Labirinto de Desejos e Segredos
O dia começava frio na fazenda, com a névoa abraçando os campos e o canto distante dos galos anunciando o despertar. Mas dentro da casa, a atmosfera estava pesada, carregada de um silêncio inquietante que nem o café quente conseguia dissipar.
Vicente caminhava pelo corredor principal, os olhos escuros e profundos presos em pensamentos que ninguém ousava interromper. Ele sentia que algo estava escapando, um jogo de sombras que se desenrolava bem diante dele, e ainda assim, não conseguia decifrar.
Quando viu Isadora na varanda, contemplando o horizonte, seus músculos se tensionaram. Ela estava ali, com aquela aura de fogo e mistério, e ele sabia que algo entre eles tinha mudado — ou melhor, algo entre ela e os outros dois homens também.
— Posso falar com você? — Vicente perguntou, a voz firme, mas com um toque de incerteza.
Isadora o encarou, surpresa. Não era comum Vicente buscar conversas tão diretas.
— Claro.
Eles se afastaram da varanda, buscando privacidade no escritório da fazenda.
— Eu sei que você não está só comigo — ele começou, sem rodeios. — Leandro e Ian... você está se envolvendo com os dois. Isso é perigoso.
Ela desviou o olhar, sentindo o peso daquela frase. Não queria admitir que seu coração estava dividido, que as noites não eram apenas lembranças, mas possibilidades.
— Eu não escolhi isso, Vicente. As coisas... simplesmente aconteceram.
— Você pode escolher — ele respondeu, a voz baixa, quase um sussurro. — Mas escolher não significa que o caminho vai ser fácil. Aqui, na fazenda, as coisas têm consequências.
Isadora fechou os olhos, lembrando do bilhete. Do mistério que rondava tudo aquilo.
— E os bilhetes? — perguntou, com a voz tensa. — O que isso tudo significa? Por que estão chegando até mim?
Vicente respirou fundo, como se estivesse carregando um segredo pesado demais.
— Há coisas no passado dessa terra que nunca deveriam ter sido desenterradas. Seu pai... ele mexeu em algo grande. Algo que pode destruir tudo.
Ela olhou para ele, olhos brilhando.
— Então precisamos descobrir a verdade. Juntos.
Ele assentiu, a mão estendendo-se para um toque silencioso.
Enquanto isso, do outro lado da fazenda, Ian estava sozinho no estábulo, com o coração disparado e o rosto marcado pela discussão recente com Isadora.
Quando encontrou outro bilhete preso sob a sela do cavalo, sua respiração falhou.
“Cuidado com aqueles que você chama de irmão.”
Ele olhou ao redor, a paranoia crescendo.
Leandro apareceu na entrada, sorrindo, mas com olhos de lobo.
— Está preocupado?
— Deveria estar? — Ian perguntou, tentando soar mais confiante do que sentia.
Leandro deu um passo adiante.
— Na fazenda, segredos são como armas. E alguns já foram disparados.
Mais tarde, Isadora se viu sozinha na cozinha, os olhos caindo sobre uma foto antiga de sua família.
Leandro entrou, silencioso, aproximando-se por trás.
— Às vezes, acho que essa fazenda nos prende, não nos liberta.
Ela virou-se para ele, surpresa.
— Por que diz isso?
Ele suspirou, tocando a foto.
— Porque aqui, as pessoas não mudam. Os segredos ficam. E as feridas nunca fecham.
Ela sentiu a mão dele em sua cintura, quente, segura.
— Talvez precisemos criar nosso próprio caminho.
Quando a noite caiu, os três homens se encontraram no celeiro. As tensões explodiram em palavras afiadas, acusações veladas e olhares que cortavam como lâminas.
Vicente, Leandro e Ian — três homens ligados por um destino cruel e por Isadora.
Ela os observava, dividida, consciente de que o que começava como um jogo de sedução e desejo, logo se tornaria uma batalha pelo coração e pela alma de todos ali.
