Entre Três Corações - Harém Reverso
SOBRE A AUTORA
Keitlin Raiane, sob o pseudônimo de Angelinna Fagundes, encanta com suas histórias sensíveis e cheias de imaginação. Escritora, esposa e mãe de uma filha, Keitlin nasceu em Palmeira – Paraná e, desde 2015, vive na zona rural de São João do Triunfo, na comunidade de Boa Vista, onde encontrou paz para dar vida às suas ideias.
Angelinna e Keitlin são duas facetas de uma mesma autora apaixonada por criar mundos. Escrevendo há anos, agora decidiu compartilhar seus plots com o mundo. Apaixonada por histórias com suspense, ação, romance e emoção, ela escreve com o coração. E quando não está com o caderno ou o computador na mão, está cuidando com doçura da família que tanto ama.
Sinopse:
Isadora sempre foi o retrato da obediência e da discrição. Criada numa fazenda tradicionalista do interior do Rio Grande do Sul, aprendeu cedo que amor era sacrifício e silêncio. Mas tudo muda quando três homens cruzam seu caminho — cada um trazendo uma nova forma de sentir, desejar e desafiar. Enquanto vive intensas relações com eles, Isadora precisa enfrentar o preconceito da comunidade, os segredos enterrados da sua família e, acima de tudo, suas próprias amarras.
Entre o estábulo, os campos e as noites quentes do Sul, ela descobrirá que o amor não cabe em moldes antigos — e nem ela.
Prólogo — A Maldição do Desejo
Dizem que certas mulheres nascem para obedecer. Outras, para seduzir.
Eu nasci para destruir tudo que tocar.
Meu nome é Isadora Valente. Herdeira de uma tradição podre, onde honra era sinônimo de silêncio e vergonha era passada como herança. Cresci em meio ao cheiro de esterco, ao barulho das botas no chão de madeira e às ordens cuspidas com dureza pelos homens da minha família. Eles mandavam. Nós obedecíamos. Sempre foi assim.
Até que eu voltei.
Sete anos longe da fazenda me ensinaram duas coisas:
Primeiro, que fugir nunca é o bastante quando os fantasmas moram dentro de você.
E segundo... que o desejo não escolhe a forma certa de acontecer.
Eu amei três homens ao mesmo tempo.
Vicente, o homem do passado, que carrega meu primeiro suspiro de revolta e minha última lembrança de pureza.
Leandro, o forasteiro racional, que usa a mente como arma, mas treme quando me toco.
Ian, o bastardo selvagem, que chegou como um vendaval e me despiu com os olhos antes mesmo de me conhecer.
Na cidade pequena onde o pecado tem nome e endereço, meu nome virou maldição.
“Isadora Valente, a que desonrou o sangue.”
Mas ninguém sabe o que vivi.
Ninguém viu o que senti quando fui tocada por três almas que me libertaram das correntes invisíveis.
Ninguém entende que amar mais de um homem pode ser o único jeito de amar por inteiro.
Este livro não é sobre uma mulher indecisa.
É sobre uma mulher decidida demais para viver metade da vida.
E se eu tiver que pagar o preço por querer tudo...
Então que venha o fogo.
Porque eu já ardi antes — e sobrevivi.
Capítulo 1 — O Retorno à Estância
O barulho das rodas do ônibus se misturava ao som abafado do motor enquanto Isadora observava o horizonte dourado do entardecer gaúcho. O céu era um espetáculo de cores — laranja queimado, rosa suave e azul profundo. Ela inspirou fundo, sentindo o cheiro familiar de terra molhada e feno, que parecia trazer de volta cada lembrança da infância, cada silêncio imposto, cada ordem jamais questionada.
Ela estava de volta à Estância Valente, a fazenda da família, após quase sete anos longe.
