– As Vozes da Terra
O silêncio de San Belluno tinha peso. Não era o tipo de silêncio que se ouve à noite quando todos dormem, mas o silêncio espesso, denso e quase sufocante de uma ausência mal resolvida. Era o terceiro domingo desde o velório de Isabella. E, na cidade inteira, o nome dela ainda ecoava em forma de suspiro, oração ou lamento.
Gabriel caminhava como quem carrega uma cruz invisível. O corpo forte, de ombros largos e mãos trabalhadas, já não parecia o mesmo. As mangas da camisa estavam sujas de terra, o rosto mais magro, e os olhos... ah, os olhos! Tinham perdido a cor. Era como se a vida tivesse deixado seu corpo junto com o último beijo de Isabella no hospital.
Mas naquela manhã, algo o arrastava para perto da fábrica. Uma força que ele não conseguia explicar, mas que pulsava no chão, como batidas de um coração enterrado vivo. O portão da Ferranti Rocher estava fechado há semanas. Pietro, o pai de Isabella, havia suspendido as atividades desde o acidente. Ninguém entrava, ninguém saía. Mas Gabriel precisava ver o lugar onde ela passava os dias, onde seus olhos brilhavam como criança diante das máquinas moldando chocolate.
Aproximou-se da lateral do casarão antigo e passou por um buraco da cerca. Aquela fábrica, com seus tijolos italianos e vitrais coloridos, guardava mais do que receitas secretas de chocolate: escondia os últimos passos de Isabella, as últimas palavras, e talvez... a verdade.
Gabriel empurrou uma porta lateral e entrou. O cheiro ainda era o mesmo — baunilha, cacau e tristeza. Andou pelos corredores escuros, iluminados apenas por frestas de luz que escapavam pelas janelas quebradas. E então, parou diante da sala de caldeiras.
Ali, uma sensação estranha o invadiu. O ar ficou frio, e uma brisa tocou seu rosto como uma carícia. Seus olhos marejaram. Estava prestes a sair quando escutou. Uma voz. Baixinha. Suave. Familiar.
— Gabriel...
Virou-se em um pulo. Nada. Mas o calor em seu peito indicava o contrário. Ele fechou os olhos e deixou o corpo cair de joelhos. Chorou. Chorou com a alma. E, no meio do choro, viu de novo. Isabella. Em sua mente. Com o mesmo sorriso, com os mesmos olhos.
Na dimensão onde estava, Isabella assistia. Sofria com a dor dele. Tentava tocar, mas não conseguia. As leis espirituais a impediam. Mas sua energia ainda se ligava à dele — um elo construído pelo amor mais verdadeiro que dois seres podiam viver.
Os Sussurros do Além
Na casa grande, Pietro permanecia recluso. Sua barba, antes bem-feita, agora se tornara uma selva grisalha. Ele falava com retratos. Caminhava entre livros antigos. No fundo, ele sabia. Sabia que havia algo mal resolvido. Algo enterrado — literalmente.
Na madrugada da morte de Isabella, Pietro havia recebido uma ligação anônima. Uma voz que o fez gelar até o osso. "O que foi enterrado há vinte e seis anos... ressurgirá com a morte de sua filha."
Essa frase o acompanhava dia e noite.
Ele sabia do que se tratava. Sabia do pacto feito para salvar sua fábrica da falência nos anos 90. Um acordo com um homem misterioso. Um sócio oculto, que havia desaparecido em circunstâncias misteriosas. Pietro pensava que esse passado estava morto e enterrado... literalmente nos porões da Ferranti Rocher.
A Reencarnação: O Elo Secreto
Isabella não era apenas filha de Pietro. Ela era a reencarnação de alguém muito mais importante. Alguém que Pietro havia traído no passado. Uma mulher. Sua antiga noiva. Uma camponesa que Pietro amou antes de casar com a mãe de Isabella. Ela morreu misteriosamente... após descobrir o pacto sujo que Pietro havia feito.
O espírito dessa mulher retornou. Em Isabella. Com uma missão: libertar a linhagem do erro.
Mas Isabella, ainda em espírito, se recusava a aceitar o destino. Não queria ser instrumento de punição. Amava seu pai. E mesmo vendo a escuridão que ele carregava, desejava sua redenção.
O Despertar de Gabriel
Naquela noite, Gabriel teve um sonho. Mas não parecia sonho. Era tão real que acordou com o cheiro de chocolate nos lençóis. No sonho, Isabella caminhava entre os corredores da fábrica. Estava viva, vibrante, vestida de branco. Sorria para ele.
— Gabriel, você precisa ir até o porão. Lá está a resposta.
Ele acordou em um pulo, suado, o coração disparado. E soube: não era apenas um sonho. Era um chamado. Uma direção. Isabella estava tentando ajudá-lo a entender...
No dia seguinte, voltou à fábrica. À noite. Com uma lanterna. Seguiu os mesmos passos do sonho. Chegou à porta do porão. Arrombada. As escadas antigas rangiam sob seus pés. O cheiro era outro ali: mofo, ferrugem e um leve aroma doce... de cacau.
Na parede dos fundos, encontrou marcas de escavação. Alguém havia mexido ali. Cavou com as mãos até encontrar. Uma caixa de madeira. Dentro, documentos antigos. Contratos. Uma escritura. E uma foto: Pietro ao lado de um homem desconhecido... e da camponesa que parecia uma cópia perfeita de Isabella.
O chão girou. Gabriel caiu sentado. Lágrimas escorreram sem controle. Agora, tudo fazia sentido. A morte de Isabella não fora por acaso. Era uma repetição. Um ciclo que precisava ser quebrado.
Mas como?
A Escolha Final
Isabella, no plano espiritual, observava tudo. Um espírito ancião a guiava agora. Um ser de luz, que lhe mostrou que só com o perdão... o ciclo seria encerrado. Para reencarnar, Pietro precisaria morrer — sim. Mas precisava morrer em paz. Purificado.
Gabriel sabia o que tinha que fazer. Foi até Pietro. Entregou a caixa. Disse tudo. Choraram juntos. Pela primeira vez, Pietro confessou tudo. E ao final da confissão, algo mudou.
Naquela mesma noite, Pietro teve um infarto. Morreu diante do altar que havia construído para a esposa falecida. Morreu pedindo perdão.
Será ?
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Atualizado até capítulo 32
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