Calor no Escuro
O vento sul soprava forte naquela noite, agitando as árvores ao redor da fazenda como se fossem mensageiras de uma tempestade que ainda estava por vir. Isadora sentia o coração inquieto, uma mistura de excitação e medo, desejo e incerteza. Já não sabia se era a tensão entre os homens ou a própria pulsação de algo mais profundo que a fazia se mover silenciosamente pela casa, como se buscasse algo que nem sabia nomear.
Ela entrou no estábulo, atraída por uma luz tênue que escapava pelas frestas. Encontrou Leandro e Ian ali, um de frente para o outro, tensos, como se estivessem prestes a lutar ou... a se render.
— Sabem que não adianta se encarar assim — ela disse, a voz baixa, quase um convite.
Leandro olhou para Ian. Ian olhou para ela. A eletricidade no ar parecia vibrar em cada respiração contida.
— E o que você sugere, Isadora? — Ian perguntou, os olhos escuros cravados nos dela.
Ela se aproximou lentamente, como uma gata em silêncio. Colocou uma mão no peito de cada um, sentindo os batimentos acelerados.
— Que vocês parem de lutar... e me mostrem o que realmente querem.
A tensão se desfez como uma represa rompida. Leandro a puxou pela cintura e a beijou, um beijo bruto, faminto, como se precisasse provar algo. Ian veio por trás, suas mãos deslizando pelos braços dela com uma suavidade que contrastava com o calor urgente de Leandro.
Ela se entregou ao momento, ao desejo, ao choque delicioso de dois mundos colidindo nela ao mesmo tempo.
O corpo de Ian pressionava suas costas, seus lábios explorando seu pescoço com precisão. Leandro já desabotoava a camisa dela, os olhos fixos nos dela, perguntando silenciosamente se ela estava pronta. Isadora respondeu com um beijo profundo, e a noite se desenrolou ali, entre fardos de feno e gemidos abafados, na dança mais selvagem e doce que já haviam vivido.
Eles eram fogo e brisa. Força e ternura. E ela estava no centro daquele furacão, sendo consumida por dois homens ao mesmo tempo, sem culpa, sem arrependimento. Apenas desejo e verdade.
Horas depois, ainda com os cabelos bagunçados e a pele marcada pelos carinhos, Isadora voltou para casa sozinha. O silêncio pesava, mas não tanto quanto o bilhete que encontrou embaixo de sua almofada.
“Nem todos os prazeres são inocentes. O sangue já foi derramado uma vez.”
O papel tremia em suas mãos. As palavras pareciam ecoar com uma voz antiga, quase familiar.
Ela foi até a varanda, o papel ainda nos dedos. Vicente estava lá, sentado, segurando um copo de whisky, o olhar perdido na noite.
— Você sabia disso, não é? — ela perguntou, aproximando-se. — Sobre os bilhetes. Sobre o sangue.
Vicente a encarou com dor nos olhos. Uma dor antiga, profunda.
— Seu pai descobriu mais do que devia. Agora eles acham que você também vai descobrir.
— Quem são eles?
— A família que vendeu metade da fazenda para seu avô... Eles nunca aceitaram perder o poder. E juraram vingança.
Ela sentiu o estômago revirar.
— Então isso tudo... os bilhetes, os segredos, até os homens que estão ao meu redor... tudo é parte de algo maior?
— Não todos os homens — Vicente respondeu, se aproximando dela. — Mas eu... estou disposto a queimar o passado se for por você.
Ele a beijou. Um beijo lento, doloroso, como se quisesse tatuar sua alma na dela.
E ela... deixou.
Porque agora, mais do que nunca, Isadora sabia: estava em guerra. E o campo de batalha era o seu próprio coração.
Capítulo 7 – Parte 1: As Sombras e o Desejo
O sol mal tinha nascido, mas a fazenda já pulsava com uma energia inquieta. O cheiro de terra molhada, o canto distante dos galos e o barulho abafado dos cavalos no estábulo criavam uma melodia familiar, mas havia algo diferente no ar — algo tenso, carregado, como se uma tempestade emocional estivesse prestes a cair.