Aos vinte e cinco anos, Isadora retornava diferente. Carregava marcas que não se viam nos olhos dos outros, cicatrizes internas que a cidade grande acentuou, mas também fortaleceu. Já não era mais a garota que abaixava a cabeça diante do pai ou que engolia o choro no silêncio do quarto. Tinha voltado para cuidar da avó doente — pelo menos era o que dizia para si mesma —, mas no fundo sabia que enfrentaria algo maior: o próprio passado.
Assim que desceu do ônibus, sentiu o vento frio bater no rosto e, com ele, o cheiro da liberdade misturado ao medo. Um Jeep antigo estacionado próximo à cerca de arame farpado a aguardava. E junto dele, ele.
— Sempre pontual, Isa — disse a voz grave e rouca que a fazia estremecer por dentro.
Era Vicente, o peão de confiança do seu avô. Agora com trinta e poucos anos, continuava com o mesmo olhar firme, o chapéu surrado na cabeça e a camisa aberta no peito queimado de sol. Mas havia algo de diferente nele — um brilho contido, uma tensão no maxilar, como se o tempo tivesse lhe endurecido mais ainda a alma.
— Sempre foi bom com relógios, Vicente — ela respondeu, forçando um sorriso.
O caminho até a sede da fazenda foi silencioso. Apenas o som dos pneus sobre o cascalho e o uivo do vento entre os pinheiros. O portão da entrada estava enferrujado, mas ainda ostentava as letras em ferro: Estância Valente — Desde 1894.
— A casa continua igual — comentou ela, descendo do c arro e olhando para a fachada de madeira branca.
— E com os mesmos fantasmas — ele respondeu, jogando a mala dela no chão da varanda.
Dentro da casa, o cheiro de bolor e lavanda tomava conta. Dona Elza, a avó, estava sentada em sua poltrona de lã tricotada, os olhos meio perdidos, os dedos entrelaçados no colo. Ao vê-la, abriu um sorriso quase infantil.
— Minha menina... — sussurrou. — Voltou.
Isadora se ajoelhou e abraçou a avó com força, o coração apertado.
— Eu prometo que vou cuidar da senhora — disse, com voz embargada. — Agora é só a gente.
Mas a verdade era outra. A fazenda não pertencia mais só à avó ou ao pai — que estava preso há dois anos por fraude e corrupção. Ela agora era dividida entre sócios silenciosos que seu pai fizera às pressas, tentando salvar o que restava da honra da família. E entre esses sócios, surgiriam os outros dois homens que mudariam a vida de Isadora.
Na manhã seguinte, Isadora saiu cedo para caminhar pelos campos. Vestia jeans, botas de montaria e uma blusa de lã cinza que moldava suas curvas. O ar frio cortava o rosto, mas o sol aquecia devagar. O som dos cavalos ao longe, o mugido do gado e o vento soprando entre os milharais formavam a sinfonia do seu passado.
Foi perto do celeiro que o segundo homem apareceu.
— Cuidado com o arame — disse uma voz firme e educada.
Isadora olhou para o lado e viu um homem alto, de cabelo castanho claro preso em um coque, barba bem feita e óculos escuros. Vestia uma camisa de flanela aberta sobre uma camiseta branca e carregava livros embaixo do braço.
— Você é? — ela perguntou, franzindo o cenho.
— Leandro. Novo administrador da parte agrícola. Vim de Santa Maria. Sou engenheiro agrônomo... e agora sócio da propriedade.
Isadora sentiu a raiva subir. Mais um estranho se metendo na história da sua família?
— Engenheiro com livros na mão e botas limpas... — ela provocou. — Não deve durar muito por aqui.
Ele sorriu de canto, desarmado.
— Gosto de trabalhar com as mãos... mas também com a cabeça. E nem todo gaúcho precisa de barro até os joelhos pra provar que é homem.
A resposta a pegou desprevenida. E, por um instante, ela viu ali algo perigoso: um homem que sabia se defender com palavras, e que não abaixaria a cabeça facilmente.
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Comments
Jessica Carmo
começando 27/05/2025
2025-05-27
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Cris França
começando 24/05/2025!
2025-05-24
2