A pequena nave cortava o vazio do espaço em alta velocidade, seus motores pulsando com um brilho azul-claro. Lá dentro, o ambiente era apertado, quase claustrofóbico, e Kael sentia o peso do silêncio entre ele e sua misteriosa salvadora, Lyra.
Ela estava no painel de controle, concentrada em coordenadas que Kael não entendia, enquanto ele se sentava no banco ao lado, ainda tentando processar os eventos que haviam acabado de acontecer.
"Você vai me explicar o que está acontecendo ou eu devo adivinhar?" Kael quebrou o silêncio, sua voz carregada de frustração.
Lyra não desviou o olhar do painel. "Você realmente não sabe o que acabou de fazer, não é?"
"Eu sei que quase destruí minha oficina e mandei dois soldados voando contra a parede. Isso nunca aconteceu antes."
Ela finalmente olhou para ele, seus olhos dourados brilhando. "Isso é porque você ativou um poder que estava adormecido em você. Algo raro, perigoso e... valioso."
Kael franziu a testa. "E o que isso significa?"
"Significa que você não é apenas um mecânico qualquer, Kael. Você é um Portador."
A palavra pairou no ar, carregada de um peso que Kael não compreendia completamente. Ele balançou a cabeça, confuso. "Um Portador? Do que você está falando?"
Lyra suspirou, como se estivesse lidando com uma criança teimosa. "Portadores são indivíduos que possuem habilidades extraordinárias, geralmente ligadas às forças fundamentais do universo. Gravidade, tempo, energia, matéria... Você, Kael, é capaz de manipular gravidade. Isso não é algo que se aprende ou se desenvolve por acaso. É algo que nasce com você."
Kael ficou em silêncio por um momento, tentando absorver a informação. "Se isso é verdade, por que agora? Por que nunca aconteceu antes?"
Lyra cruzou os braços e se inclinou contra a parede da nave. "Às vezes, esses poderes ficam latentes até que algo os desperte. Um trauma, uma situação de perigo extremo... ou, no seu caso, pura sorte."
Kael passou as mãos pelo cabelo, tentando acalmar a tempestade de pensamentos em sua mente. "E o Império? Por que eles estavam atrás de mim?"
"Porque Krael Zyn e seus cientistas querem usar os Portadores para criar armas vivas. Eles estão construindo um exército, e você acabou de se tornar o alvo principal deles."
Enquanto a nave avançava pelo espaço, Lyra ajustou o curso, programando um salto hiperespacial. “Temos algumas horas antes de chegarmos ao nosso próximo destino. Você deveria descansar.”
Kael riu, nervoso. “Descansar? Você está brincando, certo? Acabei de descobrir que tenho superpoderes e que um tirano intergaláctico quer me transformar em arma. Como diabos você espera que eu relaxe?”
Lyra não respondeu. Em vez disso, ela pegou uma bolsa que estava sob o assento e tirou uma pequena caixa metálica. “Aqui. Isso deve ajudar.”
Kael olhou para o objeto, hesitante. “O que é isso?”
“Comida. Não se preocupe, não está envenenada. Só coma antes que desmaie de fome.”
Apesar de sua desconfiança inicial, Kael abriu a caixa e encontrou pequenos cubos brilhantes que mais pareciam peças de vidro do que alimento. Ele mordeu um deles e ficou surpreso com o sabor — uma mistura de frutas doces e algo levemente picante.
Enquanto ele comia, Lyra se sentou no assento oposto, observando-o. “Você não parece entender a gravidade da situação.”
“Como assim?”
“Você acabou de entrar no jogo mais perigoso da galáxia. E, se quiser sobreviver, vai precisar de aliados. Muitos aliados.”
Kael parou de mastigar e olhou para ela. “E você? Por que está me ajudando?”
Lyra desviou o olhar, seu semblante se tornando mais sério. “Digamos que eu tenho meus próprios motivos para lutar contra o Império. E pessoas como você são a única esperança que temos.”
“Pessoas como eu?”
“Portadores. Há outros por aí, escondidos, lutando para sobreviver. E, se conseguirmos reuni-los, talvez tenhamos uma chance de derrubar Krael Zyn.”
Kael ficou em silêncio, processando o que acabara de ouvir. Ele não sabia o que era mais difícil de acreditar: que ele tinha poderes incríveis ou que agora fazia parte de uma guerra que mal entendia.
O som de um alarme interrompeu o momento de trégua. Lyra se levantou rapidamente e correu para o painel de controle.
“Droga! Encontraram a gente.”
Kael se levantou, alarmado. “O quê? Quem?”
Lyra apontou para a tela, que mostrava três naves menores se aproximando rapidamente. “Piratas. E dos perigosos.”
Kael arregalou os olhos. “Piratas espaciais? Isso só pode ser uma piada.”
“Gostaria que fosse. Agora fique quieto e faça o que eu mandar.”
As naves inimigas abriram fogo, e a pequena nave de Lyra começou a sacudir violentamente. Ela manobrou com habilidade, desviando dos tiros, mas era evidente que estavam em desvantagem.
“Tem alguma arma aqui? Qualquer coisa?” Kael perguntou, segurando-se para não cair.
Lyra apontou para um compartimento no fundo da nave. “Lá! Mas não espere nada sofisticado.”
Kael abriu o compartimento e encontrou um rifle de plasma desgastado. Ele voltou para a cabine e se preparou. “O que eu faço com isso?”
“Vou abrir a escotilha traseira. Tente acertar os propulsores deles.”
“Você está maluca? Eu mal sei usar isso!”
“Então aprenda rápido!”
A escotilha abriu, e Kael sentiu o vento forte do vácuo artificial criado pela barreira de energia. Ele se posicionou, mirando nas naves que os perseguiam.
Com as mãos trêmulas, ele disparou o rifle. O tiro errou por pouco, passando entre duas naves inimigas. Ele xingou baixinho e tentou novamente.
Desta vez, o disparo atingiu um dos propulsores, e a nave começou a girar descontroladamente antes de explodir.
“Bom tiro!” Lyra gritou, enquanto continuava manobrando.
Mas as outras duas naves não desistiram. Uma delas se aproximou o suficiente para lançar ganchos magnéticos, prendendo-se à nave de Lyra.
“Eles vão tentar nos abordar!” ela avisou.
Kael sentiu o pânico tomar conta, mas algo dentro dele começou a mudar. Ele sentiu a mesma energia de antes, aquele calor estranho que parecia fluir em suas veias.
Quando os piratas invadiram, Kael levantou as mãos instintivamente. Um deles foi jogado contra a parede com tanta força que o capacete rachou. Os outros hesitaram, mas Kael já havia se tornado o centro de uma onda gravitacional que os lançou para fora da nave.
Quando tudo terminou, Lyra olhou para ele com uma mistura de espanto e aprovação. “Nada mal para um amador.”
Kael, ofegante, olhou para suas mãos novamente. “Eu... eu não sei como fiz isso.”
“Você vai aprender,” disse Lyra. “Porque, a partir de agora, sua vida depende disso.”
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Atualizado até capítulo 50
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