Isadora acordou com o corpo ainda marcado pelas memórias da noite anterior. Os toques, os sussurros, os beijos compartilhados com Leandro e Ian pareciam gravados na pele. Mas era o beijo de Vicente, logo depois, que martelava sua mente com mais força. Ele a beijara como se dissesse adeus… ou como se soubesse de algo que ela ainda não entendia.
Ela se sentou na cama, enrolada no lençol branco, observando o bilhete ainda sobre a mesinha de cabeceira. As palavras ecoavam em sua mente:
“Nem todos os prazeres são inocentes. O sangue já foi derramado uma vez.”
Levantou-se e se vestiu devagar, escolhendo uma calça jeans surrada e uma camisa de algodão amassada. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo desleixado e desceu para o café. Precisava tentar retomar alguma normalidade — se é que isso ainda era possível.
Na cozinha, Dona Lourdes preparava café com leite e pão com nata, como fazia todos os dias. Mas nem ela escapava do clima estranho.
— Dormiu bem, minha filha? — perguntou, sem erguer os olhos da chaleira.
— Dormi. Mais ou menos. — Isadora forçou um sorriso. — A senhora sabe de alguma coisa sobre bilhetes... antigos, ameaças ou... sei lá, histórias da fazenda?
Dona Lourdes virou-se devagar. Seus olhos castanhos estavam mais sérios
Vozes do Passado
A noite parecia silenciosa na superfície, mas dentro da casa Azevedo, as emoções rugiam feito trovões abafados.
Depois do breve momento de ternura na varanda, Leandro e Ian haviam voltado para o galpão, tentando não se deixar levar demais pelos sentimentos. Isadora, porém, se sentia inquieta. Algo nas palavras de Dário ecoava fundo. “Limpar a sujeira da família dela.” Que sujeira era essa?
Cansada de não saber, ela foi até a cozinha, onde Dona Lourdes picava ervas para o chá. A velha empregada parou o que fazia quando viu o olhar determinado de Isadora.
— A senhora vai me contar agora, Dona Lourdes. Tudo. Sem rodeios.
Dona Lourdes soltou um suspiro pesado e se sentou à mesa. Seus dedos enrugados trêmulos apertavam o pano de prato enquanto olhava a jovem à sua frente.
— Seu pai, Isadora, não era o homem que você pensava. Nem sua mãe. Eles se conheceram aqui, mas vieram fugidos da cidade. Seu pai era apaixonado por essa terra... mas também por dinheiro fácil. Se envolveu com gente errada. E fez inimigos poderosos. — Ela fez uma pausa e respirou fundo. — Inclusive o pai de Dário.
Isadora arregalou os olhos.
— O quê?
— Os pais de vocês brigaram por causa de uma dívida antiga. Uma disputa por terras, negócios sujos... e sua família pagou um preço alto. Seu pai desapareceu, lembra? Nunca encontraram o corpo. Mas há quem diga que foi o pai do Dário quem deu fim nele.
O chão pareceu sumir debaixo de seus pés. As palavras batiam como marteladas.
— E ninguém nunca me contou nada?
— A cidade toda sabe, menina. Por isso eles cochicham quando você passa. Acham que você vai repetir o destino dos seus pais.
Isadora engoliu em seco. Agora tudo fazia sentido. Os olhares, os comentários disfarçados, os sorrisos falsos.
Horas depois, Vicente voltou.
A caminhonete barulhenta estacionou na lateral da casa. Ele desceu sem dizer palavra, mas o olhar duro denunciava que algo estava errado. Leandro, que cortava lenha próximo ao estábulo, o viu de longe e foi ao encontro.
— Sumiu de novo — disse Leandro, cruzando os braços. — Tá virando rotina.
— Fui resolver uma pendência — respondeu Vicente, seco.
