-o por estradas de terra e curvas sinuosas, Luana o levou até o alto de uma colina. Um mirante natural, escondido entre árvores e silêncio. Quando o carro parou, o céu se abriu acima deles com uma clareza que Pedro jamais tinha visto.

A lua banhava a paisagem com uma luz prateada e suave, e as estrelas… milhares, vivas, intensas, parecendo querer contar segredos.

Pedro desceu do carro com uma expressão de espanto nos olhos.

— Uau… Luana… isso é inacreditável. É outro mundo. Na cidade, só se vê um ou dois pontinhos no céu, se muito. Aqui… é como se o universo estivesse vivo.

Ela sorriu, sentindo o coração aquecer com a reação dele.

— Eu venho aqui quando preciso me lembrar de que existe algo maior… algo que vai além da dor, da confusão. As estrelas me fazem sentir pequena… mas também parte de algo grandioso.

O vento soprou leve, e o perfume suave de Luana chegou até Pedro. Era doce, natural… como se viesse da própria terra. Ele a observou em silêncio por um instante, os cabelos levemente agitados pela brisa, o rosto iluminado pela lua. Uma beleza sutil e genuína.

(Pensamento de Pedro: Ela é tão… etérea. E ao mesmo tempo real. Me sinto puxado para perto, mas preciso respeitar o espaço dela. Ainda há fantasmas ao redor. Aquele tal de Davi… é uma sombra que paira.)

Luana sentiu o olhar dele sobre si e desviou os olhos para o céu, um rubor discreto aquecendo suas bochechas.

(Sentimento de Luana: O jeito como ele me olha… é como se visse algo em mim que nem eu mesma enxergo. Me deixa um pouco nervosa, mas não de medo. De expectativa… como se algo estivesse prestes a acontecer.)

O silêncio se prolongou entre eles — não desconfortável, mas carregado de possibilidades não ditas. Pedro respirou fundo, e desviou os olhos para as estrelas, como se também buscasse respostas nelas.

— É mesmo um lugar mágico — disse ele, enfim. — Obrigado por compartilhar.

Luana sorriu, um pouco mais confiante agora.

— Fico feliz que tenha gostado.

Ali, no alto da colina, sob o véu das estrelas, dois desconhecidos começavam a construir algo — ainda indefinido, ainda frágil. Mas real. Algo que nascia entre feridas abertas e asas recém-descobertas.

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