O barulho do motor do trator ao longe era o único som que se misturava à respiração acelerada de Isadora. Sentada na beira da cama, com os cabelos ainda úmidos do banho e a toalha enrolada no corpo, ela olhava pela janela aberta. O vento trazia o cheiro da terra molhada e da lenha queimando no fogão da cozinha. Mas nada, nem a calmaria do campo, era suficiente para apagar o fogo que se acendia dentro dela.
A tensão entre os três homens crescia a cada dia. O desejo que dividiam por ela, mesmo que silencioso em palavras, estava escancarado nos olhares. Nos toques. Nos ciúmes mal disfarçados.
Leandro era o mais contido, sempre protetor, sempre presente. Mas os olhos dele a denunciavam quando via Ian se aproximar demais. Já Ian era fogo e provocação. Não tinha receio de expor o que sentia — ou queria — e muitas vezes testava os limites dos outros dois. Vicente, por sua vez, era um mistério. Ora doce e apaixonado, ora distante, como se lutasse contra o próprio coração.
Isadora fechou os olhos, tentando organizar os sentimentos, mas tudo que veio foi a lembrança da noite anterior. Três corpos, três formas de amar. Eles a cercaram com desejo, respeito e intensidade, deixando-a entregue ao prazer e à confusão. Foi ali que ela percebeu: já não havia volta.
A porta do quarto se abriu sem aviso, e Ian entrou. Estava suado, a camiseta colada ao corpo depois de trabalhar nos currais. O cheiro dele invadiu o ambiente, misturando masculinidade e campo.
— A cidade tá falando da gente, Isa — ele disse, sem rodeios. — E não é bonito o que tão dizendo.
Ela o encarou, surpresa pela franqueza.
— Eu já esperava por isso — murmurou. — Mas o que exatamente estão dizendo?
— Que você é “a moça perdida da fazenda”, que “se deitou com três ao mesmo tempo”, que “trouxe vergonha pro nome da tua família”... — Ele cuspiu as palavras como se estivessem sujas. — Até o padre comentou no sermão de domingo.
Isadora sentiu o sangue ferver. Não era raiva por ela — era por eles. Pelos homens que a amavam e estavam sendo atacados por algo que só dizia respeito ao coração.
— Eles não sabem de nada — disse, firme. — E se soubessem... ainda assim, não é da conta deles.
Ian a olhou com um brilho de orgulho.
— É por isso que eu te quero, mulher. Tu é coragem pura. Mas não vai ser fácil. E vai doer.
Ela se levantou, deixando a toalha escorregar pelo corpo sem pensar. Ian engoliu em seco. Aquilo não era uma provocação. Era verdade nua e crua. Ela estava ali. Sem medo. Sem vergonha.
— Eu sei que vai doer, Ian. Mas vai valer a pena.
Ele a puxou para perto, com força e cuidado. E ali, entre sussurros, carícias e a certeza de que estavam quebrando todas as regras de um mundo que nunca os aceitaria, eles se amaram como se o amanhã não existisse.Mas o amanhã viria. E com ele, uma visita inesperada que mudaria tudo.
O cheiro do café fresco pairava na cozinha quando Isadora desceu as escadas, ainda com os lábios marcados pelos beijos de Ian. Havia uma leveza em seu corpo, uma confiança que parecia crescer mais forte cada vez que escolhia o próprio desejo em vez do medo.
Mas aquela manhã não traria paz.
O barulho de um carro na estrada de terra chamou sua atenção. Era raro receberem visitas sem aviso — e naquela região, cada ruído estranho era motivo de alerta. Vicente já estava na varanda, os braços cruzados, os olhos fixos na caminhonete que se aproximava.
Leandro surgiu ao seu lado. Havia tensão em seus ombros, a respiração presa, como se soubesse o que estava por vir.
— É ele... — murmurou.
— Quem? — Isadora perguntou, já se adiantando.
O carro parou com um estalo seco do freio. A porta se abriu, revelando um homem alto, de cabelo grisalho, terno escuro e expressão severa. Um rosto que Isadora reconheceria em qualquer lugar.
Seu pai.
— Isadora Vasconcellos, temos que conversar.
O tempo congelou. A última vez que vira aquele homem fora no enterro da mãe. Ele a rejeitara por ter escolhido viver no campo, longe da família tradicional e religiosa. Agora, ele estava ali, diante da casa que ela construía com três homens que não cabiam no molde do que ele chamava de “digno”.
— Senhor Vasconcellos — Leandro cumprimentou, com educação fria.
— Eu não vim falar com você, Leandro. Nem com nenhum desses... rapazes. Vim tirar minha filha dessa vergonha.
Isadora sentiu o estômago revirar. Mas não se moveu. Não recuou.
— Não estou envergonhada, pai. Não mais. Eu amo esses homens. Amo esta terra. E não aceito viver escondida por causa do seu orgulho.
— Você manchou o nosso nome!
— O nome que me obrigava a fingir que era outra pessoa? O nome que me fez crescer com medo de amar? — A voz dela ecoou firme. — Aqui eu encontrei liberdade. Verdade. E isso vale mais do que qualquer sobrenome.