— O quê? Alguma coisa a ver com aquele bilhete idiota que você deixou no quarto da Isadora?
Vicente parou de andar.
— Você leu?
— Eu vi. E você não tem o direito de assustar ela desse jeito. A gente prometeu proteger, não deixar ela ainda mais confusa!
— Confusa? — Vicente riu, mas sem humor. — Ela já está confusa por sua causa. Por causa dos dois! — apontou, quando Ian se aproximou. — Transformaram o sentimento dela em um jogo.
— Você também tá envolvido, Vicente. Não se faz de santo — Ian rebateu.
— Eu a amo — Vicente disparou.
O silêncio que seguiu foi devastador. Leandro cerrou os punhos, os olhos faíscando. Ian apenas baixou a cabeça. Era verdade. E era algo que nenhum deles estava pronto para admitir até aquele momento.
Vicente respirou fundo.
— Não estou jogando. Só estou tentando evitar que ela se machuque... de novo. Porque vai acontecer. E vocês sabem disso.
Virou as costas e entrou na casa, deixando os dois em meio a um mar de dúvidas.
Na cidade, os rumores ganhavam força.
Uma conversa escutada por acaso na padaria, outra no salão de beleza. Logo, a história de que Isadora estava “vivendo com três homens” se espalhou como fogo em palha seca. E não era só isso. Dário, com sua língua venenosa, alimentava ainda mais o falatório.
— Aquela ali não vale nada. Igual ao pai. Tá lá na fazenda fazendo safadeza com os Azevedo. — disse ele, sem se preocupar em esconder o veneno.
A notícia chegou aos ouvidos de um velho conhecido: o vereador Augusto, que tinha antigos interesses nas terras dos Azevedo e um rancor pessoal contra Vicente.
Augusto sorriu ao ouvir a fofoca. Finalmente, uma brecha.
— Vamos ver quanto tempo essa família resiste com a cidade inteira contra eles — murmurou, antes de fazer uma ligação.
Na fazenda, Isadora tentava se distrair limpando os currais, mas tudo doía: os músculos, o coração, a alma. Quando olhou para o lado, viu Vicente encostado no portão, observando em silêncio.
— Vai ficar só olhando ou vai me ajudar? — ela provocou, tentando aliviar o clima.
Ele se aproximou devagar. O cheiro de madeira, terra e suor misturado ao perfume sutil dele a atingiu de imediato.
— A gente precisa conversar.
— Já passou da hora, não acha?
Sentaram-se no banco de madeira perto da cocheira. Vicente ficou em silêncio por um tempo, e então, com um olhar sombrio, começou:
— Eu também conheci seu pai. Era amigo dele. Ou achava que era. Foi ele quem me apresentou aos Azevedo. E foi por causa dele que tudo desmoronou.
— O que você quer dizer?
— Seu pai se envolveu com gente perigosa. E quando a coisa apertou, tentou fugir. Me usou pra isso. Eu ajudei... e paguei um preço alto. — Ele ergueu a manga da camisa e mostrou uma cicatriz antiga. — Fui jurado de morte. Os Azevedo me esconderam por meses. E quando ele sumiu... eu jurei nunca mais confiar em ninguém.
Isadora sentiu os olhos arderem.
— E por que você ficou?
— Porque quando vi você, anos depois, com aquele olhar tão parecido com o dele... percebi que a história ainda não tinha terminado.
Ela tocou de leve a mão dele, e os dedos se entrelaçaram. Havia mágoa ali, mas também uma conexão profunda. Mais que desejo. Era algo que vinha das raízes.
Enquanto isso, no galpão, Leandro e Ian preparavam a ceia com silêncio tenso. Mas quando Isadora apareceu na porta com os olhos úmidos e um sorriso incerto, tudo pareceu suavizar por um instante.
— Vamos comer?
— Claro — disseram os dois, juntos.
Naquela noite, apesar dos olhares trocados, das palavras não ditas e dos sentimentos embaralhados, o jantar foi tranquilo. Uma trégua antes da próxima tempestade.
Mas todos sabiam: o que vinha pela frente não seria fácil.
Ardência & Verdade
A noite caiu sobre a fazenda como um véu espesso. A lua cheia se pendurava no céu como uma testemunha silenciosa das emoções que ferviam dentro da casa Azevedo.
Depois do jantar, Isadora subiu para o quarto. Precisava respirar, organizar os pensamentos. Mas o que encontrou foi mais confusão: Leandro sentado na beira da cama, o olhar distante, e Ian encostado no parapeito da janela, observando o campo escuro.
— Achei que estivessem no galpão — ela disse, surpresa.
— A gente precisava falar com você — Ian respondeu, virando-se.
Leandro se levantou, aproximando-se. Havia tensão nos ombros largos, mas também algo mais: desejo, saudade, dúvida.
— Tá tudo bem? — ele perguntou.
Isadora assentiu, mas sua voz falhou:
— Não. Não tá.
Ela sentou na ponta da cama, os ombros caídos. Sentia-se dividida entre os três, entre o que era certo e o que seu corpo gritava.
— Eu não sei o que fazer. Amo vocês de maneiras diferentes... e isso me destrói.
Ian veio até ela e se ajoelhou à sua frente.
— Então para de tentar lutar contra isso.
— Mas e a cidade? Minha família? A minha reputação?
Leandro sentou ao lado dela, e seu toque foi suave.
— Que se dane a cidade. Eles nunca viveram nem metade do que a gente viveu aqui. — Ele a olhou nos olhos. — Você não precisa escolher agora. Só precisa ser sincera com a gente. Com você.
As palavras tocaram algo fundo nela. Pela primeira vez, não havia julgamento nos olhos deles. Só aceitação.
E naquele instante, algo rompeu.
Isadora os puxou. Primeiro Ian, depois Leandro. Os corpos se encontraram em uma dança de pele e emoção. Beijos suaves se tornaram intensos. Mãos exploravam sem medo, sem culpa.
Leandro a deitou na cama, os cabelos bagunçados como moldura para o rosto corado dela. Ian se posicionou ao lado, os lábios roçando o pescoço de Isadora, que soltava pequenos gemidos. As roupas foram caindo, uma a uma, até que o calor se tornou inevitável.
Ela se entregou aos dois. Leandro com sua firmeza protetora, Ian com sua doçura envolvente. A cama virou palco de um amor sem regras, sem limites, onde cada toque era uma promessa e cada suspiro, uma confissão.
Naquela noite, os três não dormiram. Criaram laços. Desfizeram medos. Esqueceram o mundo lá fora.
Na manhã seguinte, o mundo cobrou sua dívida.
Dona Lourdes entrou no quarto com o jornal local nas mãos. Tremia de raiva.
— Isso aqui... — ela jogou o papel na cama — ...é o que a cidade está dizendo de vocês!
A manchete estampava:
“Escândalo na Fazenda Azevedo: Jovem herdeira vive romance com três irmãos?”
A foto era uma montagem tosca, mas o dano já estava feito. Isadora sentiu o estômago revirar.
Leandro pegou o jornal, bufando.
— Isso foi o Dário. Só pode ter sido.
— Ou o vereador — Ian disse. — Ele sempre quis essas terras.
— Eu vou até a cidade — Vicente surgiu na porta. — Isso não vai ficar assim.
Mas Isadora segurou seu braço.
— Não. Deixa comigo. Eu vou resolver isso. Do meu jeito.
Ela foi até o centro usando uma das caminhonetes velhas. Parou em frente à rádio local, onde a maioria dos boatos ganhava força.
Lá dentro, pegou o microfone sem avisar ninguém e disse ao vivo:
— Aqui quem fala é Isadora Fagundes. Estão dizendo coisas sobre mim e os Azevedo. Então vou contar a verdade.