Ele a olhou com nojo, como se não a reconhecesse mais. Mas Isadora permanecia firme, com os pés plantados na varanda da fazenda onde era dona da própria história.
— Então assuma as consequências. Porque a cidade inteira vai virar as costas pra você. E eu... também.
Ela sentiu um aperto no peito, mas não cedeu.
— Então vire. Eu já aprendi a andar sozinha.
Seu pai deu meia-volta, entrou no carro e partiu, deixando atrás apenas poeira e um silêncio denso.
Vicente foi o primeiro a se aproximar, colocando uma mão em seu ombro. Leandro e Ian se uniram a ele, formando o escudo que sempre seriam.
Isadora respirou fundo. Lágrimas ameaçavam cair, mas ela as segurou.
— Agora começa a guerra.
— E a gente vai lutar com você — disse Ian.
— Até o fim — completou Leandro.
— Porque você é nossa — sussurrou Vicente. — E a gente não vai deixar ninguém apagar isso.
Perfeito! Vamos à Parte 3 do Capítulo 9 de Entre Céus e Pecados, com mais emoção, tensão e união entre os protagonistas diante do preconceito da cidade:
O silêncio da casa parecia respirar junto com eles, depois que o carro do Sr. Vasconcellos sumiu na estrada de terra. A poeira ainda pairava no ar quando Isadora, firme, entrou novamente, sentindo o peso das palavras do pai ecoarem dentro de si.
Ela se sentou na cadeira de balanço, com os olhos fixos na porta, mas a mente distante. Vicente trouxe um copo d’água e o entregou com cuidado, como quem oferece algo sagrado. Ela aceitou, sem dizer nada, os dedos tremendo levemente.
— Você foi incrível, Isa — murmurou ele. — A forma como falou com ele... Foi corajosa.
Ela sorriu, fraco.
— Foi assustador também. Eu senti como se estivesse rasgando uma parte da minha infância.
— Talvez estivesse — Leandro disse, sentando-se no braço da cadeira, tocando de leve seu rosto. — Mas agora você está escrevendo sua própria história.
— E a cidade? — ela perguntou. — Ele falou a verdade. Eles vão me condenar. Nos condenar.
Ian apareceu, os olhos intensos.
— Eles que tentem. A cidade não manda aqui. Ninguém entra nesse lar pra tirar a sua força, Isadora. Ninguém.
Vicente assentiu.
— E se vierem atrás, vão ter que passar por nós.
Isadora suspirou. Parte dela ainda se sentia pequena diante do olhar acusador do pai, mas outra parte... outra parte crescia em chamas.
— Então vamos mostrar pra essa cidade quem eu sou. Quem nós somos.
Naquela mesma noite, a decisão estava tomada: fariam a primeira festa aberta da fazenda desde que ela assumira seu amor pelos três. Um evento beneficente, com música gaúcha, comida típica e exposição de produtos locais — tudo com a assinatura dos quatro. Seria uma declaração pública de que ela não se esconderia mais.
Os preparativos começaram no dia seguinte. Ian ficou responsável pelo som, Leandro organizava os fornecedores e Vicente treinava os cavalos para uma pequena apresentação. Isadora, por sua vez, cuidava da divulgação e convidava pessoas da cidade pessoalmente.
Muitos aceitaram com sorrisos tensos. Outros, simplesmente viravam o rosto.
— Se aparecerem cem, já é vitória — disse Ian, ao vê-la frustrada depois de um dia exaustivo.
— Se aparecerem dez, já é resistência — completou Vicente. — E se ninguém vier, a gente dança juntos mesmo assim.
Na véspera do evento, a pressão aumentou. Boatos começaram a circular de que haveria protestos. Um grupo religioso local espalhava mensagens moralistas e até ameaçadoras em redes sociais.
Isadora encarava tudo com um misto de raiva e medo. Mas não recuava. Não mais.
— Que venham — disse ela, ao ver um dos comentários mais violentos. — Eu não vou me esconder. Não depois de tudo.
Na madrugada, ela saiu sozinha até o estábulo. O céu estava estrelado, o vento frio cortava as folhas, e ali, entre o cheiro de feno e terra molhada, ela encontrou forças.
Pouco depois, os três apareceram, como se fossem atraídos por seu silêncio.
— Está tudo bem? — Leandro perguntou.
— Vai ficar — respondeu ela. — Mas esta noite... eu preciso de vocês. Não só como meus homens. Como meu lar.
Os três a cercaram, e naquele lugar sagrado para ela, o amor falou mais alto. A entrega foi lenta, profunda, com toques suaves e beijos molhados. O desejo os uniu em um ritmo cúmplice, onde ela era o centro, adorada, reverenciada e consumida por cada um deles com carinho e luxúria.
Ali, Isadora não era apenas a mulher dividida entre três corações. Era a mulher inteira que os reunia.
E quando o sol nasceu no dia seguinte, com a festa prestes a começar, ela estava pronta.
Para o amor. Para o escândalo. Para o mundo.
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Comments
Albertina Sacramento
parece tudo muito resumido, o que tira o charme da história ☹️
2025-05-27
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