A cidade inteira parou. Comércios desligaram televisões, motoristas encostaram os carros. Todos ouviram quando ela disse:
— Eu amo três homens. De verdade. E eles me amam de volta. Isso é errado? Talvez para você. Mas para mim, é a única coisa certa em meio a tanta dor.
Ela finalizou:
— Quem quiser me julgar, que jogue a primeira pedra. Mas lembre-se: talvez amanhã seja você no meu lugar.
Silêncio.
Depois, lentamente, a rádio começou a receber ligações. Algumas de apoio. Outras de crítica. Mas o que ninguém podia negar era que, pela primeira vez em muito tempo, alguém tinha coragem de quebrar o ciclo de hipocrisia daquela cidade.
Na fazenda, quando ela voltou, foi recebida com abraços, lágrimas e beijos. Não palavras. Apenas afeto.
Mas o alívio durou pouco.
No fim da tarde, chegou uma carta. Sem remetente. Escrita à mão, com letras tortas.
“A verdade sobre sua mãe está mais perto do que você imagina. Mas cuidado… a próxima a desaparecer pode ser você.”
Isadora apertou o papel com força. O passado não estava morto.
Estava apenas adormecido.
E agora, queria acordar.
Sombras no Horizonte
O sol da manhã ainda não havia rompido o nevoeiro quando Isadora despertou. O lençol emaranhado ao redor do corpo nu, os músculos levemente doloridos da noite anterior. Ela sorriu. Um sorriso verdadeiro. O tipo que vinha depois de noites em que o coração e o corpo finalmente se entendiam.
Leandro ainda dormia, o braço estendido sobre o travesseiro onde estivera a cabeça dela. Ian, por sua vez, já estava de pé. O som distante da água no chuveiro denunciava sua presença no banheiro.
Ela se levantou com cuidado, enrolando o lençol no corpo, e caminhou até a janela. A fazenda ainda estava silenciosa. O cheiro de terra molhada se misturava ao perfume de madeira e grama. Era um novo dia… mas ela sentia no ar uma inquietação. Como se o tempo estivesse prestes a virar.
Poucos minutos depois, Ian surgiu com uma toalha enrolada na cintura, gotas de água escorrendo pelo peito definido. Ele se aproximou dela, beijando sua nuca com carinho.
— Bom dia, minha mulher linda.
— Bom dia, meu homem doce — ela respondeu, sorrindo e virando-se para encará-lo. — Dormiu bem?
— Dormir, não muito. Mas te ver relaxar daquele jeito ontem à noite… compensou cada segundo de cansaço.
Ela riu, um riso tímido, ainda envergonhada com a intensidade da noite que viveram. Ian encostou a testa na dela.
— Você ainda tem medo?
— De quê?
— De tudo isso. De nós três. Da cidade. Do escândalo.
Isadora respirou fundo.
— Não do que a gente sente. Mas… recebi uma carta ontem. Uma ameaça velada. Sobre minha mãe.
Ian ficou sério de imediato.
— Você contou pro Vicente?
— Não. Ainda não sei se devo. Nem pra ele, nem pros outros.
O barulho da cama se mexendo os interrompeu. Leandro se espreguiçava, os olhos se abrindo devagar.
— Que tipo de ameaça?
— Uma carta anônima. Dizendo que a verdade sobre minha mãe está mais perto do que imagino. E que talvez eu seja a próxima.
Leandro se levantou num pulo, indo direto até ela.
— Onde tá essa carta?
— No meu criado-mudo.
Ele pegou o papel e leu rapidamente. A mandíbula se contraiu.
— Isso não é brincadeira. Alguém da cidade quer mexer com tua cabeça.
— Ou alguém daqui de dentro — Ian completou, cruzando os braços. — Quem mais sabia que ela estava fuçando o passado da mãe?
Isadora respondeu em voz baixa:
— Só vocês... e a dona Lourdes.
Leandro passou a mão nos cabelos, frustrado.
— Isso pode ser coisa do Dário. Ou alguém ligado ao que aconteceu com a sua mãe naquela noite...
O nome da mãe dela pairou no ar como um fantasma. Ana Fagundes. A mulher que desapareceu vinte anos atrás em circunstâncias suspeitas. A mulher que ninguém mais parecia querer lembrar, exceto Isadora.
Ela suspirou, tentando afastar os pensamentos. Então, sorriu, com um brilho nos olhos.
— Por que a gente não aproveita o dia hoje? Um piquenique no pasto. Um momento só nosso, sem medo, sem ameaça.
Ian e Leandro se entreolharam. Ambos assentiram.
— Se for com você, até o inferno vale a pena — Ian disse, beijando sua mão.
— Vamos mostrar pra esse povo fofoqueiro que o nosso amor é forte — Leandro completou, com um sorriso cúmplice.
O piquenique foi montado sob a sombra de uma grande figueira no alto da colina da fazenda. A vista dali era de tirar o fôlego: campos dourados se estendiam até o horizonte, as vacas pastando ao longe, e o som das cigarras enchendo o ar.
Isadora deitou no cobertor estendido, sentindo a brisa brincar com seus cabelos. Ian servia morangos e pedaços de queijo, enquanto Leandro abria uma garrafa de vinho gaúcho.
— Lembro de quando eu era pequena — Isadora disse, encarando o céu — e minha mãe me trazia até aqui. Ela dizia que o mundo podia ser cruel, mas que embaixo dessa árvore, nada de ruim poderia acontecer.
— Talvez ela soubesse de algo — Ian comentou.
— Talvez — ela respondeu, pensativa. — Às vezes me pergunto se o desaparecimento dela tem a ver com esse lugar. Com alguém da cidade...
— Ou com seu pai — Leandro disse em voz baixa, mas sem ironia.
Ela engoliu seco. Era difícil pensar naquela possibilidade. Ainda mais agora que começava a relembrar fragmentos de memórias, flashes de vozes, sussurros, gritos abafados...
— Eu preciso descobrir a verdade. Mas não quero perder vocês no caminho.
— Você não vai — Ian disse, deitando ao lado dela e puxando-a para seu peito.
Leandro se deitou do outro lado, beijando sua têmpora.
— A gente vai estar com você até o fim. Pro que der e vier.
Quando o sol começou a se pôr, eles voltaram para casa. A noite prometia ser calma, mas a chegada de um carro preto na entrada da fazenda mudou tudo.
Era Vicente.
Ele desceu do carro com o semblante tenso.
— Precisamos conversar. Agora.
Eles se reuniram na sala, e Vicente mostrou o que trazia nas mãos: uma foto antiga, envelhecida pelo tempo. Nela, uma jovem mulher — claramente Ana Fagundes — sorria abraçada a dois homens. Um deles era o pai de Isadora.
O outro, um homem desconhecido... que tinha o rosto assustadoramente parecido com Ian.
— Isso estava entre uns papéis antigos da prefeitura — Vicente disse. — E o mais estranho? Achei no arquivo de terrenos grilados. Registrado no mesmo dia em que sua mãe desapareceu.
Isadora sentiu o chão sumir.
— O que isso significa?
Vicente suspirou.
— Que sua mãe pode ter descoberto algo maior do que a gente imaginava. Algo que envolvia posse de terra, gente poderosa… e talvez... traição.
Ela olhou para a foto de novo. O homem ao lado de sua mãe. O mesmo sorriso de Ian. Os mesmos olhos verdes.
O que aquilo significava?
— Esse homem... pode ser teu tio. Ou...
— Ou meu verdadeiro pai? — Ian perguntou, surpreso.
O silêncio foi brutal.
Nada seria como antes.
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Comments
Albertina Sacramento
a história é linda!.. porém, faltam muitos detalhes sobre a relação sexual deles! para quê poupar autora? não tem inocente lendo! se é um hot precisa contar os detalhes para ficar mais interessante e excitante!
2025-05-27
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